Omeros é um poema
épico do escritor caribenho Derek Walcott, ganhador de um Nobel de Literatura, publicado
pela primeira vez em 1990. A obra se baseia em mitos universais, para retratar
a condição humana de homens simples, os
pescadores de Santa Lúcia, num meio
hostil, lutando pela identidade e pela integração de todas as raças. O poema faz referência aos principais personagens de Homero
na Ilíada, numa visão moderna do
mito . Santa Lúcia faz parte das Pequenas Antilhas, tendo ao norte Martinica,
departamento francês de ultramar, e ao sul Saint Vicent e Granadas. Santa Lúcia representa a Ítaca de Ulisses; os
reinos de Calipso, Circe e Nausícaa, a terra natal de Homero. Restos de um
cemitério francês na ilha caribenha são os restos de Troia. O mar das Antilhas
é o mar da Grécia, o mar, a analogia mais significativa, o pano de fundo
majestoso de Omeros, dominando o poema, com seus balanços, seus
cheiros, seus fragores, suas fúrias.
Três linhas
narrativas principais se cruzam ao longo do livro: a rivalidade homérica de
Achille e Hector sobre seu amor por Helen; a história entrelaçada do major Plunkett e sua
esposa Maud, que vivem na ilha e deve reconciliar-se com a história da
colonização britânica de Santa Lucia; a narrativa autobiográfica do próprio
Walcott, como o próprio autor do poema (contradizendo a voz impessoal das
epopeias), para falar de sua busca particular de identidade, como mulato, como
antilhano, como homem e como poeta de uma língua que foi dos dominadores ingleses
antes de ser sua. A figura de Homero é identificada a Sete Mares, preto velho
cego, que depois de passar a maior parte da vida navegando pelo mundo,
identifica-se com o mar. Sentado com seu
cão à sombra da farmácia (o lugar da cura), conhece os males da humanidade e
prevê o seu destino; é o bardo e o profeta, igualando-se aos contadores de
história presentes nos povos da África e aos xamãs (aqueles que enxergam no
escuro) dos indígenas.
Achille, Helen e
Hector (que substitui Paris), formam o triângulo amoroso que movimenta a ação
dramática do poema. A deslumbrante Helen é a criada negra de olhos amendoados, disputada por Achille e Hector. Na realidade,
são ambos simples pescadores negros que lutam entre si, se odeiam, mas
preservam a dignidade na admiração secreta que um tem pelo outro. Achille é o
mais forte dos dois. E é também o único que se preocupa com o problema de sua
identidade, que deseja voltar às origens e reencontrar seu pai. Achille é um
Aquiles mais simpático, que não atormenta seus amigos com seus ressentimentos e
não se mancha com sangue de Heitor. Outra diferença importante é que no poema
de Walcott o companheiro do herói não é Prátoclo, mas Filoctete (o Filoctetes
de Homero foi um herói grego que foi abandonado numa ilha depois de ser mordido
por uma cobra, deixando-o com uma ferida incurável que causava um cheiro
horroroso que afastava todos que tentavam se aproximar dele. Entretanto, sem
Filoctetes a guerra não seria ganha e os guerreiros tiveram que trazê-lo de
volta para lutar com a ferida e tudo). O negro Filoctete também tem um
ferimento fétido causado por uma âncora, mas
vive na presença de toda a comunidade.
Derek Walott nasceu em 1930 na cidade de Castries, capital
de Santa Lúcia. Filho de um casal de professores, é descendente de ingleses e
de negros. Depois de sua formação universitária na Jamaica, ganhou uma bolsa
para estudar teatro nos Estados Unidos. Suas obras mais significativas situam-se
nas áreas de poesia e do teatro. Apesar
de sua qualidade poética reconhecida nas
literaturas de língua inglesa e de ter ganho o Nobel, infelizmente é muito
pouco conhecido no Brasil. A tradução
integral para o português de Omeros,
feita pelo conceituado tradutor e crítico literário Paulo Vizioli é um trabalho
pioneiro.
O exemplar novo varia de 28 a 57 reais. Pesquise.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Derek Walcott. Omeros.
2ª ed SP, Cia. das Letras, 2011, 440 pp.