O romance do cubano Leonardo Padura conta a história do
escritor Iván Cárdenas Maturell, que na década de 1970 entra em contato com um homem esquisito que passeava numa praia de Havana com dois cães de raça russa.
Os dois acabam se aproximando. Quando esse homem morre, deixa a Iván uns papeis
contando seu passado e um fato
importante que marcou a história da Revolução Russa de 1917. Esse homem
era Ramón Mercander del Río, o homem que
matou Trotsky a mando de Stálin. Vinte anos depois, Iván decide trabalhar nos
papeis deixados por Ramón. A partir de
então, Iván questiona o próprio destino numa ilha submetida à União Soviética
comandada por Stálin e os reflexos disso, após a extinção do URSS em 1991,
mergulhando Cuba numa série crise econômica e social.
A geração de Iván era dos crédulos, que deram o suor e a vida em prol de um socialismo utópico que agora compreendem como traiçoeiro. Aceitaram romanticamente e justificaram tudo com os olhos postos no futuro. Não ficaram sabendo das repressões e dos genocídios de povos, etnias, partidos políticos inteiros, das perseguições mortais a inconformistas e religiosos, da fúria homicida dos campos de trabalho, do assassinato da legalidade e da credulidade antes, durante e depois dos processos de Moscou. Também não fizeram a menor ideia de quem tinha sido Trotsky ou por que o tinham mandado matar, ou das combinações infames da União Soviética com o nazismo e com o imperialismo, da prostituição dos ideais e das verdades, transformados em palavras de ordem do camarada Stalin, com sua rígida ortodoxia que usou (ele e seus seguidores) para condenar a menor dissidência a seus desmandos e megalomanias.
Agora, a muito custo, Iván podia compreender como e por
que toda aquela perfeição havia desmoronado com um acesso mínimo à informação e uma ligeira mas
decisiva perda do medo que dera consistência àquela estrutura. O gigante tinha pés de barro e só se mantivera
ereto graças ao terror e à mentira. As profecias de Trotsky acabaram por
cumprir-se, e Iván (e os cubanos) sem saber ou não querendo saber de nada. Cada vez mais deprimido, Iván se mata, deixando o relato de
sua história a um amigo escritor ciente dos fatos, que decide enterrar os
papeis junto com o corpo de Iván, sem que fossem publicados. Ironicamente, esses papeis constituem a história de O homem que amava os cachorros, de
Leonardo Padura.
Tradução de Helena Pitta
Tradução de Helena Pitta
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Leonardo Padura. O
homem que amava os cachorros. SP, Boitempo, 2013, 592 pp, R$ 69,00
Parece um bom livro. Vou adiciona-lo na minha lista.
ResponderExcluirEncontrei seu blog por causa do livro do Don Delillo.
Estou te seguindo.
Espero sua visita.
Beijos.
http://dancadasbolhas.blogspot.com.br/
Seja bem-vinda, Samira. Vou te visitar, sim. Abraço
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