tag:blogger.com,1999:blog-61792392831770750472024-03-19T01:40:06.783-03:00Crônica LiteráriaCrônicas dominicais sobre livrosPaulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.comBlogger288125tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-84225847105847826342017-04-30T07:38:00.002-03:002017-04-30T07:38:22.066-03:0050. Cem anos de solidão<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3LlTsL5e40KUEQc5bjlzKSC_9d6rV24B-ywvNDxaCyqTptp6CGCH8CcM3iAY_tr5ZiCAy16RzJcXMWvafvBUiufiJ2yhRRfK3Yxd3PJgMO86CS5Di93AOyfmT9Qyp9lJygF77lhb8qurr/s1600/Gabriel_Garcia_Marquez.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3LlTsL5e40KUEQc5bjlzKSC_9d6rV24B-ywvNDxaCyqTptp6CGCH8CcM3iAY_tr5ZiCAy16RzJcXMWvafvBUiufiJ2yhRRfK3Yxd3PJgMO86CS5Di93AOyfmT9Qyp9lJygF77lhb8qurr/s320/Gabriel_Garcia_Marquez.jpg" width="213" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";">Quando
tinha 8 anos de idade, o avô de Gabriel García Márquez levou-o a conhecer o
gelo. Esse acontecimento, que ele relembra em suas memórias de <b>Viver para contar</b>, serviu de ponto
inicial para a sua obra-prima <b>Cem anos
de solidão</b>, quando o coronel Aureliano Buendía, diante do pelotão de
fuzilamento, relembra a tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o
gelo. A obra é um resgate dos fantasmas que povoaram a vida de García Márquez
durante sua infância. Muitas das personagens encontram similitudes na vida real
do autor, como ele conta em <b>O cheiro da
goiaba</b>, outro livro de lembranças do escritor colombiano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";">Publicado
em 1967, embora tivesse escrito antes, foi o ponto de partida para o boom dos
cinco maiores da literatura latino-americana, que ganhou notoriedade mundial:
García Márquez, Vargas Llosa, Carlos Fuentes, José Donoso e Júlio Cortázar.
Posteriormente, outros juntaram-se ao boom: Miguel Ángel Astúrias, Alejo
Carpentier, Juan Rulfo, João Guimarães Rosa, Juan Carlos Onetti, Borges (um
pouco mais isolado). Começa a existir, assim, o sentimento de latino-mericanidade.
As obras desses autores passam a configurar o realismo mágico, que não se deve
confundir com o realismo fantástico. Esse é uma alegoria, enquanto o realismo
mágico resulta de um tipo de consciência mítica do mundo. Os personagens desses
romances, de certa forma, sacralizam o mundo. Seus destinos já estão marcados
desde o nascimento. Esse tipo de característica é pertencente às sociedades
arcaicas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";">Em
<b>Cem anos de solidão</b>, José Arcádio, o
patriarca da clã dos Buendía, tem
predileção por descobertas e pelo esoterismo. Trava conhecimento com o cigano
Melqúiades, que lhe ensina a magia, ao mesmo tempo em que escreve em uma língua
desconhecida os documentos que serão traduzidos por um descendente da família. Na
verdade, é Melquíades que escreve os cem anos de solidão da família Buendía.
José Arcádio acaba morrendo amarrado a uma amendoeira, louco. Aureliano
Buendía, um de seus filhos, é introvertido, apresenta uma imagem taciturna e
frágil. O pouco de felicidade que teve na vida, foi quando se apaixonou por
Remédios, uma criança. Foi preciso que esperasse a menina adolescer para que se
pudesse casar com ela. Ela morre em seguida, quando tenta dar à luz. Depois tem
relação com Pilar Ternera, uma índia que jogava cartas e búzios. Figura
centenária em quase toda a obra. A descendência dos membros da família
apresenta relações incestuosas. Por isso a loucura se manifesta em mulheres
solitárias e secas, como Rebeca, que comia terra, Amaranta, que recusou todos
os pretendentes apesar de amá-los. Úrsula, a matriarca, temia que nascesse
alguém com rabo na família, o que acabou acontecendo com o último dos Buendía,
um Aureliano. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";">O
Coronel Aureliano Buendía teve seus primeiros contatos com as tensões políticas,
com as eleições que aconteceram em
Macondo. É quando aprende a distinguir um liberal de um conservador. Acaba
simpatizando com os liberais. Ser liberal não consistia em ser um ser com
lisuras, Aureliano Buendía praticava a violência com seus inimigos e a
corrupção, pelo poder. Aureliano será um dos que lutam na Guerra dos Mil Dias,
que ocorreu no período de 1896 a 1902, na Colômbia, quando os conservadores
vencem. Há um longo período de ditadura, onde os liberais são perseguidos. Na
vida de García Márquez, seu avô simpatizava com os liberais, mas seu pai era
político conservador. Por isso não há defesas de um regime ou de outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";">Aureliano
morre numa tarde solitária de outubro, passando a ser uma lenda viva para todos
de Macondo e arredores. Morreu velho, triste, taciturno e ensimesmado,
exatamente como fora na juventude. O ciclo do Coronel Buendía é um ciclo de
solidão, que acaba dando nome ao livro. Os 17 filhos que teve com 17 mulheres
diferentes, todos Aurelianos e Arcádios alguma coisa, todos assassinados, todos
com um ar de solidão que não permitia pôr em dúvida o parentescos com o coronel
Aureliano Buendía.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Microsoft JhengHei";">É
um livro riquíssimo, com várias histórias que se cruzam e se mesclam formando o
todo do universo de <b>Cem anos de solidão</b></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Tradução de Eric Nepomuceno</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">==================<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Gabriel García Márquez. <b>Cem anos de
solidão</b>. 46ª ed, Record, 2009, 448 pp. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-22121472299299501252017-04-23T07:29:00.000-03:002017-04-23T07:29:01.821-03:0049. Rayuela – o jogo da amarelinha<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhw7ovxWu3Bw5BEqlsiiAvCB0o8gpP0DJLX-FmanDtmzRvBMkV2aQ-u3pAo-ajWXJYKJ9zbynVP3IAac8nopD1WDvArc20Lg9Cnhpyyany9niiNcBDDv_2JgiC_hXUnv8-fCQEgC_xXiDWe/s1600/250px-Cort%25C3%25A1zar.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhw7ovxWu3Bw5BEqlsiiAvCB0o8gpP0DJLX-FmanDtmzRvBMkV2aQ-u3pAo-ajWXJYKJ9zbynVP3IAac8nopD1WDvArc20Lg9Cnhpyyany9niiNcBDDv_2JgiC_hXUnv8-fCQEgC_xXiDWe/s320/250px-Cort%25C3%25A1zar.jpg" width="238" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">O Jogo da Amarelinha</span></b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"> não tem cronologia, não tem enredo convencional, nem
suspense. É uma espécie de antirromance. A história, de forma ambígua, faz o
leitor mergulhar no livro intuitivamente, para enxergar o que seja a realidade.
O argumento é aparentemente simples: o argentino Horácio Oliveira busca
incessantemente a Maga, uruguaia, mãe de um menino, que ele conhecera em Paris,
enquanto estava lá exilado. Após a morte do menino, a Maga desaparece e
Oliveira a busca pela cidade parisiense e depois em Buenos Aires, quando entra
em contato com Traveler, administrador de circo, e Talita, sua mulher. À medida
que esse relacionamento avança, Oliveira vai confundindo em sua mente a
presença de Talita com a de Maga. Os três decidem trocar de negócio, comprando
um hospício, onde Oliveira, no final da história, acaba internado como maníaco. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">Quando
Oliveira inicia a busca pela mulher, sobre uma ponte em Paris, o leitor já fica
sabendo que a busca do personagem será uma busca perdida, posto que a primeira
frase do romance é a fala de Oliveira, dizendo com o verbo no futuro do
pretérito: "Encontraria a Maga? Mas Oliveira tenta, em vão, recuperá-la
pela narrativa numa divagação frustrada pelas pontes e ruas de Paris, depois no
trabalho com o circo, em Buenos Aires.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">O
livro é dividido em três partes: "Do lado de lá", ambientada em
Paris;" Do lado de cá", em Buenos Aires; e "De outros lados",
com capítulos prescindíveis, que se tornarão imprescindíveis, de acordo com a
escolha do leitor. São no mínimo dois romances dentro de um. Cortázar convida o
leitor a escolher uma das duas possibilidade que o livro oferece: o primeiro
livro seria lido em sequência, até o capítulo 56, quando termina a história. O
segundo livro começaria a ser lido a partir do capítulo 73 e seguindo logo na
ordem que é indicada ao final de cada
capítulo. Essa segunda possibilidade tem a ver com o jogo da amarelinha. O
leitor avança, retrocede, avança novamente e assim sucessivamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">Cortázar pensa a obra de arte como uma condensação de significados. A proposta do autor,
sugerindo ao leitor começar o livro no capítulo 73, parte da destruição radical
de sua estrutura, para inovar na experimentação da linguagem, pois o romance é
projetado em sua própria construção. Ao propor a leitura aos saltos, um jogo, o
autor acrescenta desdobramentos ou
comentários poéticos sobre o romance que se vai construindo, com a participação
do leitor, pois é este que vai consumar a obra, gestando-a à medida em que a lê.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">Há
um personagem enigmático que aparece na leitura aos saltos: Morelli, que faz
parte das conversas dos intelectuais integrantes do Grupo da Serpente de Paris,
que se reuniam periodicamente para discutir as coisas da vida. Morelli é um
escritor que não escreve, uma espécie de filósofo idealista, ou então, alguém
que escreve um romance em eterna gestação. Morelli é mencionado na
possibilidade de leitura sequencial como um velho escritor que morre
atropelado, sem que lhe mencione o nome.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">Tradução de Fernando de Castro Ferro</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">=====================================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">Julio
Cortázar. <b>O jogo da amarelinhas</b>. 22ª
Ed. Civlização Brasileira, 2014, 640p.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-60026772061900683382017-04-16T00:05:00.000-03:002017-04-16T00:05:32.674-03:0048. A paixão segundo G. H.<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhENCxI0IvguHYfV7WzPGwZg2Cg3oclW6yWoxRnOr3rKlTLU_7d3CMLhDv80t0hx9XU7UGFHUJG8pWRZA0GsivP9O5BCTmExU3mkpB3v2_r4Z5gBkWrCGTtC2ROeePzVfNZU1f3EKX5WrOH/s1600/20101102110004%2521Clarice_Lispector.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhENCxI0IvguHYfV7WzPGwZg2Cg3oclW6yWoxRnOr3rKlTLU_7d3CMLhDv80t0hx9XU7UGFHUJG8pWRZA0GsivP9O5BCTmExU3mkpB3v2_r4Z5gBkWrCGTtC2ROeePzVfNZU1f3EKX5WrOH/s320/20101102110004%2521Clarice_Lispector.jpg" width="257" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">A escrita é um ato de solidão. Ninguém
pode fazer nada a ninguém, a não ser o escritor a si mesmo. A escrita literária
é pura abstração poética. Uma das funções da linguagem poética é mostrar as
coisas que não acontecem no convívio social. GH não tem memória empírica, é
pura abstração. Está no quarto de empregada e logo mais num minarete no
deserto. GH sonha em se objetivar, mas é medrosa: “Ontem, no entanto, perdi
durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei
continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não
entendo – quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo,
não sei me entregar à desorientação.” (p.8) Mesmo assim insiste, quer </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">escrever sobre o que não tem controle, quer compartilhar
sua individualidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">A paixão segundo GH não é um mergulho na
loucura nem no inconsciente por si só. Sua luta deve ser a busca com o mundo.
Está tentando dar uma forma à sua desorientação. GH quer a objetividade: “Será
preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me arriscar à enorme
surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que
acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do
ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por
medo?” (p.16) <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Ela precisa dizer, mas não sabe como. Ao entrar no quarto da empregada que se fora,
para arrumá-lo, depara-se com uma barata no guarda-roupa. Num impulso prensa o
inseto na porta do móvel. Pronto! Deu-se o fluxo do inconsciente. Esse é o
ponto de partida para a narrativa introspectiva. A personagem, perdida no
exercício da memória, esforça-se para reorganizar o seu discurso, solicitando a
atenção do leitor como a mão que a apoiará nessa tentativa de reorganização
caótica da memória. No romance quase não há ação externa. Ficamos sabendo que mora
sozinha, é independente financeiramente, é escultora, fez um aborto e amou um
homem, mas esses acontecimentos externos não são desenvolvidos, não adquirirem
importância na obra. O que vale é seu labirinto interior. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">A
paixão segundo GH</span></b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">
é um romance metafísico. Trata-se de um monólogo centrado na experiência da
linguagem. O eu e a coisa. GH e a barata (que inicialmente é nojenta). O
romance é uma narrativa poética, como já se disse. GH efetua uma busca
existencial, própria da poesia. O tempo interior é o que predomina, com suas
angústias e seus gestos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="border-bottom: double windowtext 2.25pt; border: none; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: double windowtext 2.25pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: double windowtext 2.25pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">“Viver não é
coragem, saber que se vive é a coragem.” (p.20)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: double windowtext 2.25pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Clarice Lispector<b>. A paixão segundo GH</b>. 6ª ed., Nova Fronteira, 1979, 176 pp<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-66777254199449053032017-04-09T09:28:00.000-03:002017-04-09T09:28:21.148-03:0047. O Gattopardo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh89-XPTIpLjT5PdRhCb0GFPNC_fdwa3TxbPshuz3w13bPscm76phyYG8XVi1TLDXux8Uf9JaT1b3Op_aEN1a0lAt8PAtHyhBOAdIshwJWukmppzmN4PJKmjAtmV8CBj5hzYUhL5GRdFzUo/s1600/Tomasi_di_Lampedusa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh89-XPTIpLjT5PdRhCb0GFPNC_fdwa3TxbPshuz3w13bPscm76phyYG8XVi1TLDXux8Uf9JaT1b3Op_aEN1a0lAt8PAtHyhBOAdIshwJWukmppzmN4PJKmjAtmV8CBj5hzYUhL5GRdFzUo/s320/Tomasi_di_Lampedusa.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">A
Sicília é o pano de fundo para o grande romance <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Gattopardo</b>,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>obra póstuma
de um escritor desconhecido dos grandes meios literário, Tomaso di Lampedusa
(1896/1957), que morreu antes da obra ser publicada. Oriundo da classe aristocrática,
Lampedusa narra o declínio e a decadência de uma família nobre e do feudalismo
siciliano, numa atmosfera pitoresca e grandiosa.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">A
história começa em 1860, na guerra em que Garibaldi une as duas Sicílias,
propiciando o surgimento e enriquecimento da classe burguesa, formando uma nova
Itália. Em seu palacete na vila de Salina, em Palermo, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>acompanha os fatos com certa apreensão, por
estar totalmente envolto nas tradições e hierarquias. Por isso, vivia
eternamente descontente, contemplando o ruir de sua casta e do seu patrimônio
sem nada fazer e sem nenhum desejo de remediar o desastre que se vislumbrava no
ambiente político da Itália. Em vez disso, pensava na linda família que tivera.
Tinha sete filhos, um deles, o mais amado, estava ausente há dois anos. Um dia
sumira de casa e nada se soube dele durante dois meses. Até que chegara uma
carta de Londres, em que se desculpava pelos transtornos causados, afirmando
preferir a vida modesta de funcionário de uma empresa de carvão à existência
excessivamente protegida nos confortos de Palermo. O príncipe tinha a esposa
com crises de histerismo, excessivamente pudica - nunca lhe vira o corpo
desnudo<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">Próximo
à propriedade dos Salina, havia uma vila semidestruída, pertencente a Tancredi,
seu sobrinho e pupilo. Seu pai perdulário dilapidara toda a fortuna, morrendo
em seguida, quando Tancredi tinha 14 anos. O rapaz, inicialmente quase um
desconhecido, tornara-se muito querido do Príncipe, que percebia nele um
entusiasmo briguento. Agora, aos vinte anos, Tancredi entregava-se ao ócio e
aos prazeres com o dinheiro que o tutor não lhe negava, mesmo tendo de tirá-lo
do próprio bolso. O sobrinho <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>acaba
simpatizando com a causa de Garibaldi, lutando a seu lado. Isso desagradou o
príncipe, que no entanto não deixou de amá-lo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">A
situação política na região estava muito tensa, temia-se a invasão de
piemonteses próximo a vila Salina e as autoridades haviam detectado na
população uma efervescência silenciosa, a escória da cidade esperava o primeiro
sinal de enfraquecimento do poder para lançar-se ao saque e ao estupro. Mas o
príncipe preferia não pensar nesses acontecimentos. Mantendo a calma, pediu
permissão a Giuseppe Garibaldi para viajar à região de Ragusa, na vila de
Donnafugata, onde tinha outro palácio, igualmente suntuoso.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">Lá
chegando, trata de dar uma festa solene para saudar a nobreza do lugar.
