Sartre
escreveu em O que é a literatura?, que um dos principais motivos da criação
artística seria a necessidade do homem sentir-se essencial em relação ao mundo.
O universo do escritor deveria mostrar em toda a sua profundidade o exame, a
admiração, a indignação e o amor generoso como promessa de mudar o mundo para
compactuar com a liberdade do leitor. Grosso modo, a obra de arte, de qualquer
ângulo, é um ato de confiança na liberdade dos homens. Para isso, deve-lhe
restituir a indignação e a opacidade do mundo como forma de reflexão.
Os caminhos da liberdade pode ser visto como datada, já que os acontecimentos e o pensamento de Sartre modificavam-se de acordo com os acontecimentos do século XX. Vale a pena ser lida pelos amantes de Sartre, como forma de tomar contato com as vertentes do existencialismo, do qual ele foi um dos propagadores mais eminentes.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Sartre. A idade da razão. Rio, Nova Fronteira, 2012, 372 pp. R$ 16,90 (Saraiva de bolso)
_____ Sursis. 4ª ed. Rio, Nova Fronteira, 2005, 440 pp. R$ 53,90
_____ Com a morte na alma. Rio, Nova Fronteira, 2012, 376 pp. R$ 14,40 (Saraiva de bolso)
Sartre
teve suas atitudes políticas oscilando entre comunismo, anticomunismo e
neutralismo, oscilações compreensíveis a um intelectual que pensava o mundo em
toda sua amplitude, discutidas no âmbito filosófico e político. A
supervalorização que teve esses aspectos, entretanto, injustiçou sua obra
romanceada e dramatúrgica de valor apreciável. Sartre escreveu pelo menos um
romance que perdura até hoje: A Náusea. E uma peça igualmente memorável: As Moscas.
A
trilogia Os caminhos da liberdade, de
1945, compreende três romances, desenvolvendo estudos morais, de alcance social
e político de importância documentária indiscutível, mas de mérito literário
menor, conforme aponta Otto Maria Carpeaux em sua monumental História da
Literatura Ocidental. Havia o planejamento de um quarto romance, que não chegou
a ser escrito.
A idade da razão, o primeiro, passa-se em
Paris, 1938, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Mathieu é um professor de
filosofia que defende a ideia da liberdade individual, desprezando qualquer
tipo de compromisso. A gravidez inesperada de sua namorada, entretanto, coloca
em xeque seus conceitos e os dos que o rodeiam. Mathieu propõe o aborto e a namorada em
princípio aceita, sem convicção. Entretanto, Mathieu não tem dinheiro para
fazer o serviço com segurança e busca conseguir o dinheiro emprestado com
amigos, sem sucesso. Crenças que forjou na sua juventude são desafiadas. Deve
tomar decisões que afetarão sua vida futura. Decide roubar o dinheiro de uma velha
boêmia sovina. No final, assume que roubou o dinheiro, mas a namorada decide
não interromper a gestação e os dois se separam. Sartre levanta nesse primeiro
volume, a questão de que realmente seja a liberdade, o compromisso e o amor.
No
segundo, Sursis, os
acontecimentos nas vidas de diversas pessoas na Europa se entrecruzam, enquanto
o continente se consome na angústia da inevitabilidade da guerra. Os
personagens de “A Idade da Razão”, cada um vivendo as suas vidas, à espera de
serem chamados como reservistas do exército francês, todos com a certeza de não
poderem mais sonhar com a liberdade. A história transcorre em sete dias que
antecedem o acordo da França e Inglaterra com a Alemanha, como tentativa de
evitar a guerra. Para Mathieu, a iminência da guerra significaria que sua vida
estaria morta. Considerava-se um homem pacífico e, naquele momento, o futuro se
lhe apresentava como uma incógnita. Nesse romance, Sartre descreve a angústia de
todos os estratos da população. Ele se utiliza desse contexto para pensar,
através de um emaranhado de situações, sobre o que a liberdade representa de
importante para o ser humano e a ameaça que isso representa, com o advento da
guerra.
Com
a morte na alma, terceiro volume da trilogia, conduz o leitor a
uma viagem amarga dos mesmos personagens, marcada por um mesmo acontecimento: a tomada
de Paris pelos alemães em 1940. Entrelaçam-se reflexões de um grupo de soldados
perplexos ante a derrota iminente, de indivíduos que tentam escapar, mas se
encontram submersos na impotência e na presença avassaladora da morte. Mathieu encontra-se
lutando pelo exército francês. Todos os heróis da saga chegam a um momento
crucial de suas vidas. A guerra os obriga a fazer escolhas, cujas consequências
podem ser vitais. Sartre descreve personagens sempre torturados por sua escolha
excepcional nesse contexto da guerra. Trata-se da privação da liberdade.
Os caminhos da liberdade pode ser visto como datada, já que os acontecimentos e o pensamento de Sartre modificavam-se de acordo com os acontecimentos do século XX. Vale a pena ser lida pelos amantes de Sartre, como forma de tomar contato com as vertentes do existencialismo, do qual ele foi um dos propagadores mais eminentes.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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