George Steiner é renomado professor e crítico literário.
Nascido em Paris, em 1929, com profunda erudição filosófica, pedagógica e
literária, já lecionou nas universidades em Cambridge, Genebra, Harward e Yale.
Em Lição dos Mestres, ele nos propõe uma reflexão sistemática sobre a interação
sutil e complexa entre poder e saber, confiança e paixão, a partir da relação
de mestres e alunos, os discípulos, partindo de Sófocles e Platão, Jesus e seus
apóstolos, Virgílio e Dante, Nietzche e o músico Peter Gast ( o filósofo achava
que estava enlouquecendo pela irremediável solidão decorrente da incompreensão
de seus alunos), Husserl e Heidegger, etc.
Steiner nos diz que o discípulo representa um caminho para
que o intelecto não envelheça. Para ele, conhecimento é
transmissão. No progresso, na inovação, por mais inventivos que sejam, o
passado está presente. Os mestres seriam os guardiães e os transmissores da
memória. Os discípulos aprimoram, disseminam ou rejeitam os fios que tecem essa
identidade pessoal e social.
Steiner nos fala, ainda, do caráter “sacerdótico” do
magistério. Em qualquer contexto étnico, qualquer que seja a civilização, o
magistério sempre teve profundas raízes na experiência e no culto religioso.
Nas origens do magistério encontra-se o sacerdócio. O mestre medieval ou do
renascimento era o teólogo. A herança
teológica, entretanto, foi se enfraquecendo ao longo do tempo. Porém, suas
convenções mantiveram-se na modernidade. Essas convenções de espírito eram
subscritas por uma reverência praticamente inquestionável e evidente.
Reverenciar o mestre era a forma natural de relacionar-se com ele.
O crítico toca numa questão relevante, e pouco comentada
nessa relação de mestre e discípulo: seu aspecto erótico. Existe muito da sedução,
da conquista que o mestre exerce sobre o discípulo e da submissão deste a seus
caprichos. Alguns mestres burlaram o lado ético dessa questão e tiveram
relacionamentos íntimos com seus discípulos: Jung e sua paciente russa Sabina Spielrein, que depois se tornou psiquiatra, Ingmar Bergman e Liv Ullman, para citar os mais recentes
conhecidos.
Apesar de apresentar alguns conceitos
contraditórios (há quem possa implicar com a afirmação de que ensinar é
transmitir, por exemplo), trata-se de um livro que qualquer pessoa interessada
em cultura deve ler.
Paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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George Steiner. Lições dos Mestres.
2ª ed., RJ, Record, 2000, 2010, 240 pp.
R$ 32,90
Saudades de você! Adoro teus textos, tuas crônicas. Bjs
ResponderExcluirObrigado, Duda! Também te adoro e à turma do Meiudo! Beijo
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