Lampedusa descreve em detalhes primorosos a preparação do banquete, desde a
arrumação da mesa, o lustro das louças e a decoração da sala, deixando no
leitor imagens completas do ambiente. O momento da entrada de Angélica, filha
de Don Calógero, um aristocrata arruinado, é outro momento brilhante da
narrativa.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">Tancredi
toma-se de amores por Angélica e os dois acabam casando, para desgosto de Concetta,
filha do Príncipe, apaixonada pelo jovem. Há uma série de acontecimentos
importantes, até<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o príncipe voltar a
Palermo, quando a cidade vivia de relativa calma e os bailes pela cidade se
multipicavam. O Príncipe comparece a um desses bailes, na companhia de Tancredi.
Em certo momento, sofre um mal súbito e é retirado do baile pelo sobrinho que
busca levá-lo a um hospital, mas param num hotel decadente para que Don
Fabrício pudesse descansar um pouco. O príncipe piora e acaba morrendo pouco
depois.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">Nos
sete primeiro capítulos, os acontecimentos se dão em curto espaço de tempo, no
mesmo ano, 1860. No oitavo e último capítulo, há um salto de 50 anos após a
morte do Príncipe. Estamos em 1910 na residência da família, onde as três
filhas remanescentes e solteiras, Concetta, Catarina e Caterina, recebe a
visita de Angélica, já viúva, para confortar as três irmãs profundamente
ofendidas pela inspeção da sua capela<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>por um membro da Igreja, que considerou relíquias que elas tanto amavam,
como objetos descartáveis para ornamentar o local. Quando ficam a sós, Concetta
retira-se para seu quarto, amargurada pelo amor não correspondido de Tancredi.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">Tradução
de Marina Colasanti<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">==========================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 1em;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16pt;">Giuseppe
Tomasi di Lampedusa. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Gattopoardo</b>.
2ª ed., Rio, Record, 2006, 306 pp.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-51202300199599538542017-04-02T07:54:00.002-03:002017-04-02T07:54:51.131-03:0046. O Quarteto de Alexandria<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8Xn-awl9oVl6aYhqM20-Si4YcB0LNauEcIXhB2g35OUYzTFxq3HH_rF7A3z4-A2Vm1mPSNN_u-cxmj-2_crZOrox9B2zJInoZNrJUInv7QC9m-_egGBakc3BNnMt83Alf1eSafpzsb2Yw/s1600/durrell.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8Xn-awl9oVl6aYhqM20-Si4YcB0LNauEcIXhB2g35OUYzTFxq3HH_rF7A3z4-A2Vm1mPSNN_u-cxmj-2_crZOrox9B2zJInoZNrJUInv7QC9m-_egGBakc3BNnMt83Alf1eSafpzsb2Yw/s320/durrell.jpg" width="218" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">O Quarteto de
Alexandria</span></b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;">
é a história da vida e amores de um jovem britânico, Darley, que vive no Egito antes
e durante a Segunda Guerra Mundial. Darley tem casos de amor com três mulheres:
Justine, Melissa e Clea. Lawrence Durrell (1912/1990) acreditava na ideia de que
experimentando as variedades de amor, se poderia ascender do contato físico cru
para formas superiores de conexão espiritual. Assim, cada uma das principais
personagens incorpora um ou mais aspectos do amor ocidental. Justine representa
o poder da paixão sexual, Melissa, afeto de caridade,e Clea, a alma gêmea de Darley. Mas, o que se
percebe no desenrolar dos quatro romances, é que o amor está falido, os personagens procuram, mas não
conseguem encontrar relações apaixonadas. Embora centrada nas relações humanas,
há um foco paralelo, menos intenso, centrado nas relações políticas da região,
ocupada pela Inglaterra, com o Egito e outros países árabes buscando sua
independência.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Justine<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">No
início de sua vida em Alexandria, Darley conhece Melissa dançando em um cabaré.
Passam a viver juntos numa pobreza profunda, pois sua renda exígua como
escritor não permitia nem mesmo frequentar o cabaré onde Melissa trabalhava.
Com o tempo, conhece Nessim, rico empresário, e através dele começa a transitar
com alguma desenvoltura pela imensa teia da sociedade alexandrina como
convidado. Ficaram amigos rapidamente e passou a acompanhá-lo nos mais diversos
lugares. Desde então, conhece a esposa de Nessim, Justine, por quem se apaixona
profundamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Com
o desenrolar da história, ficamos sabendo que Justine fora violada na
adolescência, tivera uma filha que se encontra desaparecida, estivera casada
com um velho rico, de quem se separou logo em seguida. Depois, casou-se com Nessim, também mais velho que ela. Darley
torna-se amante de Justine. O incômodo desse relacionamento, é que quanto mais
ele tentava amá-la e compreendê-la, mais distante ela se tornava dele. Ele
descobre que Justine tinha outros amantes, inclusive um relacionamento rápido
com Cléa, uma pintora aristocrática. Um dia Justine desaparece da vida de
todos. Mais tarde, Clea conta que, numa viagem que fizera a Síria, parara em
Israel e encontrara Justine, trabalhando num kibutz. Paralelamente, Melissa
conta a Nessim, que Justine mantinha um caso com Darley. Esperançoso de que a
mulher um dia voltasse a ele, pede a ela que mantenha esse fato em segredo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Melissa
acaba doente e morre, deixando uma filha pequena que tivera com Nessim. A
história termina onde começa, com o narrador chegando a Alexandria para o
enterro de Melissa, passando a adotar a menina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Baltazar<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Publicado em 1958, representa uma mudança de ângulo, em relação a Justine,
divulgando novas informações que mudam a história do caso de amor do narrador
com Justine. Este segundo volume, apresenta a história vivida por eles sob o
ponto de vista de Balthazar, personagem
discreto no volume anterior. Era em sua casa que a intelectualidade de
Alexandria costumava se encontrar de vez em quando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">A
novela começa como no romance anterior. Darley encontra-se isolado numa ilha
grega com a filha de Melissa, buscando colocar em texto o que Justine, Melissa e Clea representam
para ele. Enquanto terminava o livro, não mais enxergava suas amantes e seus
amigos como pessoas vivas, mas como imagens coloridas de sua mente, habitando
seu manuscrito. No entanto, quando escreveu seu esboço, não dispunha de todos
os fatos, deduzindo, muitas vezes, através de suposições. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">De
repente, recebe uma carta de Balthazar, afirmando que tem um manuscrito com
verdades reveladoras a respeito de todos. Até então, Darley encontrava-se
mergulhado nas revelações dos diários de Justine, revelados pelo seu primeiro
marido. Assim, avisa ao escritor que lhe enviará seu manuscrito sobre os acontecimentos
que o cercaram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Darley
recebe os manuscritos diretamente de Balthazar, repleto de observações
manuscritas nas margens do texto. Após a curta conversa que tiveram, Balthazar
parte com o amante, deixando-lhe um grande problema: como encontrar uma maneira
de introduzir esse material novo e perturbador sob a pele do antigo, sem
modificar ou destruir os contornos que dera a seus personagens. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Nas
observações de Balthazar, Justine saíra do nada, forçando-se a trabalhar por um
tempo como modelo para os estudantes de um ateliê, ganhando uns cobres por hora.
Clea, certo dia, passou pela galeria e
ficou impressionada pela beleza sombria
e alexandrina de seu rosto e contratou-a para um retrato. Logo depois, deu um
golpe astuto, casando-se com Arnauti, um estrangeiro, apenas para ganhar o
desprezo da sociedade ao permitir que ele a abandonasse. O dois tiveram uma
menina, a quem não davam bola. Certo dia, ela e o marido estavam com a filha
junto a um lago, quando a menina desapareceu, sendo encontrada depois afogada.
O fato marcara profundamente a vida dos dois, Justine justificava aos demais
que a filha havia sido sequestrada. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Justine e Arnauti separam-se e logo em
seguida Nessim, que já era apaixonado por ela, busca aproximar-se para casarem
e viverem juntos. Ele não se importa que ela não o ame, partindo para visitar a
família e comunicar à mãe, Leda, o desejo de casar-se com Justine. A mãe era
uma mulher fútil, amante de um diplomata mais jovem, </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Mountolive, que irá
protagonizar o terceiro volume da tetralogia. Leda, apesar da ressalva a
Justine pelo fato dela ser judia, concorda com o casamento. Nessim tinha um
irmão que administrava os bens da família no interior, Nahriz, um homem
complexado por ter o lábio leporino. Nariz apaixona-se por Clea. Buscando saber mais informações sobre o
paradeiro da filha de Justine, Nariz procura uma espécie de feiticeiro árabe,
que tem uma visão de que a filha de Justine encontrava-se com ela e o marido em
um lago e a menina desaparecera nas águas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Mountolive<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Publicado
em 1958, é o terceiro volume da série. Nele,
Lawrence Durrell apresenta os fatos de Justine e Balthazar através de uma
perspectiva nova, com um narrador em terceira pessoa, que conta a vida do
embaixador britânico Mountolive, que esteve por duas vezes no Egito,
especialmente em Alexandria. O romance apresenta certo clima de romance
policial, onde há complôs, traições e mortes, além de um impasse diplomático,
envolvendo o Reino Unido, o Egito e a Palestina. Não nos esqueçamos que a trama
dos quatro romances ocorrem antes da Segunda Guerra Mundial, quando o Estado de
Israel ainda não havia sido demarcado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Mountolive
esteve pela primeira vez no Egito com a intenção de estudar melhor a língua
árabe, já que poderia ser útil pela embaixada britânica futuramente ali. Quando
chega, entra em contato com a família Hosnani,
coptas (egípcios cristãos), donos de grandes posses. Convidado pelo pai
de Nessim a permanecer aquele tempo em uma de suas propriedades, para manter o
contato com a língua mais estreito, Mountolive aceita e acaba sendo amante de
Neila, mulher do patriarca, este paralítico. O embaixador fica sabendo que o
casamento dela com o marido, bem mais velho, fora arranjado, para unir a
fortuna das duas famílias. Através de conversas com Nessim, toma conhecimento
de que os coptas encontravam-se oprimidos pela soberania dos muçulmanos no
país, sublimando sua cultura cristã.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Mountolive
retorna à Inglaterra e depois de prestar serviço em outro país, é nomeado
embaixador no Cairo. Em seguida, recebe o relatório de um tal de Maskelyne,
membro da embaixada britânica, denunciando uma conjuração copta contra o
governo egípcio, comandada por Nessin Hosnani. Em conversa entre os dois, sobre
o relatório, toma conhecimento de que os Hosnani não eram muito confiáveis.
Nessin estaria contrabandeando armas para a Palestina, para prover Israel de um
futuro levante. Para isso casara-se com a judia Justine, com o fim de trabalhar
melhor o complô e manter contato mais direto com Israel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Através
de Mountolive, ficamos sabendo que Nessim estava sendo monitorado, em relação
ao complô contra os árabes. Também sabemos que Marley foi usado por Justine e
Nessim para controlar Melissa, amante de Marley e que tivera um caso com alguém
que conhecia as tramoias sobre a insurreição copta. Naruz, irmão de Nessim,
ameaça os planos do irmão, incitando os coptas do campo a formarem um exército
para tirar do poder os egípcios muçulmanos. Isso soou como uma ameaça aos
planos do grupo e Naruz acaba sendo morto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Clea<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Darley,
novamente o narrador do quarto romance, recebe o convite de Nessim e Justine
para voltar a Alexandria, para que o casal possa ver a menina. A Segunda Guerra
já se iniciara. Ao desembarcar no porto, é recebido por soldados britânicos que
lhe dão ordem de se encaminhar à embaixada. Como o escritor deixara partes de
seus pertences lá, não se opõe à ordem. Ainda no porto, é recebido por um
Nessim diferente, havia perdido um olho e um dos dedos da mão e vestia um
uniforme. O egípcio o convida para irem ao solar, onde se encontra Justine.
Durante o jantar, sente uma atmosfera pesada, onde é possível sentir o ódio
entre Nessim e Justine. Fica, então, sabendo que Nessim vivia em liberdade
vigiada, desde que sua conspiração fracassara, e Justine vivia presa no Solar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Quando
Justine e Darley ficam a sós, ela lhe questiona como pode ele perdoar a traição
dela, sem guardar rancor. Enquanto ela fala, ele fica pensando que sua Justine
havia sido realmente a criação de um ilusionista, sustentada por uma estrutura
defeituosa composta de palavras, ações e gestos mal interpretados. O verdadeiro
responsável pelo que acontecera entre os dois, era seu amor, que inventara uma
imagem da qual se alimentou. O perfume inebriante que ele sentira nela, agora
era insuportável. A imagem outrora magnífica de seu amor se esvaíra.
Tornara-se, enfim, uma mulher asquerosa e gasta, como se um portão de ferro se
fechasse entre eles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Justine
lhe conta que quando o plano deles sobre a Palestina ruiu, os judeus o acusaram
de traição com os ingleses, e em seguida
ele se dirige à embaixada britânica e recebe, contrariado, a notícia de que o
embaixador Mountolive o havia nomeado para trabalhar no departamento de censura
da embaixada. Depois, encontra Clea e tornam-se amantes. Através dela, o
escritor reencontra Balthazar, velho e amargurado pela velhice e a solidão numa
Alexandria, envolta numa atmosfera de apreensão e nostalgia, sofrendo as
consequência da Segunda Guerra Mundial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Clea
reúne as peças que faltavam ao quebra-cabeça, possibilitando compreender a
totalidade da narrativa. O romance se
constitui no desfecho da tetralogia de Lawrence Durrell. Se nos três romances
anteriores, a mesma história é vista de três pontos de vista diferentes, em <b>Clea</b> temos a continuação, pelo avanço
do tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">============================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt;">Lawrence
Durrell. <b>O Quarteto de Alexandria</b>. 4
volumes. Rio, Ediouro, 2006. Tradução de Daniel Pellizzari<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-84677554728190220842017-03-26T08:12:00.001-03:002017-03-26T08:12:15.499-03:0045. Grande sertão: veredas<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEaqikn6e_UIUI2Kz10YnHfU4rgA3JjbnRGhbZB0EMYlr_91aVx_xnMUyao89NIYQBLi2ISph6ij7v_eNswPmjYWasZRKlk3YsPcvcVqC27S5_PEIoxeX33Nfh3BN-M0FhBmf6sCTuCpPO/s1600/guimaraes-rosa+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="293" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEaqikn6e_UIUI2Kz10YnHfU4rgA3JjbnRGhbZB0EMYlr_91aVx_xnMUyao89NIYQBLi2ISph6ij7v_eNswPmjYWasZRKlk3YsPcvcVqC27S5_PEIoxeX33Nfh3BN-M0FhBmf6sCTuCpPO/s320/guimaraes-rosa+%25282%2529.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Riobaldo,
fazendeiro mineiro, conta sua vida de jagunço a um ouvinte não identificado.
Trata-se de um monólogo onde a fala do outro interlocutor é apenas sugerida.
São histórias de disputas, vinganças, longas viagens, amores e mortes vistas e
vividas pelo ex jagunço nos vários anos em que este andou por Minas, Goiás e
sul da Bahia. Toda a narração é intercalada por vários momentos de reflexão
sobre as coisas e os acontecimentos do sertão.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
assunto parece sempre girar na existência ou inexistência do diabo, já que
Riobaldo parece ter vendido sua alma numa certa ocasião. Ele era um dos
jagunços que percorriam o sertão abrindo o caminho à bala. Entre seus
companheiros, havia um que muito lhe agradava: Reinaldo, ou Diadorim. Conhecera-o
quando menino e mantinha com ele uma relação que muitas vezes passava de uma
simples amizade. O jagunço, que admirava e cultivava um terno laço com
Diadorim, perturbava-se com toda aquela relação, mas a alimentava com uma
pureza que ia contra toda a rudeza do sertão, beirando inclusive o amor e os
ciúmes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Nas
longas tramas e aventuras dos jagunços, conhece um dos seus heróis: o chefe
Joca Ramiro, verdadeiro mito entre aqueles homens, que logo começa a mostrar
certa confiança por ele. Isso dura pouco tempo, já que Riobaldo logo perde seu
líder, pois Joca Ramiro acabou sendo traído e assassinado por um dos seus
companheiros chamado Hermógenes. Riobaldo jura vingança e persegue Hermógenes e
seus homens por toda aquela árida região. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
medo da morte e uma curiosidade sobre a existência ou não do diabo toma cada
vez mais conta da alma de Riobaldo, evidencia-se um pacto entre o jagunço e o
príncipe das trevas, apesar de não explícito. Acontecido ou não o tal pacto, o
fato é que Riobaldo começa a mudar à medida que o combate final contra
Hermógenes se aproxima. E a crescente raiva do jagunço só é contida por uma
relação mais estreita com Diadorim, que já mostra marcas de amor completo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Segue-se,
então, o encontro com Hermógenes e seus homens, e a vingança é enfim saboreada
por Riobaldo. Vingança, aliás, que se tornou amarga, já que Hermógenes mata,
durante o combate, o grande amigo Diadorim... A obra reserva, nas últimas
páginas, uma surpreendente revelação: na hora de lavar o corpo de Diadorim,
Riobaldo percebe que o velho amigo de aventuras que sempre lhe cativou de uma
forma especial era, na verdade, uma mulher.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Após
o sepultamento dos mortos, Riobaldo, cansado e doente, abandona definitivamente
a jagunçagem, quase morrendo de doença. Quando sara, reencontra Otacília, com
quem já pretendia casar, quando estava no bando. Descobre, ainda, que Selorico
Mendes,seu padrinho, fora na verdade seu pai, de quem herda a fazenda onde o
herói reside na velhice presente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Assim
a história chega ao fim, com Riobaldo e o interlocutor no ponto de partida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">===================================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">João
Guimarães Rosa. <b>Grande sertão: veredas</b>.
