O baiano João Ubaldo Ribeiro (1941 abre A casa dos budas ditosos, explicando ao leitor a encomenda da Companhia das Letras para escrever um romance sobre o pecado da luxúria, da Coleção Pequenos Pecados, que inclui como tema de cada livro um dos sete pecados capitais. Entretanto, (aí começa a ficção) os originais que constituem A casa dos Budas ditosos foram entregues por um desconhecido ao porteiro do edifício onde João Ubaldo trabalhou, acompanhado de um bilhete assinado pelas iniciais CLB. Informava que se tratava de um relato verídico, no qual apenas a maior parte dos nomes das pessoas citadas foi mudada, e que sua autora era uma mulher de 68 anos, nascida na Bahia e residente no Rio de Janeiro. Autorizava que a obra fosse publicada em nome do João Ubaldo, embora preferisse que ele revelasse aos leitores a verdadeira origem, pois achava irresistível deixar as pessoas sem saber no que acreditar. E assim foi feito. O autor conta o pecado da luxúria através da boca de uma senhora (69 anos) experiente nas lidas da vida sexual. Ela nos diz, por exemplo, que seu texto é Sociohistoricoliteropornô, já que é fixada na fase oral canibalista, pois adora qualquer tipo de ingestão. Antigamente ela já era fixadinha, mas só agora viu o comportamento com clareza. Afirma que não gosta de psicanálise. Em sua casa, bem antes de Freud achava-se obsceno ficar contando intimidades e fraquezas a estranhos, mas de vez em quando usa uma frase que é jargão de psicanalista: "- isso é inevitável a sua geração". Acha-se encaixada nessa situação de fixada na fase oral, não se arrepende de nada do que fez, mas afirma que não há bons tempos, só há tempos. Nada de saudosismo, que é uma espécie de masturbação sem verdadeiro prazer, uma inutilidade atravancadora, que no máximo pode ser empregada para brincadeiras, mas geralmente é perda de tempo mesmo. Aqueles tempos tinham seu charme, mas eram duros também, cada tempo tem sua dureza. Tomar nas coxas, por exemplo, exige know-how, para ser desfrutado decentemente. A mulher tem que treinar a postura, para estar segura de que vai atingir um orgasmo.
Em uma linguagem obscenamente prazerosa, João
Ubaldo conduz com talento e competência sua narrativa. Prova
de que trabalho por encomenda pode render bons frutos. O livro é dedicado às
mulheres, para que os homens também o leiam. Todos vão se divertir à beça.
Essa é mais uma obra
importante que se encontra esgotada. Nos sebos virtuais é possível encontrar
um exemplar em muito bom estado de conservação por um preço médio de R$ 15,00.
Um exemplar novo, por um preço de R$ 35,00.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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João Ubaldo Ribeiro. A casa dos Budas ditodos. SP, Cia. Das
Letras, 1999, 164 pp.
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