Caio Fernando Abreu
nasceu em Santiago do Boqueirão (RS) em 1948 e faleceu em Porto Alegre em 1996.
Estudou Letras e Artes Cênicas, mas não teria concluído nenhum dos dois cursos,
preferindo transferir-se para São Paulo, onde atuou como jornalista em diversos
jornais e revistas de grande circulação nacional. Notabilizou-se no conto,
apesar de exercitar a crônica jornalística e ter escrito dois romances em sua
curta vida: Limite branco e Onde andará Dulce Veiga?. Também foi
dramaturgo. Se você era ativo culturalmente na década de oitenta em Porto
Alegre, certamente curtia o teatro gaúcho e provavelmente assistiu a duas peças
suas de sucesso: Pode ser que seja só o
leiteiro lá fora e A maldição do
vale negro, ambas montadas no Teatro do Clube de Cultura, na rua Ramiro
Barcelos. Caio também fez traduções.
A geração de
que Caio fez parte sofreu com a censura da ditadura militar. Geração que viveu
uma espécie de apoteose criadora. Caracterizava-se pela ruptura da estrutura
tradicional, especialmente do conto, apresentando uma narrativa preocupada em
fotografar instantes, episódios ricos em sugestões e flashes reveladores de
angústia, medo, solidão, através de uma prosa carregada de informalidade, muito
mais chegada a Rita Lee e Cazuza do que ao estilo formal da Academia.
Leitor assíduo de Clarice
Lispector, apresenta em sua escritura influências da escritora genial. Na
década de 70, publicou dois livros de contos, O ovo apunhalado (1975) e Pedras
de Calcutá (1977). Mas a fama veio com os contos de Morangos Mofados, editado pela
Brasiliense, em 1982. A Brasiliense
lançava no início dos anos 80 a coleção de bolso “Cantadas Literárias”,
revelando autores que despontavam no cenário nacional como Caio Fernando Abreu,
a poeta Ana Cristina César, Paulo Leminsky, Marcelo Rubens Paiva e Francisco
Alvim, citando apenas alguns dos brasileiros da coleção.
Pedras de Calcutá é um livro formado por contos distribuídos em
duas partes: Mergulho I (a vivência alucinatória da própria experiência
física de forma atormentada, como se o corpo dos personagens suportassem a
própria vida) e Mergulho II (indivíduos em busca de fatos capazes de
oferecer soluções quase improváveis, resultando em ansiedade, tensão e
expectativa quase desesperadora). Os contos exprimem o horror que pode existir
entre pessoas que se descobrem perseguidas não tanto por uma ditadura, mas por
si mesmas.
O gosto por ambientes
urbanos, a escrita angustiada e a temática da solidão compõem o quadro das
características literárias de Caio. Sua narrativa é uma sondagem da angústia e
da solidão daqueles que vivem perdidos entre arranha-céus. Sua prosa
introspectiva revela a pressão de se sentir sozinho, esmagado por uma realidade
opressiva que não faz a menor questão de estimular alguém a permanecer vivo. Em
seus textos, há também a presença de uma radiografia dos sentimentos e das
relações amorosas, com especial apego aos deslizes e incertezas.
É bastante comum a
literatura de qualidade produzida no Brasil encontrar-se esgotada. É o caso de
Pedras de Calcutá. Você acha um exemplar seminovo nos sebos virtuais por um
preço médio de 30 reais.
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Caio Fernando Abreu. Pedras de Calcutá. SP, Cia. Das Letras,
1996, 132 pp.
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