10ª ed., Rio, José Olympio, 1976, 462 pp.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-9803950519625984322017-03-19T07:19:00.000-03:002017-03-19T07:20:26.374-03:0044. Pedro Páramo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwR-eDmoHaJz-hJFVxGUxd6Bd50brMBBI1GHQBXk9OVKKgwsjtYUWikx68hcCJSXY3kOIF-MVC5ylEljNkOg1Vvcvx3n9QuUuLFZ_YjyuUiCC_6SxMrvtFYszaEW-6toK9E5Yc5aMBFGu1/s1600/Rulfo1+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwR-eDmoHaJz-hJFVxGUxd6Bd50brMBBI1GHQBXk9OVKKgwsjtYUWikx68hcCJSXY3kOIF-MVC5ylEljNkOg1Vvcvx3n9QuUuLFZ_YjyuUiCC_6SxMrvtFYszaEW-6toK9E5Yc5aMBFGu1/s320/Rulfo1+%25282%2529.jpg" width="215" /></a><span class="hps"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Juan</span></span><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"> <span class="hps">Rulfo</span> <span class="hps">(1918 -
1986), romancista</span> <span class="hps">e contista</span> <span class="hps">nascido</span>
<span class="hps">no México,</span> c<span class="hps">omeçou a trabalhar em</span>
<span class="hps">dois capítulos de </span><b>Pedro
Páramo</b> (1955), <span class="hps">publicados em revistas</span> <span class="hps">literárias. Mais tarde, com auxílio de uma bolsa, pôde concluir a
obra, que ganhou dimensões internacionais, tendo sido traduzida em vários
idiomas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><span class="hps">O
filho de</span> <span class="hps">Pedro</span> <span class="hps">Páramo,</span> <span class="hps">Juan</span> <span class="hps">Preciado,</span> <span class="hps">vai</span>
a <span class="hps">Comala</span> <span class="hps">para encontrar</span> <span class="hps">seu pai. No entanto, essa jornada tem sua essência</span> <span class="hps">na busca de identidade</span>. C<span class="hps">omala</span> <span class="hps">é um</span> <span class="hps">lugar</span> <span class="hps">desabitado</span>,
cheio de <span class="hps">fantasmas,</span> <span class="hps">almas perdidas</span>
<span class="hps">daqueles</span> <span class="hps">que lá viviam. Através de
conversas com</span> <span class="hps">essas almas perdidas, Juan Preciado
percebe estar vivendo, com eles, </span>o coletivo <span class="hps">passado</span>
de <span class="hps">Comala</span> <span class="hps">e da história de</span> <span class="hps">Pedro</span> <span class="hps">Páramo,</span> <span class="hps">o cacique
que fora tão</span> <span class="hps">importante para seu povo. O leitor vai
perceber, através da trama meio enredada (mas inteligível), que Juan Preciado
conversa com Dorotea, a mulher que lhe conta toda a história de Comala e de seu
povo, numa situação “real maravilhosa” que não posso contar, para não estragar
um ponto que é uma das muitas qualidades da escritura. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="hps"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="hps"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">A novela de Juan
Rulfo tem um estilo surrealista, cuja estética influenciou o real maravilhoso,
característica que predominou na literatura latino-americana a partir da década
de 40/50. O resultado é</span></span><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"> <span class="hps">uma
obra de</span> <span class="hps">grande</span> <span class="hps">perfeição técnica</span>,
que contou com <span class="hps">várias versões</span> <span class="hps">e títulos</span>
<span class="hps">anteriores</span> <span class="hps">para chegar à final</span>. <span class="hps">Graças a</span> <span class="hps">este desenvolvimento</span>, a novela
<span class="hps">tem a particularidade</span> <span class="hps">e a singularidade</span>
<span class="hps">dos</span> <span class="hps">personagens fortes</span>, n<span class="hps">um ambiente</span> <span class="hps">fascinante. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="hps"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="hps"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">A estrutura da
narrativa apresenta uma sequência em ordem cronológica contada em primeira pessoa, por Juan
Preciado. Há outra sequencia mostrada em terceira pessoa, narrando acontecimentos relacionados a seu pai, Pedro
Páramo, em certa desordem cronológica. Há, ainda uma terceira sequência, que
mistura as duas anteriores. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="hps"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="hps"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Juan Rulfo não
descuida do contexto histórico e social, fazendo referência à Revolução
Mexicana de 1910, num México rural, em que Pedro Páramo é um cacique de um povo
tiranizado pelo poder capitalista que se instalou no país a partir do século
XX.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Tradução
de Eric Nepomuceno<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">====================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Juan
Rulfo. <b>Pedro Páramo</b>. Bestbolso,
2009, 134 pp R$ 12,90 <o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-75827746792383044262017-03-12T10:29:00.000-03:002017-03-12T10:29:25.712-03:0043. O Continente - volume 1<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuuri7SuAEyMjHYfsWDwxdKYFWXML37LHnz_VWVfFTWHbAem1YqKnZXnMnyJV_Y6-PKOqOg6fFLXRmYdIr628zRQeH3L6_pzCJ7UbI7xIa9jT0XfQuNrzUUni5swncAC_0QCR84KKW0wDM/s1600/ocontinente_arvore.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-lgWMD2evDUmN59tPD40Tr1IupSJjhBL0z9z1WTzDBoVqhKyHURo8Xz1QvXZbEH_Feayc6TMZZLYDNb3TeDRJGlY6TsNOlWI1gJW6B5fIi0b-qmpMwdqNJHSUS24dbPzbhTWL4n6_kmnz/s1600/52449d3accfdf.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-lgWMD2evDUmN59tPD40Tr1IupSJjhBL0z9z1WTzDBoVqhKyHURo8Xz1QvXZbEH_Feayc6TMZZLYDNb3TeDRJGlY6TsNOlWI1gJW6B5fIi0b-qmpMwdqNJHSUS24dbPzbhTWL4n6_kmnz/s320/52449d3accfdf.jpg" width="208" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: left;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"> </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: left;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: left;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">O </span></b><b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Continente</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;"> compreende dois
volumes iniciais da trilogia <b>O Tempo e o
Vento</b>, do escritor gaúcho Erico
Veríssimo (1905/1975). O primeiro volume, que nos interessa aqui, narra o final
da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul (1893/1895) e as origens da
família Terra Cambará até o momento do conflito. Os liberais apoiadores de
Júlio de Castilhos venceram os federalistas de Gaspar Martins e Gumercindo
Saraiva, mas em Santa Fé, o universo literário da narrativa épica de Erico
Veríssimo, os federalistas só consideram acabada a guerra quando o neto de Bibiana,
Licurgo Cambará, dono do sobrado, entregar suas armas. A trama é narrada em
contraponto com o início e progressão da povoação do Rio Grande do Sul, na
região das Missões, quando o território gaúcho era disputado entre portugueses
e espanhóis. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Quando
começa <b>O Continente</b>, o ano é 1895 e
a família Terra Cambará está acossada no casarão. Alice espera um filho e passa
mal. Todos precisam de água que está no poço no centro da praça, vigiada por
pistoleiros dos dois lados. Há um corte no tempo, e o leitor é situado nas
Missões Guaraníticas de Santo Ângelo e arredores, então pertencentes à Espanha.
Os personagens centrais são Padre Alonzo, que tem um segredo em sua vida
pessoal e carrega consigo um punhal. Ele se encarrega da catequização do menino
índio Pedro. O padre dá-lhe o punhal de prata, símbolo importante em toda a
narrativa, pois atravessará o tempo nas mãos de determinados membros da família
Terra Cambará.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Pedro
Missioneiro nasce nas Missões Jesuíticas, filho de uma índia estuprada por
algum bandeirante. Revela a capacidade de ter visões fantásticas desde a
infância. Nessa época, 1745, os Sete Povos das Missões, pertencentes à coroa
espanhola, vivem em crescente prosperidade. Com a guerra, Portugal devolve a
Colônia do Sacramento à Espanha e recebe em troca o território das Missões, os
povoados jesuíticos são destruídos e Pedro foge, sendo descoberto por Ana
Terra, ferido, no açude da propriedade da família, paulistas vindos de Sorocaba
para povoar o Continente de São Pedro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">A
família Terra trata do índio, que se afeiçoa a todos. Um dia Pedro seduz Ana
Terra no açude. Ana descobre, pouco depois, estar grávida. Pedro é morto pelos
irmãos dela. Pedro Terra nasce. A família não aceita a criança. Num ataque dos
castelhanos, todos são mortos, exceto Ana, o filho e a cunhada. Para salvar a
vida do filho, ela insiste em ficar na casa, sendo estuprada barbaramente pelos
bandidos. Os sobreviventes veem-se ao desabrigo. Ana decide, então, recomeçar
de novo e parte com um grupo de colonizadores. Chegam às terras do coronel
Amaral, que decide fundar o povoado de Santa Fé. A família Amaral vai se tornar
inimiga dos Terra, até o final de <b>O
Continente</b>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Pedro
Terra casa-se e tem dois filhos, Juvenal e Bibiana. Quando Bibiana já está
moça, surge em Santa Fé o Capitão Rodrigo Cambará, personagem-símbolo do gaudério
rio-grandense. Oriundo de Viamão e condecorado nas diversas guerras de que
participou, Rodrigo Cambará chega à cidade sem muito propósito, até que põe os
olhos em Bibiana e apaixona-se. A paixão é correspondida, mas o irmão e o pai
não aprovam a aproximação dela com Rodrigo. Além do quê, Bento Amaral tem
pretensões sobre Bibiana, mas a família Terra não o suporta. Há um duelo entre
Bento Amaral e Rodrigo Cambará, Rodrigo vence, mas é traído, quase vindo a
morrer. Quando se recupera, toma jeito e pede a mão de Bibiana em casamento e o
enlace é consentido por Pedro Terra, com ressalvas. Rodrigo, em sociedade com o
cunhado Juvenal, abre um armazém na cidade. Mas, com o tempo, se desinteressa
pelo negócio, pois gosta de barulho, pelear pelo mundo. Bibiana sofre com as
saídas frequentes do marido para outras freguesias. Os dois têm três filhos,
Bolívar, Anita e Leonor. Numa dessas saídas para guerrear, Rodrigo acaba sendo
morto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Com
a morte do marido, Bibiana vai viver com os filhos na casa do pai, que perde a
propriedade para um tal de Aguinaldo Silva, homem enriquecido através de
empréstimos a juros. No lugar da casa, Aguinaldo ergue o Casarão, onde se situa
o mote central de "O sobrado". Aguinaldo tem uma neta, Luzia, por
quem Bolívar se apaixona e os dois acabam casando. Bibiana tem sérios embates
com a nora, até que arquiteta um plano para que a família Terra Cambará
recupere o Casarão, o que acaba acontecendo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Durante
o confinamento no Sobrado, Alice Terra, casada com o primo Licurgo, está
esperando o terceiro filho. Eles já tinham Toríbio e Rodrigo Cambará, que será
o personagem principal da segunda parte
da trilogia, <b>O Retrato</b>. Este segundo
Rodrigo é diametralmente oposto ao Capitão Rodrigo, por revelar uma
personalidade de lisura contestável. Floriano, filho de Rodrigo neto, será o
narrador-personagem da terceira parte da trilogia, <b>O Arquipélago</b>. </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">O
primeiro volume de </span><b style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">O Continente</b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">
termina com Alice Terra enlouquecendo, enquanto espera, com dificuldade, </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">para dar à luz.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">O
plano geral de <b>O tempo e o vento</b> é traçar
toda a saga da formação rio-grandense, desde as origens remotas no século XVIII
até o ano de 1946, finalizando a narrativa ao encontrarem-se, mais uma vez, o
tempo da ficção e o momento presente em que o discurso é produzido. A estrutura temporal, portanto tem o passado
reconstruído como uma possibilidade de esclarecer o presente. Apesar disso, a
obra de Erico Veríssimo não é um romance histórico e nem épico, já que a
família Terra Cambará declina moral e economicamente, com o passar das
gerações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">O Continente</span></b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"> apresenta em
contraponto o histórico com o social com
seu ritmo próprio e independência em relação ao conjunto do texto. Dentro dessa
moldura, desenvolvem-se vários segmentos, com início, meio e fim, contendo,
portanto, vida própria e autonomia do âmbito da totalidade da obra. Prova disso
é o fato de <b>Ana Terra</b> e <b>Um certo capitão Rodrigo</b> terem sido
lançados como romances independentes no mercado editorial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuuri7SuAEyMjHYfsWDwxdKYFWXML37LHnz_VWVfFTWHbAem1YqKnZXnMnyJV_Y6-PKOqOg6fFLXRmYdIr628zRQeH3L6_pzCJ7UbI7xIa9jT0XfQuNrzUUni5swncAC_0QCR84KKW0wDM/s1600/ocontinente_arvore.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="202" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuuri7SuAEyMjHYfsWDwxdKYFWXML37LHnz_VWVfFTWHbAem1YqKnZXnMnyJV_Y6-PKOqOg6fFLXRmYdIr628zRQeH3L6_pzCJ7UbI7xIa9jT0XfQuNrzUUni5swncAC_0QCR84KKW0wDM/s320/ocontinente_arvore.gif" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">http://educaterra.terra.com.br/literatura/livrodomes/livrodomes_ocontinente_11.htm<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">=========================<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Erico
Veríssimo. <b>O Continente vol. 1</b>. Cia.
das Letras, 2004, 416 pp<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-1494664458620902102017-03-05T07:59:00.000-03:002017-03-05T07:59:08.175-03:0042. A Peste<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS18G4PApiKo_pFy9Zgv6phphvUTv1EgFSZm-qe8fTcf1Z_5A2-5ymTkhcAncJunIH9F1KMGrhIeUY8yie69xbSMng6D-w27xEy7EnCi4znb6OmOf2P54bAK4iUPiKEZMf2CWp3aKH0k06/s1600/camusa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS18G4PApiKo_pFy9Zgv6phphvUTv1EgFSZm-qe8fTcf1Z_5A2-5ymTkhcAncJunIH9F1KMGrhIeUY8yie69xbSMng6D-w27xEy7EnCi4znb6OmOf2P54bAK4iUPiKEZMf2CWp3aKH0k06/s320/camusa.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Albert
Camus (1913/1960) nasceu na Argélia, no período, em que o estado africano era
colônia francesa. Logo, era um francês nascido na Argélia. Tinha, também,
ascendência francesa por parte do pai. Filho de família muito humilde, fez seus
estudos em Argel, destacando-se pela inteligência e originalidade na forma de
se expressar. Graças a empenho de professores, conseguiu, através de bolsas de
estudos, concluir o grau superior em Filosofia. Exerceu a função de jornalista
em Argel, até mudar-se para Paris, onde passou a ser reconhecido
internacionalmente, por </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">sua literatura.
Camus era também teatrólogo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Publicado
em 1947, <b>A Peste </b>trata do absurdo da existência humana, que se resolve
através da solidariedade. A narrativa se passa na Argélia, na cidade fictícia
de Oran, onde as pessoas "se dedicavam ao tédio e a criar hábitos". Era
uma cidade feia, sem pombos, sem árvores e sem
jardins, apenas nos céus se lia a mudança das estações. Durante a manhã
de 06 de abril de 1940, surge um acontecimento insólito: começam a aparecer
ratos e mais ratos mortos pelas ruas e casas, assustando as pessoas. Era o
vírus da peste bubônica que, logo em seguida, começa a dizimar os habitantes de
Oran.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">A administração pública insiste em esconder o flagelo, mas a
situação se complica e a cidade inteira entra em quarentena, sitiada. Todos exilados, na condição de
prisioneiros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Quando os portões das cidades são fechados pelo isolamento do
mundo, um fato inusitado acontece: os laços de amor e amizade estreitam-se. Um grupo
de pessoas se dedicará à luta contra a peste, num enfrentamento resignado e
persistente, travado pelos homens que
providenciavam o isolamento sanitário dos doentes e a quarentena dos
familiares, assim como um mínimo de atendimento às vítimas da peste.<br />
<br />
Uma das figuras solidárias é a do dr. Rieux, ateu, que faz o máximo possível
para o bem estar alheio, mas não é visto como herói, faz o que faz de forma
gratuita, nada além do estar bem consigo mesmo. O padre Paneloux é outro que se
envolve voluntariamente no combate à peste. Ele achava, inicialmente, que a
peste pudesse ter sido obra de Deus, para castigar os moradores da cidade. Com
o tempo, começa a se opor à ideia de aceitação e submissão, achando aquilo tudo
revoltante, sem, entretanto, perder a crença religiosa. Tarrou, um artista
revoltado, é um estrangeiro em Oran, atuando lado a lado com o médico, criando
abrigos sanitários. Ele se dizia ser um santo sem Deus.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Até que as coisas começam a mudar, a peste regride, os habitantes
começam a se recuperar do isolamento e tudo se esquece e os ratos voltam a
surgir vivos e espertos. Mas o que Camus desejava, com sua narrativa, é que as
pessoas se dessem conta de que a vida, entretanto, não poderia voltar a ser
exatamente o que era antes, que destruir é mais fácil que construir E o que se
aprende com a destruição, é que colocando-se ao lado das vítimas, pode-se
procurar a paz. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Tradução de Valerie Runjanek<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">===========================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Albert Camus. <b>A Peste</b>. 5
ed, Rio, Record/Bestbolso, 2016, 294 pp<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-70343467886910330222017-02-26T07:15:00.003-03:002017-02-26T07:15:37.734-03:0041. O Aleph<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyMnOEkDZvp09gDZ60kUuANJL2yEVCDeUtkXvniK_VpKNEEUF5npbIxWqZHGsmjFWTTmaFUTXD96w3s5SxXH2-uBHGAVe0y1ryESgwMzhR_NanaOA6UtO7YXyLD5N_FRls4VZQme75ZEdY/s1600/jorge_luisborges.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyMnOEkDZvp09gDZ60kUuANJL2yEVCDeUtkXvniK_VpKNEEUF5npbIxWqZHGsmjFWTTmaFUTXD96w3s5SxXH2-uBHGAVe0y1ryESgwMzhR_NanaOA6UtO7YXyLD5N_FRls4VZQme75ZEdY/s320/jorge_luisborges.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Borges
parece ser mais difícil do que é. Tem vários níveis de leitura. Sua escrita
parece estar fora do mundo real. Ele mesmo, em algumas entrevistas,
considerava-se um homem do século XIX. Gostava de cultivar uma imagem distante
de sua realidade, cultivando </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">geografias
imaginárias, entidade fabulosa, animais imaginários, mundos ideais, labirintos,
livros etc. Antes de ser escritor, era leitor. Viveu cercado de livros desde a
infância. Mas Borges pode parecer bem mais acessível que parece.Nunca acredite
no que ele diz, pois faz citações falsas, menciona escritores que não existem. É
um escritor de textos alheios. O conjunto de contos </span><b style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">O Aleph</b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">, juntamente com </span><b style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Ficções</b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">,
trazem contribuição fundamental para a literatura universal.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
Aleph</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">:
neste conto, temos Borges lidando com o tema da universalidade, pois um
episódio nos leva a este ponto onde se pode enxergar todo o universo. O
personagem do conto passa a visitar anualmente a casa da falecida Beatriz
Viterbo, no dia do aniversário dela, até ser informado de que a casa seria
demolida. Ele fica, então, sabendo da existência de uma esfera mágica, um
Aleph, um dos pontos do espaço que contém todos os outros pontos. Curiosamente,
a esfera mágica que contém o Aleph está
no décimo nono degrau da estreita escada que leva ao porão que fica sob
a sala de jantar da casa de Beatriz Viterbo. O protagonista não faz nenhuma tentativa de evitar a
demolição da casa, pois percebe, sem
dúvida, que depois da morte da amada, ele não tem nenhuma esperança de tornar
verdadeiramente sua a visão do Aleph.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<b><span style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<b><span style="font-size: 16.0pt;">Os Teólogos</span></b><span style="font-size: 16.0pt;">:
dois teólogos, Aureliano e João de Panonia, digladiam-se em suas discussões
religiosas, o que Borges vai tratando com um humor que pouco aparece em outros
contos; por exemplo, no trecho: “Discutiu com os homens de cuja sentença
dependia a sua sorte e cometeu a grosseria máxima de fazê-lo com talento e com
ironia” . A discussão leva um deles à fogueira, mas eles ainda se encontrarão
na eternidade, culminando em um final inesperado.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<b><span style="font-size: 16.0pt;">O Imortal</span></b><span style="font-size: 16.0pt;">:
relata a história de um general romano que sai à procura da imortalidade; fato
que o autor aprofunda em suas reflexões filosóficas, como pode ser conferido
neste trecho: “Ser imortal é insignificante; com exceção do homem, todas as
criaturas o são, pois ignoram a morte; o divino, o terrível, o incompreensível
é saber-se imortal”. No entanto, ao deparar-se com sua busca, toda a sua vida é
alterada, não bem como ele imaginava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
fato de ter visto um homem ser baleado num taberna em Santana do Livramento,
serviu de mote para Borges criar em <b>O
morto</b> a história de Benjamin Otálora, um jovem <i>compadrito</i> (descendente do <i>gaucho</i>
rural) dos subúrbios pobres de Buenos
Aires, que mata um rival e foge para o Uruguai, onde entra para o bando de
vaqueiros e contrabandistas liderado por um brasileiro chamado Azevedo
Bandeira. Em um ano, aprende as habilidades de um <i>gaucho</i>. Estimulado por um sentimento novo de liberdade e poder, ele
aspira superar Bandeira na liderança do bando. Para isso, faz amizade com um
capanga de Bandeira, Suárez, e lhe diz de seu plano, recebendo uma promessa de
ajuda em sua rebelião contra o velho chefe. Otálora desobedece então às ordens
de Bandeira, dá aos homens contraordens e até dorme com a concubina do chefe,
uma mulher com cabelos ruivos resplandecentes. Uma noite, no entanto, Bandeira
desmascara o caso de Otálora com a ruiva e seu capanga e atira a sangue frio no
usurpador.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
impulso misógino da história é inequívoco em <b>Emma Zunz</b>. Emma quer vingar seu pai, que se suicidou depois de ter
sido acusado falsamente de desfalque. Maquina então um plano para matar o
ex-sócio do pai, responsável por sua desgraça. Ela se prostitui com um
marinheiro num bordel e depois mata a tiro o ex-sócio sob o falso pretexto de
que tentou estuprá-la. Borges retrata uma mulher jovem presa num labirinto de
contradições sexuais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">A Intrusa</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"> foi transposto
para o cinema em 1979, dirigido por <span style="background: white;">Carlos Hugo
Christensen,<span style="color: #545454;"> </span></span>com José de Abreu,
Arlindo Barreto e Maria Zilda. Borges criticou a leitura equivocada do diretor,
reduzindo a relação dos dois irmãos a um caso de homossexualidade, que não está
presente no conto. A história se passa
no ano de mil oitocentos e tanto, no pampa argentino, onde os irmãos Nielsen,
Eduardo e Cristián, viviam comungando a mais completa solidão. Eram tidos como
perigosos malfeitores, chegados a farras e brigas violentas. Seus episódios
amorosos davam-se em casas suspeitas. As coisas mudam, quando Cristián leva uma
mulher para o rancho, como sua amante. A partir daí, a relação dos dois esfria.
Eduardo torna-se gradativamente mais irritadiço. Até que um dia Cristián avisa
ao irmão que ia para uma farra e deixava a mulher para ele usá-la como quisesse.
Assim, a mulher passou a atender aos dois com uma submissão animal, mas não
escondia alguma preferência a Eduardo. Um dia, puseram-se os dois a conversar e decidiram vender
Juliana a um prostíbulo. Assim, voltavam a renovar sua vida antiga de homens entre
homens. Tempo depois, foi cada um para um lado resolver problemas particulares.
Foi quando Cristián, dirigindo-se ao prostíbulo onde venderam Juliana,
encontrou o irmão sentado na fila esperando sua vez. Decidiram que era melhor
levá-la de volta à casa, "para não cansar os cavalos". Voltaram,
assim, ao que já se disse, até o dia em que Cristián comunica ao irmão, que
matara a mulher, para não lhes causar mais danos. Assim, abraçaram-se, quase
chorando. Agora os unia outro vínculo: a mulher tristemente sacrificada e a
obrigação de esquecê-la.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Tradução
de Flávio José Cardozo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">=============================<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Jorge
Luís Borges. <b>O Aleph</b>. 3 ed., Porto
Alegre, Editora Globo, 1978, 146 p.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-45064788489595026242017-02-19T08:08:00.000-03:002017-02-19T08:08:18.267-03:0040. Ficções<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDQGB47L_XdM9GZG96e0N0UX14VwQMVDN_D0nzZCPbPDwfbaYOmb6xC1THC9V6xPYtk_qY_CyB7W9TSRUsMBgLjaCetNGXByxldfFy1QSCeRUG9MX36BNTqWXX7LcdFqLAh0ZD5fEGbMlP/s1600/jorge-luis-borges.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="290" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDQGB47L_XdM9GZG96e0N0UX14VwQMVDN_D0nzZCPbPDwfbaYOmb6xC1THC9V6xPYtk_qY_CyB7W9TSRUsMBgLjaCetNGXByxldfFy1QSCeRUG9MX36BNTqWXX7LcdFqLAh0ZD5fEGbMlP/s320/jorge-luis-borges.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">O
escritor argentino Jorge Luís Borges (1899/1986) cresceu entre duas línguas.
Foi alfabetizado em inglês, por decisão do pai. O espanhol é ligado à linhagem
materna. Tinha ascendência portuguesa por parte do bisavô paterno, que nascera
em Portugal. </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Ficou cego cedo, aos 58
anos. Mas continuou a produzir sempre, ditando seus textos a seus auxiliares,
notadamente sua mãe e depois a esposa, Maria Kodama.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Borges
foi primeiro poeta e ensaísta. Seu lado ficcional surgiu mais tarde. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Viaja à
Europa na adolescência, para tratamento da cegueira do pai, onde estuda, tem
acesso e leitura em outras línguas, e retorna em 1922 à Argentina. Foi leitor
voraz de enciclopédias. Isso faz ver a obra de Borges, estamos falando aqui dos
contos, em duas vertentes: a mística, os arquétipos, os labirintos. De outro, o
olhar para o pampa: o duplo, a violência, a solidão árida. O escritor sustentava
que, por trás da sua escrita, há a leitura de um livro. Borges lia um livro e
contava uma história do que lera. Isso é chave em sua literatura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Ficções</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"> é um
livro-chave para a literatura do século XX, que influencia toda a literatura
que vem depois dele. Sua estética coloca a possibilidade de algo impensado. É um relato autêntico que não propõe uma
verdade fora do texto. Não é uma reprodução fiel do mundo. Mas o prazer da
forma estética. Esses relatos oferecem ao leitor um prazer com a forma que
assume o relato. </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">O
livro tem duas partes. A primeira, "O jardim dos caminhos que se
bifurcam", contendo um prólogo, apresenta textos que foram, muitos deles,
já editados em jornais e revistas. A segunda, também contendo um prólogo, "Artifícios",
insiste na ideia de colocar em evidência o caráter experimental da estética do
texto:</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<b><span style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<b><span style="font-size: 16.0pt;">O jardim dos caminhos que se bifurcam</span></b><span style="font-size: 16.0pt;">: uma das mais importantes narrativas do autor no que
se refere a falar de uma de suas metáforas preferidas: o labirinto. O
protagonista do conto está sendo perseguido e foge para o lugar onde viveu seu
descendente, um rei que disse que se ausentaria do mundo para construir um
labirinto e escrever um livro. Contudo, o que o leitor não perde por esperar, é
a relação dessa história com a do próprio protagonista.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 18.75pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<b><span style="font-size: 16.0pt;">A biblioteca de Babel</span></b><span style="font-size: 16.0pt;">: o autor fala do mundo como se este fosse uma
biblioteca, tendo um dos mais impressionantes começos literários da história da
literatura: “O universo (que outros chamam a Biblioteca) constitui-se de
um número indefinido, e infinito, de
galerias hexagonais, com vastos postos de ventilação no centro, cercados por
varandas baixíssimas".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Pierre Menard,
autor do Quixote</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">,
a falsa resenha da obras de um escritor de ficção francês recentemente
falecido, que se envolveu na tarefa complexa e fútil de reescrever Dom Quixote,
de Cervantes. Não se trata de copiar o romance, mas de repetir o livro com o
intuito de fazê-lo coincidir, palavra por palavra e linha por linha com o
original. Trata-se da total aniquilação da personalidade. Se Menard tivesse
conseguido reescrever o Dom Quixote, teria sacrificado sua individualidade
artística à tarefa, ao mesmo tempo que teria roubado Cervantes de seu status de
autor único do grande clássico; o sucesso de Menard equivaleria então à
destruição da criação original, tornando a criação um conceito arbitrário,
podendo, no futuro, qualquer obra ser escrita por qualquer autor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Tlön, Uqbar,
Orbis Tertius</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">
é uma paródia do idealismo filosófico do bispo Berkeley, na qual os membros de
uma sociedade secreta dirigida por um milionário chamado Ezra Buckley inventam
um planeta imaginário chamado Tlön, cujos habitantes carecem de qualquer senso
nato da existência de uma realidade física externa a suas consciências. Numa
série de brilhantes manobras cômicas, Borges esboça as consequências desse
idealismo congênito para as línguas, as ciências, a matemática, a literatura e
as religiões de Tlön. Nesse conto se reconhece várias estratégicas narrativas,
uma delas, apagar os limites entre o verdadeiro e o imaginário. O leitor fica
confuso se o que lê é invenção ou realidade. É a busca de um livro inexistente.
Nesse livro, há um verbete que fala de Ukbar. Postula uma ideia de que o livro
é um mundo e o mundo é o livro. O mundo
não é uma condição de possibilidades de um livro, mas o livro pode ser uma
condição de possibilidade do mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">As ruínas
circulares</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">,
o protagonista é um homem cinza que chega a um templo circular dedicado ao deus
do fogo. O homem pede à divindade o poder de sonhar um filho e inseri-lo no
mundo real. Seu desejo é concedido e ele sonhará um filho que todos tomarão
como real, exceto o deus do fogo e o próprio sonhador, que saberão que sua
criatura é, na verdade, um fantasma imune ao fogo. O homem cinza sente uma
espécie de êxtase, uma vez que o propósito de sua vida parece ter se realizado.
Pouco depois, porém, um incêndio destrói o templo, e o homem cinza descobre que
não é afetado pelas chamas. Percebe, então, que ele, como seu filho é um
fantasma: outra pessoa o está sonhando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">A loteria da
Babilônia </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">toma
a ideia banal de que a vida é uma loteria e inventa uma situação em que é
impossível dizer se as vidas dos babilônios são governadas pelo acaso ou pelos
desígnios de uma companhia secreta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Em
<b>A morte e a bússola</b>, o detetive Erik
Lönrot está investigando o homicídio de um judeu estudioso de Cabala. Um
estranho conflito o impele a procurar o assassino por um processo de pura
razão. Porém, Erik está, na verdade, sendo manipulado por seu arqui-inimigo, um
criminoso judeu chamado Red Scharlach, que planeja secretamente atrair o
detetive para a morte, aprisionando-o num labirinto de pistas enganosas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O sul</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"> e <b>O fim</b> tratam do duplo, quando é preciso
fazer uma escolha que contempla um deles. Em <b>O Sul</b>, o protagonista é Juan Dahlmann, um residente de Buenos Aires
de origem mista germano-protestante e argentino-católica, que se sente
profundamente argentino por ser neto de um herói da guerra da Independência.
Embora as propriedades da família tenham se perdido há muito tempo e ele tenha
um emprego público modesto na cidade, conseguiu salvar a sede de uma estância
nos pampas ao sul de Buenos Aires. Na segunda parte da história, o encontramos
tomando um trem para ir visitar a mansão, mas o trem para inesperadamente no
meio do campo, e enquanto espera num armazém, recebe provocações de um grupo de
peões. Sem saber como reagir, subitamente resolve enfrentar o desafio de um <i>compadrito</i> (equivalente ao nosso gaúcho
a pé, banido do pampa) depois que um velho <i>gaucho</i>
lhe joga uma adaga.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O fim</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"> descreve o
final de Martín Fierro, relatando o duelo final entre o protagonista e El
Moreno, o irmão de um <i>gaucho</i> negro
que Fierro havia matado numa briga de bar na primeira parte do famoso poema.
Dessa vez, porém, é Fierro que é morto, mas a morte do protagonista não
oferece, no fim, uma resolução clara da ação: quando mata Fierro, o negro
assume o destino de sua vítima e as identidades aparentemente contrárias de
assassino e assassinado se dissolvem, abrindo a história para uma progressão
potencialmente infinita. A ação é observada por um terceiro personagem,
testemunha totalmente passiva, por causa de um derrame.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Tradução
de Carlos Nejar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">=============================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Jorge
Luís Borges. <b>Ficções</b>. Porto Alegre,
Editora Globo, 1969, 158 pp.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-75394643724639594442017-02-12T08:21:00.000-02:002017-02-12T08:21:15.712-02:0039. A náusea<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKd8PYhTv5skNNZy5xUI2-T1FTHZb7cCTxxysL9U4Gq8Wd_6f4l7QkiqEo6QpCSWYSgKFIkzjH4KJ4wCLT9H-yhGsDjbuE-X2fGV8_AbNvAF_cZdxLwypyXmV59xCxSwIC1IFeTAhy_1NO/s1600/sartre2-thumb-800x610-126061.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="244" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKd8PYhTv5skNNZy5xUI2-T1FTHZb7cCTxxysL9U4Gq8Wd_6f4l7QkiqEo6QpCSWYSgKFIkzjH4KJ4wCLT9H-yhGsDjbuE-X2fGV8_AbNvAF_cZdxLwypyXmV59xCxSwIC1IFeTAhy_1NO/s320/sartre2-thumb-800x610-126061.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Sartre
(1905/1980) </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">sempre conservou, durante
toda sua vida, a junção entre os temas filosóficos e condição humana, através
da literatura. </span><b style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">A Náusea</b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">, lançada em
1938,</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">é o romance que o levou à
notoriedade. O título inicial era Melancolia, mas por sugestão do editor,
Sartre optou por A Náusea. O romance é importante, na obra de Sartre, por ser a
primeira a desenvolver o tema que aparecerá no restante de sua obra ficcional:
o existencialismo. Está escrito em forma de diário, para dar verossimilhança ao
personagem.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
personagem central é um historiador que viajou muito. Recolheu-se à cidade de
Bouville para escrever o retrato de um marquês do século XVIII, Rollebon. Como
nessa cidade havia arquivos importantes sobre o biografado, mudou-se para lá.
Em sua convivência no local, vai aos poucos se desinteressando pela existência
de Rollebon, por considerá-lo um personagem de si mesmo, alguém que não é ele
mesmo, e abandona a função de historiador, que passa a considerar uma
subordinação ao real, ao acontecido, e vai dar asas à liberdade através da
ficção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
encontro do historiador consigo mesmo é o encontro com a liberdade, e isso
acontece de forma dramática, pois é o encontro com a contingência, isso é, nada
na vida é premeditado. Ocorrem ao acaso. A existência é gratuita. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
livro é muito teatral, com cenas surrealistas, com personagens caricatos, simbólicos,
como o Autodidata, que adquire cultura na biblioteca da cidade, lendo autores
pela ordem alfabética, sem um objetivo pré-determinado. A moça do rendez-vous
representa a caricatura do sexo, a banalização da vida amorosa e das relações
humanas. Os casais que vão ao restaurante almoçar, namorar e comer, são falsos,
constituem uma imagem projetada, estereótipo, uma tentativa de marcar uma
essência humana e não viver a existência em seu decurso gratuito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">A
namorada que ele encontra no final do livro, na esperança de retomar um amor
perdido, diz respeito ao valor do instante. Ela tem uma característica de viver
o instante em toda sua intensidade, mas perdeu isso com o tempo,
idealizando-o. Quando se separam, o personagem
toma consciência de que cada um tem a sua história. E supera a náusea, a
contingência de existir, ao ouvir uma música que ele considera perfeitamente
acabada, como a vida deveria ser, mas não é. Vai escrever um livro de ficção,
onde a liberdade apareça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Sartre
debruça-se em <b>A Náusea</b>, sobre a
filosofia da existência, onde não existe uma essência humana à qual os
exemplares estão determinados, existe o homem existente em sua contingência e
sua gratuidade, ao contrário da figura idealizada que o pensamento burguês
supunha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O
romance é anterior a <b>O ser e o nada</b> (se
o homem existe, Deus é nada; se Deus existe, o homem é nada) e ao <b>O que é literatura</b>?, onde se propôs a
responder em que medida a literatura deve ater-se à vida circundante e, a seu
modo, refleti-la e procurar transformá-la. Mas contém, em essência, aspectos
das duas obras filosófico literárias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Tradução
de Rita Braga<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">=================</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Jean-Paul
Sartre<b>. A náusea</b>. Rio, Nova
Fronteira, 2006, 222 pp.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-85942329048095892602017-02-05T07:21:00.002-02:002017-02-05T07:27:51.229-02:0038. O grande Gatsby<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5tUJBnuL0s_sxcv27_xYpa7-qBlCOHXBJKJHFH8VoghJF5JBWmvX3bGwxHdqyIwljLY94beQoolTfOT1rtjQWPJn4ZxVGtptK5PVf7TBC-zgUOujf1HTUey6M7cDPyDlS-rfD95390oi6/s1600/4-f-scott-fitzgerald-granger-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="244" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5tUJBnuL0s_sxcv27_xYpa7-qBlCOHXBJKJHFH8VoghJF5JBWmvX3bGwxHdqyIwljLY94beQoolTfOT1rtjQWPJn4ZxVGtptK5PVf7TBC-zgUOujf1HTUey6M7cDPyDlS-rfD95390oi6/s320/4-f-scott-fitzgerald-granger-1.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Quanto vale um homem sem o seu dinheiro? Para a
sociedade norte-americana da década de 1920, nada. Gatsby, sujeito obscuro, que
não se deixa inteiramente conhecer, já que é visto sob o ângulo de Nick, seu
vizinho com quem manteve curta amizade, como um espectador sóbrio e isolado das
próprias festas. Gatsby era de origem humilde e se apaixonara por uma moça rica
de Nova Iorque. Ela casa com outro, Gatsby fica rico e decide investir
novamente nessa mulher. Acaba morto de forma equivocada, tentando protegê-la. É
quando Nick, o vizinho que nos conta sua história, percebe que o mundo de
pessoas que frequentava suas festas suntuosas, não estavam interessados em nada
mais que a futilidade proporcionada pelo dinheiro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: large; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; line-height: 115%;">Nas noites de verão, a música irradiava da casa de
seu vizinho Gatsby. Em seus jardins suntuosos, homens e mulheres iam e vinham
feito mariposas entre sussurros , champanhe e estrelas. Nas tardes de maré
alta, ele observava os convivas mergulhando no alto de sua balsa, ou tomando sol
nas areias quentes de sua praia particular, enquanto barcos a motor cortavam as
águas, puxando esquiadores aquáticos por entre cataratas de espuma. Nos fins de
semana, seu rolls-royce virava um lotação, transportando convidados das nove da
manhã até depois da meia-noite, enquanto sua caminhonete zunia feito um inseto
amarelo e ligeiro no encalço de trens. E às segundas-feiras, oito empregados,
incluindo um jardineiro extra, trabalhavam o dia todo com esfregões, escovas,
martelos e tesouras de jardinagem, reparando os destroços da noite anterior. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; line-height: 115%;">Nick é um espectador em busca de um astro. Vê Gatsby
como modelo bem sucedido. Os dois formam uma amizade que contempla diálogos em
que Gatsby mostra sua insegurança legada de sua origem nebulosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Tradução de Vanessa Barbara.</span><span style="font-size: 16pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">======================</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">F. Scott Fitzgerald. <b>O grande Gatsby</b>. SP, Pinguin Companhia, 2011, 256 pp</span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-22545344921554821332017-01-29T08:25:00.000-02:002017-01-29T08:25:11.637-02:0037. São Bernardo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3v-082v-rSxcj3Rn_W8Xb0i9u_dj4GmKVU-ySx_xMMFu9BjC_UpF8HtwWn0uuRKoQZrbh4GbkRHSC_5IaABfrp_bogZO7w6AQqGPM2LItu19Vl0bJ3Pn7UKtnrLHJh0pl4flNKHzJ8CdS/s1600/Graciliano_Ramos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="317" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3v-082v-rSxcj3Rn_W8Xb0i9u_dj4GmKVU-ySx_xMMFu9BjC_UpF8HtwWn0uuRKoQZrbh4GbkRHSC_5IaABfrp_bogZO7w6AQqGPM2LItu19Vl0bJ3Pn7UKtnrLHJh0pl4flNKHzJ8CdS/s320/Graciliano_Ramos.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Graciliano
Ramos viveu entre 1892 e 1953. Durante esse período conviveu com duas guerras
mundiais, duas revoluções socialistas, o nazismo de um lado e o stalinismo de
outro. No Brasil, 1937, instaura-se em 1937o Estado Novo de Getúlio Vargas e um
regime ditatorial que predomina até 1945.
Um ano antes do Estado Novo, Graciliano foi preso e conduzido à prisão
de Ilha Grande, no Rio, durante um ano. Até sua morte, em 1953, nunca soube oficialmente
por que havia sido detido. Era filiado ao Partido Comunista desde 1945.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Graciliano
Ramos se distancia dos demais contadores de histórias da época, como Jorge
Amado e Érico Veríssimo, por apresentar uma escritura sofrida, trabalhada à
exaustão, onde cada palavra tem um peso, numa prosa extremamente elaborada. Sua
obra principal é condensada em um curto
período: <b>Caetés</b> (1933), <b>São Bernardo</b> (1934), <b>Angústia </b>(1936) e <b>Vidas Secas</b> (1937). Os três últimos romances constituem suas
obras-primas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">São Bernardo</span></b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"> é contado em
primeira pessoa, o narrador-personagem está situado no presente de sua solidão,
rememorando os fatos do passado, entregando-se ao doloroso exercício de
enfrentar a verdade sobre si mesmo Quando decide contar sua história, Paulo
Honório já se encontra viúvo e sozinho. Está com cinquenta anos. A certidão de
nascimento não confirma pai nem mãe. Fora criado pela velha Margarida, que
vendia doces. Cedo, rolou pelo mundo, trabalhando como lavrador. Aos 18 anos
esfaqueou um homem e foi preso. Quando saiu da prisão, decidiu que queria
ganhar dinheiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">De
posse de um capital inicial, empenha-se na compra da fazenda São Bernardo.
Aproveita-se da fraqueza do filho de seu antigo patrão e, de forma esperta, faz
uso de todas as atitudes escusas possíveis. De posse da fazenda, passa a
invadir partes de terras alheias para ampliar sua propriedade. Consolidada a
posse, era preciso casar-se para ter um herdeiro. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Numa das visitas que faz à
cidade, conhece Madalena, jovem de 27 anos. Não era bem a mulher que procurava,
mas decide investir em Madalena. A moça era professora primária e só tinha como
família a tia Glória, que a criara desde pequena. Levada a pensar na proposta
de Paulo Honório, Madalena, pensando na proteção e segurança que aquele senhor
de terras lhe poderia garantir, aceita casar-se, levando a tia junto para morar
na fazenda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Os
dois têm um filho, apesar da relação conflituosa entre os dois. Paulo Honório é
seco, autoritário e possessivo, trata seus funcionários como bichos. Madalena é
doce, compreensiva e altruísta. Toma o partido dos humilhados e ofendidos,
exige melhores condições de vida e de salário para seus funcionários
enfurecendo o marido. Letrada, Madalena passa a conversar com Padilha, o
professor da região que morava na fazenda e com amigos que visitavam a fazenda.
Inseguro, sem conseguir apossar-se da vontade da esposa, passa a ter ciúmes
doentios que acabam por levar Madalena ao suicídio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Paulo
Honório é um homem agreste, egoísta e cruel,
que não consegue compreender a mulher, pois é incapaz de senti-la em sua
integridade humana e em sua liberdade, e a considera apenas como mais uma coisa
a ser possuída. A crise reside na incompatibilidade de conviver quando um
indivíduo não reconhece nem aceita a diferença representada no outro. Paulo Honório não admite a livre
expressão da esposa, a competência dela o faz sentir-se inferiorizado,
reagindo, assim, de modo impensado, por meio de um ciúme doentio que o leva a
duvidar da fidelidade de Madalena.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Interpretado
pelo que representa de crítica social, Paulo Honório representa a modernidade
que entra no sertão brasileiro, é o emblema complexo e contraditório do
capitalismo nascente, empreendedor, cruel, que não vacila diante dos meios e se apossa do que tem pela frente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">=================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Graciliano
Ramos. <b>São Bernardo</b>. 71ª ed., Rio,
Record, 2001 224pp<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-48803874002150609382017-01-22T08:08:00.000-02:002017-01-22T08:08:11.330-02:0036. O homem sem qualidades<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWnBwILYgNqiFPLKQA88kkNEjDxe9a7a-5PHQRrL7JALqJTe4QfuBlZDOEhEs92qc653PGQZ2RY1hOdNv6GNodfTao4RP-ghhrBRoEIW6CAmlPwHHvcBg3mXtGF0Smfg0OiMKQaXOkpjgg/s1600/robert-musil-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWnBwILYgNqiFPLKQA88kkNEjDxe9a7a-5PHQRrL7JALqJTe4QfuBlZDOEhEs92qc653PGQZ2RY1hOdNv6GNodfTao4RP-ghhrBRoEIW6CAmlPwHHvcBg3mXtGF0Smfg0OiMKQaXOkpjgg/s1600/robert-musil-1.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">O homem sem
qualidades</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">
é uma obra híbrida: contempla ensaísmo e narração. Seu processo de criação foi
lento e exigente. Em 1906, Robert Musil (1880/1942) já tinha anotações sobre a estrutura do
livro, que é publicado em 1930, a primeira parte. Em seguida, por pressão dos
escritores, edita a segunda parte. A terceira parte, inacabada, foi publicada
após sua morte, em 1942, pela viúva do autor. A edição brasileira contém as
três partes do livro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">A
proposta do autor era contar como o homem normal nasce e se coloca diante da
realidade empírica sem se deixar submeter a uma razão opressora. O ser que não
tem qualidades próprias, que não sabe o que é, que só se conhece no cumprimento
de tarefas. Diante disso, busca saber como pode adquirir o autoconhecimento
diante da modernidade. Embora escrito entre a primeira e segunda guerras
mundiais, não se trata de um livro histórico, nem um manifesto contra o
nazismo. O que o escritor austríaco se propõe é narrar a utopia de Ulrich, de
criar um mundo à parte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Ulrich,
o homem sem qualidades, é alguém que se propõe a tirar férias da vida. Não tem uma profissão
definida, não tem família e sente que vive num mundo de qualidades que são
impostas a ele. A história começa em 1913 em dois mundos paralelos, o da
reflexão do protagonista e o mundo dos eventos. No mundo dos eventos, existe
uma trama paralela, a ação patriótica para comemoração do jubileu de coroação
do imperador austríaco, em 1918. Aparecem as mais diferentes personalidades da
aristocracia. Ulrich é secretário desse comitê, que não chega a lugar nenhum.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Em
contrapartida, há a figura de Moosbrugger, um assassino que chama a atenção de
todos pelo crime de matar sua mulher. A intenção da sociedade é eliminar esse
elemento, através da condenação à morte. Mas o grupo liderado por Clarisse e
Walter, amigos de Ulrich, é estudar uma terceira via para o destino do assassino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Na
segunda parte há também uma relação quase incestuosa entre Ulrich e a irmã
Ágatha, que surge quando decide separar-se do marido, aplicando-lhe um golpe no
testamento deixado pelo pai. A
aproximação de Ulrich com a irmã é uma forma de tentar dar uma continuidade dos
acontecimentos que giram em torno de sua existência. Uma forma de recuperação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Ulrich
é um homem bastante à frente de seu tempo. Provara ter espírito forte e
aguçado. Sempre sabe o que deve fazer, sabe olhar nos olhos de uma mulher, sabe
refletir bastante sobre qualquer coisa a qualquer momento. Talentoso, isento de
preconceitos, corajoso, resistente, destemido, prudente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Essas
qualidades, entretanto, ele não as tem. Elas fizeram dele aquilo que ele é, e
determinaram seu caminho, mas não lhe pertencem. A uma coisa, Ulrich opõe
outra. Para ele, nada é sólido. Tudo é mutável, parte de um todo que ele ainda
não conhece integralmente. Assim, todas suas respostas são respostas parciais,
cada um de seus sentimentos um ponto de vista. Para ele, não importa o que a
coisa é, mas como é. O adjetivo
"homem sem qualidades" deve ser visto nesse sentido. Um
caráter sem caráter nenhum.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Tradução
de Lya Luft e Carlos Abbenseth<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">==================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Robert
Musil. <b>O homem sem qualidades</b>. Rio,
Nova Fronteira, 1989, 872 pp.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-76288168784253586902017-01-15T07:11:00.004-02:002017-01-15T07:14:35.029-02:0035. Duas obras primas de Faulkner<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdCtvz4efIXLQnUvNqNjbYXNmgLg_x7Wbm8D4yV3oVF1yWBPbM-9Hg5p8mctd-WszpA4DNOw1Lo_gM22FTfz8e_BXg7EHWiVMy6W7Kjy1FnCA0MS5oCuq4rDFrmPZK-9JdK55a1R2iGoMJ/s1600/william-faulkner-800x445.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdCtvz4efIXLQnUvNqNjbYXNmgLg_x7Wbm8D4yV3oVF1yWBPbM-9Hg5p8mctd-WszpA4DNOw1Lo_gM22FTfz8e_BXg7EHWiVMy6W7Kjy1FnCA0MS5oCuq4rDFrmPZK-9JdK55a1R2iGoMJ/s320/william-faulkner-800x445.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt; text-align: justify;"> </span><b style="color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; text-align: justify;">O Som e a Fúria</b><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt; text-align: justify;"> (1929) conta
a história da decadente família Compson no cenário quase sempre presente nas
obras do autor, o Condado de Yoknapatawpha, a partir de quatro narradores
diferentes, três deles irmãos: Benjy, um idiota que não fala e cujo pensamento
é expresso pelos sentidos, especialmente o olfato; Quentin, o irmão estudado,
frequenta a Harvard e nutre um amor incestuoso pela irmã Caddy; Jason, o irmão
ressentido que luta contra o tempo e a falência da família; e um narrador
onisciente, presente na última parte do livro. “O Som e a Fúria” aborda temas
como incesto, suicídio, doença metal, família, conflitos raciais, situação
histórica do sul dos Estados Unidos.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; margin-bottom: 17.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; margin-bottom: 17.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">Caddy é a menina dos olhos de cada narrador, relacionando-se com os três irmãos por diferentes graus: Benjy, o
idiota, chora quando Caddy usa perfume, deturpando seu cheiro natural, ao mesmo
tempo em que ela é a única a lhe dedicar atenção; já o amor incestuoso de Quentin
pela irmã pode representar um amor eterno, imperecível, e acima da carne, mas
deturpado pelo desejo físico; o desagradável irmão Jason tem uma inescrupulosa
busca por dinheiro, extorquindo dinheiro de Caddy.</span><span style="color: #333333; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="color: #333333; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">Jason </span><span style="color: #333333; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;"> </span><span style="color: #333333; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">buscava sempre uma oportunidade de enriquecer
sem precisar trabalhar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; margin-bottom: 17.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">O leitor talvez vá precisar de um
pouco de calma para ler “O Som e a Fúria”, pois a narrativa, fazendo usa da
técnica do fluxo de consciência, pode
levá-lo a nem sempre saber o que aconteceu. Mas nem por isso sua leitura será
desagradável. O esforço de seguir adiante é extremamente recompensador. E
também convidativo para uma segunda leitura, talvez até mais prazerosa. Isso
não é pedir muito, já que essa pode ser a “história contada por um idiota” mais
surpreendente que você tenha a oportunidade de ler.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Há
um apêndice sobre a linhagem da família Compson até o seu final. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Tradução
de Paulo Henriques Britto<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">==========================<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><span style="font-size: x-small;">William
Faulkner<b>. O som e a fúria</b>. SP, Cosac
Naify, 2004. 336 pp.</span><span style="font-size: 16pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;"><b>Luz
em agosto</b> (1932) se passa no condado imaginário de </span><span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">Yoknapatawpha, no sul dos Estados Unidos.
A narrativa começa numa estrada do Alabama, onde uma jovem grávida, Lena Grove,
busca carona para chegar a Jefferson, à procura de Lucas Burch, o pai de seu
filho. Contando com a generosidade de agricultores da região, Lena consegue
chegar a Jefferson, e acaba sabendo que no moinho da cidade trabalha um homem
que talvez possa ser Burch. Esse homem, na verdade, é Byron Bunch, que se
propõe a ajudá-la a encontrar esse rapaz, que ele julga ser Joe Brown. Brown
vive em uma cabana na propriedade de Joanna Burden, sobrevivente de uma família
de abolicionistas, em companhia de Joe Christmas, que mantém um relacionamento
com a tal mulher. Christmas, apesar de ter pele clara, ser órfão e desconhecer
qualquer fato de sua descendência, acredita que tenha sangue de negro. Por isso
viveu, até o momento da trama, fugindo de seu passado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">A época da narrativa ocorre no calor intenso de
agosto, no final do século XX, época da
Lei Seca. Brown e Christmas aproveitam-se disso para contrabandear whisky para
ganhar mais dinheiro. </span><span style="background-color: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 16pt;">Numa noite, há um incêndio na propriedade de
Joanna Burden (Luz em agosto), na cabana onde viviam Brown e Christmas.
Descobrem, então, que a dona da casa havia sido assassinada e a culpa recai
sobre Christmas que foge dali e é caçado impiedosamente até ser executado por
um soldado do exército. Brown, preso na ocasião do incêndio, responsabiliza
Christmas pelo assassinato e é mantido preso. A partir de então, Byron Bunch,
que já estava apaixonado por Lena, arranja um encontro entre o preso e a jovem.
Brown acaba desaparecendo de forma obscura.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Há outro personagem interessante na narrativa,
Gail Hightower, ex ministro metodista, forçado a se demitir depois que
descobriram que sua esposa mantinha um caso extraconjugal numa cidade vizinha,
e cometera suicídio após o escândalo. Gail recusa-se a sair de Jefferson, vive
uma vida miserável e mantém longos diálogos com Byron sobre a miséria da existência
humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Faulkner mantém um suspense narrativo de
primeira, prendendo a atenção durante todo o livro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;">Tradução de Celso Mauro Paciornik<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 16.0pt;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">===================<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #252525; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: x-small;">William Faulkner<b>. Luz em agosto</b>. 2ª ed., SP, Cosac Naify, 2007, 448pp</span><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-16942725613384791292017-01-08T06:55:00.000-02:002017-01-08T06:55:27.400-02:0034. Macunaíma<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghdS_NEhzZopMol_XSTIQKU2cEMucESmC7fLCttGuuPblZ-DhLjIOKb8866Y9YIXgJSV3wJxMgmBPOZofVLohyphenhyphenffKU_vHLRJdlfUFSMYN2XxEQtV43RFijF3oBOU1WxkDe8AddFAfojHi5/s1600/tvsinopse98745127.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghdS_NEhzZopMol_XSTIQKU2cEMucESmC7fLCttGuuPblZ-DhLjIOKb8866Y9YIXgJSV3wJxMgmBPOZofVLohyphenhyphenffKU_vHLRJdlfUFSMYN2XxEQtV43RFijF3oBOU1WxkDe8AddFAfojHi5/s320/tvsinopse98745127.jpg" width="265" /></a></div>
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">No
meio da mata virgem, às margens do Uraricoera, uma índia tupinambá pare um
menino preto retinto e feio, chamado Macunaíma. Passou seis anos sem falar, e
quando o incitavam a fazê-lo, dizia: "Ai, que preguiça!" Sempre foi
muito ativo e a coisa que mais gostava de fazer era "brincar" com as
índias no rio. Tinha dois irmãos mais velhos, Maanape e Jiguê, este tinha uma
mulher, Sofará. Um dia, Macunaíma transforma-se num belo príncipe e brinca com
a cunhada, causando a ira de Jiguê, que a manda embora, casando-se com Iriqui,
que também brinca com Macunaíma. A Jiguê não resta outra alternativa, a não ser
se conformar.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Um
dia, a cutia lhe dá um banho de água de mandioca envenenada e Macunaíma se
transforma em homem, mas a cabeça, que não havia sido molhada, permanece
pequena. Quando sai à caça, certo dia, mata acidentalmente uma veada com a
cria. O animal era a mãe do herói, transformada em veada por Anhangá. Todos
choram a morte da mãe e decidem sair por este mundo afora. No caminho,
Macunaíma possui Ci, a Mãe do Mato, rainha das amazonas. Ci acompanha Macunaíma
na viagem, dá à luz um menino de cor encarnada e cabeça chata. O menino, ao
chupar o seio da mãe, que havia sido mordido por uma cobra preta, morre. O
menino é enterrado, Ci entrega a Macunaíma uma muiraquitã e vai para o céu ,
subindo por um cipó. Quando o herói visita o túmulo do filho, no dia seguinte,
vê que sobre ele nascera uma planta, o guaraná.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Nas
muitas andanças e peripécias de Macunaíma, este acaba perdendo a pedra
muiracitã, que havia sido encontrada por um homem que o vendera a Venceslau Pietro
Pietra, o gigante Piaimã. Macunaíma descobre o paradeiro da pedra e decide, com
os irmãos, ir para São Paulo, onde morava o gigante, para tentar recuperar a
pedra. No final da rapsódia, Pietro Pietra acaba caindo em caldeirão de
macarronada, a pedra é recuperada e Macunaíma volta ao Uraricoera. No final, a
tribo se acabara, a família virara sombras, a maloca ruíra minada pelas saúvas
e Macunaima subira aos céus transformado na estrela Ursa Maior. Só restara o
papagaio no silêncio do Uraricoera, preservando do esquecimento o caso e as
falas desaparecidas sobre o herói de nossa gente. O papagaio foi quem contou
tudo ao homem, Mário de Andrade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">Macunaíma
é a obra síntese do Modernismo brasileiro. Publicada em 1928, seis anos depois
da Semana de Arte Moderno, é representativa da miscigenação das diversas
culturas que formam o Brasil. De posse da muiraquitã, no final da história, os
irmãos retornam ao lugar de origem, carregando na canoa objetos de diversas
procedências, como um casal de galinhas Legorne, um revóver Smith Wesson e um
relógio Pathek Philipe, símbolos da cultura estrangeira, indicadores dos
valores capitalistas transportados ao lugar de origem, compondo o perfil do
herói sem nenhum caráter. O termo sem caráter, aqui, longe de ter o significado
de indivíduo de moral duvidosa, representa a síntese da alma brasileira forjada
através de uma cultura transplantada e adaptada ao mundo moderno, com o advento
do capitalismo que chegou ao Brasil no início do século XX, para o bem ou para
o mal. O antropofagismo cultural surgido com a Semana de Arte Moderna significa
que, para haver avanço cultural, é necessário assimilar tudo de novo que vem de
fora, miscigenando-o à cultura já existente, em vez de negá-lo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt;">A
edição que eu li é a sétima, da Martins Editora, de 1972. Há edições recentes
da Civilização Brasileira e da Penguin Editora, por preço baixo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"> paulinhopoa2003@hotmail.com<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-63573402068469178792017-01-01T09:17:00.001-02:002017-01-01T09:17:38.404-02:0032. Mrs. Dalloway<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLmTphyPsAomlsABOt2C96aYMH5l7x_15ilZK6cL1T3XX2CGgfPEed911oTtouQlPaGYv9orvny7LJ1-P8tFwTewt4iffFCI0F6JFBPC_4sFgsKm6YxSfrWyoGF6mb_Vpi15omw_R7cqNB/s1600/virginia-woolf.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLmTphyPsAomlsABOt2C96aYMH5l7x_15ilZK6cL1T3XX2CGgfPEed911oTtouQlPaGYv9orvny7LJ1-P8tFwTewt4iffFCI0F6JFBPC_4sFgsKm6YxSfrWyoGF6mb_Vpi15omw_R7cqNB/s320/virginia-woolf.jpg" width="234" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 16.0pt;">O
romance de Virgínia Woolf, publicado em 1925, retrata um dia na vida de
Clarissa Dalloway, preparando a festa de seu aniversário. O tempo cronológico
compreende o período em que ela sai de casa para comprar flores para enfeitar a
casa, até o final da festa, no final da noite. O que movimenta o romance,
entretanto, é o tempo interior dela e dos personagens que ela encontra pela rua,
alguns deles participarão da festa, e de personagens que surgem à memória dela
e deles evocados pelas situações cotidianas de cada um.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 16.0pt;">Clarissa
Dalloway, ao sair de casa, pela manhã, está inebriada pelo gosto da vida, tudo
ao seu redor evocam-lhe sensações doces, desde o movimento dos carros, o aroma
dos parques com o canto dos pássaros, as cores da cidade, o céu incentivador de
coisas boas. Mesmo as situações embaraçosas, como o encontro com Peter Walsh,
que a amou na juventude e foi desprezado de forma deselegante por ela. Isso a
faz pensar sobre a escolha de Richard Dalloway, o marido; depois Septimus, que ela
vê na rua em situação de abandono, perturbado mentalmente em decorrência da
Primeira Guerra; a lembrança de Sally Seton, por quem foi atraída e pensa,
agora, que talvez pudesse ter sido amor; a chegada em casa e a notícia dada
pela criada, de que o marido fora almoçar com uma amiga que não a convidou; o
diálogo com a filha Elizabeth, que esboça o desejo de não querer participar da
festa, nada disso pode querer fazer de Clarissa uma pessoa infeliz. Será?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">A
festa de Clarissa nessa noite é um lento sucesso. Nela comparece a maior parte
dos personagens que ela encontrou durante o dia, incluindo pessoas do seu passado.
Ela ouve falar na festa sobre o suicídio de Septimus, que havia sido internado
naquela tarde em um hospital psiquiátrico, e gradualmente passa a admirar esse ato
alheio, que vê como uma tentativa de preservar a pureza da sua felicidade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">O
romance tem dois focos narrativos envolvendo dois personagens diferentes: Clarissa
Dalloway e Septimus Smith. Em cada narrativa há um determinado tempo e lugar do
passado aos quais os personagens principais recorrem com frequência nas suas
mentes. Virgínia Woolf mostra o pensamento de Clarissa, no</span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #373737; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"> </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #373737; font-family: "Microsoft JhengHei", sans-serif; font-size: 16pt;">uso de um tempo
verbal onde aparentemente as coisas que se movem em um mesmo plano,
avance tão lentamente, que provoque no leitor a impressão de estar
sendo absorvido para o interior deste texto. Esse tempo</span><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> lhe invade a mente durante todo o dia em Londres,</span> <span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">apresentando-se
como a ser disputada por vários pretendentes em sua juventude. Para Septimus, esse presente prolongado apresenta-se como o tempo em que era soldado durante a Primeira Guerra
Mundial, principalmente na forma de Evans, seu companheiro falecido.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<br />
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Há
uma edição recente de <b>Mrs. Dalloway</b>,
com tradução de Mário Quintana, pela Civilização Brasileira. A Cosac Naify tem
uma tradução de Cláudio Marcondes, que você encontra em ebook ou nos sebos, o
livro físico. A Abril Cultural apresenta o romance, junto com Orlando, edição
esgotada encontrável nos sebos. Também há a tradução de Tomaz Tadeu, pela
editora Autêntica.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-75837077521100303392016-12-25T13:34:00.000-02:002016-12-25T13:34:50.660-02:0031. Orlando<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaZ-YMVPlXW-CHicx0INd-My5X8Bbjvbp9b3AoUgPCr6yGafTku60cwI8yOYaSjSpdSQ2dRd3CHcPWHXrjZyggOhh67QTOobxqu0UzlutpGboxPEdw_pu9MA4MVjKHoYcOq0NH1sbvh8jV/s1600/virginiawoolf3-e1453822638669-1600x720.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="144" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaZ-YMVPlXW-CHicx0INd-My5X8Bbjvbp9b3AoUgPCr6yGafTku60cwI8yOYaSjSpdSQ2dRd3CHcPWHXrjZyggOhh67QTOobxqu0UzlutpGboxPEdw_pu9MA4MVjKHoYcOq0NH1sbvh8jV/s320/virginiawoolf3-e1453822638669-1600x720.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Virginia Woolf tem duas
obras-primas da literatura universal: </span><b style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Orlando</b><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
e </span><b style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Mrs. Dalloway</b><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">, o que torna quase
impossível sobrepor uma em relação a outra, por critérios de valores. Clarissa
Dalloway mergulha num fluxo de consciência durante o dia em que prepara a festa
de seu aniversário. Orlando, que não se utiliza da mesma técnica narrativa,
narra a história do jovem inglês, nascido na Idade Moderna e que, durante a
mudança que fez à Turquia, acorda mulher. Dotada da imortalidade, a vida de
Orlando é narrada durante 350 anos, até 1928, ano da publicação do romance.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> Orlando era desajeitado e um
pouco distraído. Uma vez, apaixonou-se por uma princesa moscovita e sua vida
tornou-se mais dinâmica. Tinha cada vez menos cuidado de ocultar seus
sentimentos. Mas um dia a princesa embarca, de volta à Rússia, e Orlando cai em
profunda melancolia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Aos trinta anos, já tinha passado por todas as experiências que a vida
oferece e verificado a inutilidade de todas elas. Amor e ambição, mulheres e
poetas eram igualmente vãos. A literatura, uma farsa. Numa noite, queimou quase
todas as suas obras poéticas, guardando apenas O Carvalho, que era seu sonho de
adolescente. O mundo com toda a sua variedade, a vida, com toda a sua
complexidade, se reduziram a duas coisas só: os cães e a natureza.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Assim, persuadido de que sua casa e sua vida não lhe diziam mais nada,
pediu ao Rei que o enviasse como embaixador extraordinário para Constantinopla.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Assim, os dias de Orlando na Turquia passava-se de forma rotineira,
levantava-se cedo, envolvia-se num longo casaco turco, acendia um charuto e
fincava os cotovelos no parapeito, mirando a cidade a seus pés, num aparente
êxtase.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Sabe-se muito pouca coisa de Orlando em Constantinopla. Um acontecimento
inesperado, entretanto, ocorreu em uma noite em que se despiu para dormir, ao
som das trombetas, e quando acordou, transformara-se em mulher. A mudança de
sexo, entretanto, não alterara sua identidade. Seu rosto permanecia
praticamente o mesmo. Sua memória podia remontar através de todos os
acontecimentos da vida passada, sem encontrar nenhum obstáculo. A mudança
parecia ter-se produzido sem sofrimento, e completa, e de tal modo que o
próprio Orlando parecia não estranhar. Muita gente, à vista disso, e
sustentando que a mudança de sexo é contra a natureza, esforçou-se em provar,
primeiro: que Orlando sempre tinha sido mulher; segundo: que Orlando foi homem
até os trinta anos; nessa ocasião, tornou-se mulher, e assim ficou daí por
diante.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Tornando-se mulher, Orlando adquire a imortalidade, atravessando 350
anos de vida, até o dia 28/03/1928, quando se encerra sua biografia.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #252525; line-height: 150%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Há uma tradução de <b>Orlando</b>
pela Penguin?Companhia, com tradução de Jorio Dauster. Há outra edição pela
Autêntica, com tradução de Tomaz Tadeu. A edição que eu li teve tradução de
Cecília Meireles, pela Editora Abril/Civilização Brasileira, de 1972. Junto com
o volume vem <b>Mrs. Dalloway</b>, com
tradução de Mário Quintana.</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-80236155565802014742016-12-18T14:43:00.000-02:002016-12-18T14:43:45.189-02:0030. Ulysses<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Ulysses</span></b><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"> é um
romance com personagens simbólicos, realizando ações simbólicas realizadas,
entretanto, num mundo real, Dublin do dia 16 de junho de 1904. Trabalhando intensamente
o monólogo interior, o irlandês judeu Leopold Bloom vive uma odisseia moderna
no decorrer desse único dia. Além dele, aparecem com destaque sua esposa, Molly
Bloom e seu amigo Stephen Dedalus. Este representa a identidade oculta de
Joyce, não só neste romance, mas em <b>Retrato de um artista quando jovem, </b>em
que narra a infância e juventude de Stephen Dedalus até sua ida à escola, como
interno. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O
romance de 1112 páginas retrata uma viagem ao mundo interior caótico de Leopold
Blum, parodiando a Odisseia de Homero: Ulisses (Leopold), Telêmaco (Dedalus) e
Penélope (Mary Bloom). Há outros personagens do romance de Joyce que fazem
referências às personagens da obra de Homero.
Joyce faz uso da paródia, como uma técnica narrativa para desfigurar as
obras-primas do passado, fazendo um ataque à própria literatura. <b>Ulysses</b> tem um tom jocoso, satírico. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Leopold
Bloom, um homem comum, judeu mas batizado como católico, é casado há 16 anos
com Molly, cantora de talento, linda e cobiçada. Os dois tiveram um filho
morto depois de 11 dias de nascido. Esse
acontecimento afeta a vida dos dois para sempre. Eles têm, ainda, uma filha de 15 anos que
vive fora de casa, devido a atritos com a mãe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">No
dia 16 de junho de 1904, Bloom sai cedo de casa para acompanhar o enterro de um
conhecido. Ao voltar do enterro, vai ao centro da cidade até o jornal para os
quais presta serviço publicitário. Feito
isso, poderia voltar para casa, mas ele não quer que isso aconteça, por
enquanto. Daí começa, então, sua odisseia que dura 18 horas, em busca de
pretextos para estar na rua até que tenha certeza de que, ao chegar em casa,
sua mulher esteja dormindo. É que eles estão em crise e Bloom sabe que, durante
a tarde, ela irá receber um amigo, Boylan, que ele pensar ser amante dela. A
história ganha fôlego ao retratar, também, a vida de Stephen Dedalus e de Molly, que apresenta no final do romance
um longo monólogo interior. Além dessas três vozes, há inúmeras outras vozes
que se fazem ouvir, tornando a narrativa interessante, mas ao mesmo tempo
complexa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O
objetivo de Joyce, em <b>Ulysses</b>,
talvez tenha sido o dar uma forma e um significado ao imenso panorama de
futilidade e anarquia que é a vida contemporânea. É uma ficção construída em cima de estruturas
de um mito. Leopoldo Bloom é um cara que sabe sentir, mas que muitas vezes não
tem capacidade de se expressar. Quando consegue a capacidade expressiva,
desaprende a do sentir. Bloom sofre de uma solitária falta de articulação, numa
verborragia aparentemente sem sentido algum. As poucas ideias ou sentimentos
únicos e de sentidos múltiplos são facilmente deformados em clichês
convencionais. Quando Bloom observa, por exemplo uma lingerie<i> </i>numa vitrine, ele diz: "Perfume de
abraços o todo assaltou. Com carne faminta e obscuramente, por adorar ardia
mudo."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"> Joyce apresenta Bloom como o homem andrógino
do futuro. Mas não antes de definir as necessidades do homem moderno na figura
de Stephen Dedalus, um jovem em fuga do machismo presunçoso do mundo da Dublin
de seu pai. A personalidade de Bloom reflete um espelho partido de muitas
faces. E esse eu que Joyce celebrou em Leopld, um sujeito culto e versátil, que
combina inúmeras vidas passadas em sua própria vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Ulysses
apresenta uma mudança de técnica narrativa a cada um dos episódios,
aparentemente autônomos. A obra contém um quadro que discrimina, para cada
episódio, uma cor, uma técnica narrativa, um símbolo, etc, além de atribuir
horários e sentido a cada trecho do livro. Joyce teria elaborado esse quadro
para facilitar o acesso dos amigos ao livro e a seus detalhes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Há
três traduções da obra em português no mercado: o linguista Antônio Houaiss
apresentou a primeira tradução brasileira em 1966. Foi esta edição que tentei
ler, mas parei na metade por não estar preparado ainda para as inovações formais
de Joyce. Em 2007 saiu a tradução da professora Bernardina Pinheiro, pela
editora Objetiva, à qual ainda não tive contato. Em 2012 saiu a de Caetano Galindo, pela
Penguin/Cia. das Letras, considerada a melhor. É esta que eu li toda e recomendo aos
leitores. Aos que se interessam por literatura de qualidade, recomendo o livro
do próprio tradutor, Galindo, <b>Uma visita
guiada ao Ulysses de James joyce</b>, que busca auxiliar na aproximação do
leitor com a obra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Tradução
de Caetano Galindo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">======================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">James
Joyce. <b>Ulysses</b>. SP
Penguin/Companhia, 2012, 1112 pp. <o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-17095287409046821262016-12-18T14:39:00.001-02:002016-12-18T14:39:05.561-02:0029. O Processo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O
processo</span></b><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">,
de Kafka, que começou a ser escrito em 1914, é um dos melhores romances do
século XX.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Josef
K., procurador de um grande banco, ao
acordar certa manhã, estranhou a demora da dona da pensão que servia seu café todos
os dias. De repente, batem à porta,
entra um homem que ele nunca havia visto antes, acompanhado de mais duas
figuras esquisitas. Josef K. estava sendo detido sem ter feito mal nenhum,
certamente vítima de uma calúnia. De início, pensou tratar-se de uma
brincadeira de mau gosto arquitetada por motivos desconhecidos, talvez porque
ele completasse 30 anos de idade; ou talvez os guardas que invadiram sua casa
fossem serviçais da esquina, daí talvez estivesse correndo algum perigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Busca
argumentar com os guardas o erro que estavam cometendo, mas o inspetor lhe
adverte que ele e os guardas, na verdade, não sabiam nada dele. Por isso não
saberiam dizer absolutamente nada a respeito do processo, pois desconheciam seu
conteúdo. Josef K. questiona como poderá
trabalhar se está detido e fica surpreso ao ver que, na sala encontravam-se
mais três pessoas, colegas de trabalho que ele mal reconhecia, que o
acompanhariam ao trabalho para que continuasse a ter sua vida normal, até ser
chamado para a primeira audiência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Ao
comparecer à primeira audiência, Josef K. se dá conta, diante dos absurdos que
lhe são ditos e da manifestação dos presentes que formam duas torcidas, uma a
favor dele e outra contra, que tudo aquilo fazia parte de uma organização que
mobilizava não só guardar corruptíveis, instrutores e juízes simplórios, mas
sustentava uma magistratura de grau elevado e superior, com seu séquito
inumerável e inevitável de contínuos, escriturários, militares e outros
auxiliares, talvez até de carrascos que consistia em prender pessoas inocentes,
movendo contra elas processos absurdos sem nenhum fundamento. Josef K. se
insurge contra o juiz e se nega a participar daquela farsa, abandonando a sala.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">A
partir daí, com cada um que conversa,
obtém alguma informação difusa do processo e de pessoas que sabem alguma coisa
dele, ou dos responsáveis pela ação. Como não é chamado para uma segunda
audiência, decide ir novamente ao local no domingo seguinte, e percebe que ali
reside um casal de funcionários que, toda vez que há alguma intimação, têm de
retirar suas coisas do local.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Depois,
recebe em casa a visita dos dois guardas que o haviam admoestado na visita da
intimação, para serem açoitados por um espancador, na frente de Josef K., como
castigo por terem se portado de maneira inaceitável naquela ocasião. Depois
aparece um tio do interior que também soube do processo e veio visitá-lo, com
preocupações. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">E assim quase todos sabem alguma coisa do incidente. Decide
consultar um advogado, que lhe diz coisas absurdas e sem sentido, quanto a sua
defesa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Josef
K. não conseguia mais deixar de pensar no processo. Já tinha refletido com
frequência se não seria bom redigir um documento de defesa e apresentá-lo ao
tribunal. Queria expor nele um breve relato de vida e, a propósito de cada
acontecimento relevante, explicar os motivos pelos quais tinha agido daquela
maneira, se esse comportamento devia ser censurado ou aprovado segundo o seu
juízo atual, e que razões podia invocar em relação a este ou aquele. As
vantagens dessa defesa por escrito, diante da mera defesa através do advogado,
de resto não de todo irrepreensível, eram indubitáveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">E
assim ele vai se enredando em uma situação absurda que prende a atenção do
leitor até o final, no intuito de buscar compreender de que é acusado, quem o
acusa, numa obra magnífica, segura de mistério, angústia, premonições e
suspense.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O
processo</span></b><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">
apresenta uma contradição fundamental que sustenta a obra, o paradoxo de que,
quanto mais fantástica a aventura vivida, mais natural se apresenta a
narrativa, porque por mais estranhos que sejam os fatos que envolvem as
personagens, elas os aceitam com naturalidade e sem espanto. Joseph K. é alguém
que não se surpreende e não se deixa surpreender. É nessa contradição que
reside o segredo de Kafka; nos perpétuos balanços entre o natural e o
extraordinário, entre o indivíduo e o universal, entre o trágico e o cotidiano,
entre o absurdo e o lógico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Tradução
de Modesto Carone.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">=================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Franz
Kafka. <b>O processo</b>. SP, Cia. das
Letras, 1997, 334 pp. R$ 19,10<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-32153548294721072052016-12-18T14:36:00.001-02:002016-12-18T14:36:38.386-02:0028. A Metamorfose<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;">Gregor Samsa era caixeiro viajante. Escolhera uma
profissão cansativa, devido às viagens frequentes que fazia, com a troca de
trens, as refeições irregulares e ruins, um convívio social sem calor humano.
Acordar sempre cedo, sem ter o justo sono. O chefe sempre tratando-o de cima
para baixo, que além do mais tinha de se aproximar para responder-lhe, pois seu
chefe era surdo. Mas Gregor Samsa tinha a esperança de juntar o dinheiro para pagar
a dívida de seus pais e fazer a ruptura com aquele tipo de trabalho que o
aborrecia em demasia. A preocupação dele era fazer tudo para a família esquecer
o mais rapidamente possível a desgraça comercial que havia levado todos a um
estado de completa desesperança. Assim, começara a trabalhar com um fogo muito
especial e, quase da noite para o dia, passara de pequeno caixeiro a caixeiro
viajante, que naturalmente tinha possibilidades bem diversas de ganhar
dinheiro. Passou a ganhar tanto dinheiro que passou a assumir as despesas dos
pais e da irmã.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;">A narrativa inicia-se com a transformação:“Quando
certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua
cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas
duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado,
marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a
deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente
finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas
diante dos seus olhos.”<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;">A partir desse acontecimento insólito, a vida de
Gregor sofre uma reviravolta. A metamorfose sofrida altera sua relação com o
chefe e com cada membro da família.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<b><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;">A metamorfose,</span></b><span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;"> escrita em
1912, é a mais célebre novela de Kafka (1883/1924), escritor
tcheco que escrevia em alemão. Já foi dito antes que a metamorfose de Gegor
Samsa é um evento inverossímil. Para o leitor, pode ser que sim. No entanto, para a família, o evento não é inverossímil,
não é um elemento que provoque pavor, a não ser a surpresa inicial ao vê-lo
pela primeira vez. É uma presença que perturba, uma presença incômoda, mas é
algo assim como se de repente alguém encontrasse um animal feroz em sua
residência. Não vai além disso. Não ameaça a ordenação do mundo no qual surge.</span><span style="font-size: 16pt;"> <o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;">Tradução direta do alemão de Modesto Carone,
especialista em Kafka.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;">=================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="line-height: 26.25pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "Microsoft JhengHei","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;">Franz Kafka. <b>A
metamorfose</b>. SP, Cia. das Letras, 1997. 102 pp. <o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-59784825355485904272016-12-18T14:26:00.001-02:002016-12-18T14:26:31.197-02:0027. Em busca do tempo perdido<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">No caminho de Swann, </span></b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">o primeiro volume de <b>Em busca do tempo perdido</b> consta, em realidade, de três romances. O
primeiro, "Combray', em forma de devaneio, descreve a infância do terno e
apaixonado menino que era o próprio autor, bem como a vida de veraneio numa
pequena cidade, e as carinhosas relações com a mãe e a avó. Surge então a
figura de Swann, estabelecendo a ligação com Paris. Em "Um amor de Swann",
temos a história da paixão desse homem por Odette, antiga cocote. Swann tinha dinheiro, mas considerado um canalha, por se
envolver com mulheres de baixa condição social. Os dois casam, causando mal
estar na comunidade. O assunto de "Nome de lugar: o nome", é o amor
precoce do menino por Gilberta, filha de Swann e Odette. Completas em si
mesmas, essas histórias foram, contudo, parte integrante de um conjunto mais
amplo, cuja estrutura final só podemos compreender e admirar ao findarmos o
último dos 7 volumes da obra monumental de Proust.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Tradução
de Mário Quintana<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Em<b> À sombra das raparigas em flor, </b>o segundo
volume, vemos desenvolver e depois
fenecer o amor de Marcel por Gilberta, enquanto que Swann, após o casamento,
vai cada vez mais se aburguesando e enchendo-se de preocupações. Odette vence
os preconceitos da alta sociedade, que ainda a mantém afastada, mas reconhece e
acompanha sua ascensão. Aprendemos a conhecer melhor o escritor Bergotte,
Norpois, o diplomata, e o grande médico Cottard. Na praia de Balbec, onde fora
com a avó, Marcel admira um grupo de amigas: Albertina, Simonet, Andreia,
Gisela e Rosemonde, por quem se sente atraído. Torna-se também amigo do pintor
Elstir, cuja experiência artística o interessará sobremaneira. Trava conhecimento,
ainda, com o Barão de Charlus, irmão do Duque de Guermantes, e com o sobrinho
destes, Roberto de Saint-Loup, penetrando, assim um pouco e de longe naquele
mundo que se lhe afigurava inacessível e maravilhoso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Tradução
de Mário Quintana<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">No
terceiro volume, <b>O caminho de Guermantes</b>, ação se passa em Paris, Proust esboça da
sociedade parisiense um quadro de esplendor deslumbrante. Como figura central
sobressai Oriana, Duquesa de Guermantes, venerada de longe pelo tímido autor.
Este mantém estreita amizade com Roberto de Saint-Loup, que, por sua vez,
toma-se de paixão pela medíocre atriz Raquel. Um episódio comovedor é a morte
da velha avó, à qual o autor estava ligado por fervoroso afeto. O desempenho da
grande atriz trágica Berma, no papel de Fedra, torna-se o ponto alto da arte
descritiva de Proust neste romance, em cuja tessitura, colorida e rica como a
própria vida, encontramos o vaivém de inúmeras personagens e de seus dramas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Tradução
de Mário Quintana<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">O
quarto volume, <b>Sodoma e Gomorra</b>, envereda pela difícil análise da inversão
sexual, assim como apresenta Proust, na figura do Barão de Charlus e na de
Albertina. A sociedade francesa, na época de Proust, considerava a
homossexualidade um vício, uma doença do caráter, mas comportamentos afeminados
como o do Barão de Charlus e suas aventuras com o músico Morel eram aceitas na
alta sociedade em que transita o narrador do romance, assim como a desconfiança de alguns nobres
casados que mantinham relações
homossexuais com gigolôs, de forma discreta. A bissexualidade de
Albertina é vista com preocupação por Marcel, que a ama e quer casar-se com
ela. O cenário desse quarto romance se passa, em sua maior parte, em Balbec,
onde Marcel retorna para reavivar a lembrança de sua avó, recém morta. E seu convívio
nos salões dos Verdurin e dos Cambremer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Tradução
de Mário Quintana<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">A Prisioneira</span></b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"> apareceu em 1923,
depois da morte de Proust. Apesar das desavenças já tidas com Albertina, e da
revelação de alguns aspectos da vida que ela levava, o narrador sente que já
não lhe é possível prescindir de sua presença. Comunicando a sua mãe a decisão
de casar-se com Albertina, ele a leva para Paris e passa a viver com ela sob o
mesmo teto, para desgosto da mãe que, entretanto, não tem ânimo para
reprovar-lhe o procedimento. Embora já vivendo juntos, ele percebe que o seu
amor está-se encaminhando para o cansaço, e que só os ciúmes o mantém ligado à
noiva. Várias vezes lhe vem a ideia de abandoná-la, de libertar-se de
Albertina, para dedicar-se inteiramente à arte. Mas, obsedado pelo passado da
amiga, conserva-a enclausurada e sob uma vigilância constante que a transforma
numa prisioneira. Albertina reage e sempre que possível foge-lhe ao controle. O
narrador sabe que um dia terá de separar-se dela. Mas a ideia de que ela pode
abandoná-lo, por iniciativa própria, o desespera. Ele sente que vai perdê-la, mas
quer decidir sobre o momento da separação. Afinal, no momento em que decide
abandoná-la definitivamente, Francisca, a fiel empregada, vem comunicar-lhe que
Albertina partiu. Para sempre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Também
neste tomo, morre Bergotte, e desenrola-se em tom cada vez mais dramático, as
relações do Barão de Charlus com os Verdurin. Tratados antes pelo Barão com
certa reserva, agora se vingam dele, intrigando-o com Morel, seu amante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Tradução
de Manuel Bandeira<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">A fugitiva</span></b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">, o sexto volume, nos apresenta o narrador
abandonado por Albertina. Esse desfecho, em vez de trazer-lhe a almejada
libertação, vem apenas agravar-lhe as dúvidas e tormentos, e ele procura, para
fugir à realidade que o abate, embalar-se na ilusão de que ela voltaria, talvez
no mesmo dia. Mas Albertina morre, vítima de um acidente. E o narrador, ao
descobrir que ela era realmente culpada de todas as faltas suspeitadas, sofre e
se consome no inferno de um ciúme póstumo sem limites. Mas todos esses
padecimentos , pouco a pouco vão cedendo lugar ao esquecimento. Instala-se nele
a indiferença, que é o princípio da morte. Nesta altura, ele já não é o mesmo,
não é mais aquele que amara Albertina. E a verdade que brota neste volume denso
de inquietação e de humanidade, é que só cessamos de sofrer porque mudamos continuamente,
porque, à medida que a vida flui, nos tornamos estranhos a nós mesmos, até
desfigurar nossa identidade e nos
perdermos irremediavelmente no tempo. Gilberta, filha de Swann finalmente é
recebida no lar dos Guermantes, onde durante muito tempo seus pais não puderam
frequentar, devido ao passado de Odette. Agora Gilberta está podre de rica e
casa-se com o amigo de Marcel, Roberto Saint-Loup, cuja identidade homossexual
é revelada no final deste tomo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Tradução
de Carlos Drummond de Andrade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">O tempo redescoberto</span></b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">, último volume da
longa obra de Marcel Proust, adquirem relevo mais nítido os momentos essenciais
dessa busca do tempo perdido, Proust já
nos delineara uma fresta através da qual
pudemos perceber uma lenta tentativa de reconstrução de um universo contendo
uma outra realidade, mais profunda e mais vasta que esta da superfície a que
estamos habituados pelos nossos sentidos, um universo que está do outro lado
das aparências e contém, no mistério por vezes entrevisto de seus abismos, a
essência fundamental das coisas. Essa longa tentativa vem avançando através da
obra que tem as dimensões de toda uma vida dedicada à recaptação do tempo
morto, para chegar finalmente a esta milagrosa recuperação, ao tempo
descoberto. Tornam-se mais vivas, presentes e atuantes, as sondagens involuntárias através do bolinho
molhado no chá de tília; dos degraus desiguais do batistério de São Marcos, em
Veneza, e da entrada da residência dos Guermantes, em Paris; daquela passagem
da sonata de Vinteuil; do tinir da colher contra a porcelana da xícara; do
áspero contato do guardanapo despertando o azul sobrenatural do mar em Balbec; de todos
os momentos em que Proust mergulha em si mesmo para reencontrar a misteriosa
essência do tempo sedimentada em sua memória afetiva. Aqui, o escritor encontra
a outra dimensão da vida, aquela que, atravessando a bruma do tempo, talvez
participe do enigma da eternidade. É neste tempo que Marcel Proust repousa,
depois de nos haver dado esse maravilhoso fruto que esgotou toda sua substância,
e foi a razão de sua vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Tradução
de Lúcia Miguel Pereira<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">===================================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Marcel
Proust. <b>Em busca do tempo perdido</b>. 7
volumes,Globo Livros<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-49873201910594740782016-12-18T14:26:00.000-02:002016-12-18T14:26:12.299-02:0026. O retrato de Dorian Gray<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"> Basil Hallward, pintor de quadros,
apaixona-se pela beleza do jovem Dorian Gray, um dândi da sociedade londrina,
vivendo das rendas de sua família rica. Quis, então, compor um quadro do jovem
que representasse o máximo às suas pretensões de artista. A beleza
de Dorian Gray era tanta que talvez a arte não fosse capaz de
expressá-la. O artista, assim, pensou uma
forma completamente diferente de arte, um estilo inteiramente novo. O quadro a ser pintado teria de harmonizar a
alma e o corpo, inaugurando, quem sabe, uma nova escola contendo toda a paixão
do espírito romântico e toda a perfeição do espírito grego. Entretanto, Basil
sentia uma insegurança no comportamento de Dorian Gray, como alguém que só
existia para agradar a sua vaidade. Mesmo assim, fez o retrato.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Dorian, entretanto, tinha ciúmes do retrato
que Basil pintara dele, porque tinha ciúmes de qualquer coisa cuja beleza não
morre. Na vida, o tempo tira a todo o
instante algo dele e dá ao quadro. Se o
quadro pudesse mudar, se a pessoa de Dorian pudesse ser belo e jovem pela vida
toda e o quadro mostrasse seus sinais de decadência, seria a perfeição. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">O jovem era apaixonado por uma atriz de
teatro, filha de outra atriz. Portanto, oriunda de uma família pobre. Henry,
seu amigo e mentor, incentiva-o a largar
a atriz, que não estaria à altura de sua beleza. Dorian, entretanto, busca
provar que essa atriz era a mais maravilhosa das criaturas, convidando Henry e Basil
para assistir ao espetáculo <b>Romeu e
Julieta</b>, protagonizado por ela. O que se vê no palco, entretanto, é um
desastre. Ela representa quase tudo de forma desastrada, para frustração de
Dorian. Ao visitá-la no camarim, após o fim do espetáculo, ela lhe diz que sabe
que representou mal, porque a arte não a satisfaz mais do que o amor que ela
sente por Dorian. Ela se dispõe a abandonar a arte da representação em prol do
amor por ele. Isso marca o fim da relação dos dois. Dorian a rejeita. A paixão
dele não era pela pessoa da atriz, mas pela função que ela teria, de
representar a arte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Dorian era imaturo. Acreditava que somente
pessoas superficiais precisam de anos para se livrar de uma emoção. Um homem
que é senhor de si mesmo pode fazer cessar uma tristeza com a mesma facilidade
com que inventa um prazer. Não quer estar à mercê das emoções, mas usá-las,
aproveitá-las e dominá-las.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Após abandonar a atriz, passa a ter uma
vida desregrada e imoral. Para ele, os modos passam a ser mais importante que a
moral. Muitos da sociedade fugiam dele. Só o toleravam nas rodas sociais por
causa do seu dinheiro. Assim, começa a haver a decadência de uma beleza que
fora, um dia, aparentemente tão notável. Passou a sentir-se entristecido pelo
reflexo que a ruína causava nas coisas belas e maravilhosas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Dorian passou a odiar Basil, acusando-o de
incentivá-lo a se gabar de sua boa aparência. Apresentou-o a Henry que lhe
explicou as maravilhas da juventude, e finalizara um quadro que lhe revelava a
maravilha da beleza. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Agora, o quadro, completamente transformado pela passagem
do tempo, representava um sátiro. O quadro, a feiura de uma imagem que tornava
as coisas reais. Em <b>O retrato de Dorian
Gray</b>, Oscar Wilde levanta o tapete que cobre a superfície da beleza,
revelando a sujeira das conveniências<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Oscar Wilde (1854/1900) nasceu em Dublin,
passando a residir em Londres, era cultor da Arte pela Arte. O escritor
posicionava-se contra a mentira na arte, afetando a criatividade do artista.
Para que o artista pudesse atingir a máxima liberdade na criação artística, era
preciso que essa criação não fosse imitativa, buscando um distanciamento da realidade como meio de atingir a
verdadeira arte e a beleza poética.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Wilde teve uma vida irreverente, recheada
de escândalos, devido a sua fama de escritor e dramaturgo. Era homossexual,
apesar de casado e pai de dois filhos. Envolveu-se numa relação tempestuosa com
Afred Douglas. Apesar da homossexualidade ser crime na Inglaterra, a
importância do escritor nos meios burgueses e sua privilegiada condição social
o livravam de problemas com a polícia. Quando move uma ação contra o pai de
Douglas, o marquês de Queensberry, por difamação e calúnia, perde a ação e é
condenado e preso por dois anos. Ao sair
da prisão conta com a ajuda da pensão da esposa para viver, mas isso lhe é
cortado, quando Wilde continua vivendo uma vida promíscua, bebendo em demasia.
Morre em estado de mendigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Tradução de Paulo Schiller<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">======================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 14.0pt;">Oscar Wilde. <b>O retrato de Dorian Gray</b>. SP, Penguin/Companhia, 2012, 164 pp.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6179239283177075047.post-31821251911839100712016-12-18T14:25:00.002-02:002016-12-18T14:25:51.738-02:0025. Lorde Jim<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , sans-serif;">O
polonês Joseph Conrad (1857/1924) nasceu numa região que, na época, era
disputada pela Polônia, Rússia e o Império Austro-Húngaro. Em casa, falava
polonês, na escola, o russo. Em sua juventude, talvez para fugir do serviço
militar russo, foge e começa a trabalhar em navios mercantes, vivendo um bom
tempo em Marselha, aprendendo o francês, passando a ler a literatura francesa,
especialmente Flaubert, de quem era admirador. Entra em contato com a língua
inglesa, através de sua literatura, e passa a viver em Londres, onde é recebido
de braços abertos. Começa, assim, a
escrever suas estórias em inglês, sendo considerado um dos escritores mais
significativos da literatura inglesa. Conrad, que escreveu a maior parte de
seus livros, tendo o mar como cenário, não é apenas um escritor de aventuras
marítimas para o entretenimento, suas personagens têm a alma em profundidade. Seus
melhores livros são: <b>Coração das trevas</b>
(já comentado aqui), <b>Lorde Jim</b> e <b>Nostromo</b>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "microsoft jhenghei" , sans-serif;">Lorde
Jim</span></b><span style="font-family: "microsoft jhenghei" , sans-serif;">
é narrado por Marlow, personagem recorrente na obra de </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , sans-serif;">Conrad, contando a
história de Jim, um vendedor marítimo. Sua característica essencial era a
esperteza. Seu trabalho consistia em abordar os capitães dos navios que
ancoravam no porto e levá-los para um armazém cheio de coisas boas de comer e
beber a bordo, além de todos os acessórios necessários à embarcação. Jim tinha
para com seus clientes um devotamento sublime. Tinha a vantagem de ser
possuidor de uma educação de marinheiro. No porto, todos os conheciam por Jim,
e nada mais. Tinha outro nome, mas procurava ocultá-lo, para esconder um fato
que teve grande repercussão em sua vida. Quando acontecia de alguém descobrir
seu passado, buscava fugir o mais rapidamente dali e procurar outros portos
para trabalhar. Era um marinheiro
exilado do mar. Como esse fato o perseguia, havia sido visto nos lugares mais
distantes e exóticos do mundo. Mais tarde, quando se viu escorraçado para
sempre dos portos e da sociedade dos brancos, passou a viver entre os malaios
da aldeia que escolhera na selva para aí esconder sua deplorável sensibilidade.
Entre os nativos, ganhou uma palavra a seu nome: chamavam-lhe <b>Lorde Jim</b><span style="font-size: large;">.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif";">Quem
nos conta boa parte da história é Marlow, que encontra Jim no tribunal, julgado
por abandonar o navio em que trabalhava, quando afundava com grande número de
muçulmanos, fugindo num bote com o capitão e mais dois marujos. Aconteceu que o
navio não afundara e dos quatro que abandonaram a tripulação à deriva, apenas
Jim permaneceu para ser julgado. Condenado, é proibido de exercer o serviço de
marinheiro no mar. Com a ajuda de Marlow, consegue uma série de empregos que
acaba abandonando, quando é descoberto pelo que fez. O problema de Jim, é que ele
acredita que é possível começar do zero e refazer sua vida, mas não consegue
agir diante de seu passado, que acaba aniquilando-o aos poucos. As aventuras de
Jim, fugindo de seu passado,impõem-lhe, com crueldade, quebrar, destruir, aniquilar tudo o que vê,
conhece, ama ou odeia, no afã de querer varrer para sempre de sua vida, a tragédia
moral que vivera. O desconforto causado pela indefinição, pelo autoboicote e
pela dificuldade de assumir um erro, provoca- lhe apreensão, medo e angústia.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif";">A
tradução que li é de Mário Quintana. Há uma tradução de Julieta Cupertino, que
vem se dedicando a traduzir as obras de Conrad para o português, pela Editora
Revan. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif";">===============================<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="background: white; line-height: 21.0pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif";">CONRAD,
Joseph. <b>Lorde Jim</b>. Tradução
QUINTANA, Mário. São Paulo: Abril Cultural, 1982. Esta edição você encontra nos
sebos virtuais, valendo de 3 a 30 reais.</span><span style="color: #252525; font-family: "microsoft jhenghei" , "sans-serif"; font-size: 13.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
Paulo Renatohttp://www.blogger.com/profile/10809698922363940704noreply@blogger.com0