Carlos Nejar divulgou há pouco tempo no programa Globonews Literatura sua monumental História da Literatura Brasileira (da carta de Caminha aos
contemporâneos). Durante a entrevista, referiu-se a Adonias Filho como o grande escritor que havia
sido relegado a segundo plano pelos estudiosos da literatura brasileira, por
questões ideológicas. Nejar não dá detalhes sobre a afirmação, mas se o fato ocorreu por causas ideológicas, poderia ter sido, talvez, porque o autor serviu ao governo militar, tendo sido membro do Conselho
Federal de Cultura, de 1969 a 1973, período áureo da ditadura militar, e de
1977 a 1990, ano de sua morte. Hoje, entretanto,
sua obra está sendo revalorizada e reeditada. Adonias Filho foi membro da Academia Brasileira de Letras.
A obra do baiano Adonias Filho (1915/1990) é carregada de imagens fortes, retratando o sentimento trágico da vida. Suas personagens, por vezes, vivem a dolorosa miragem gerada pela mata. Perto de Itajuípe, vizinha a Ilhéus, onde nasceu o escritor, acontece quase toda sua narrativa. A maior parte de suas personagens são bugres, índios e pequenos agricultores arruinados, ao contrário de Jorge Amado que situou alguns romances no ciclo do cacau, com personagens negros ou mulatos. As personagens de Adonias Filho são seres embrutecidos pela paisagem hostil, em vales secos. As pedras, cobrindo a planície, rasgando o chão, são como dentes afiados, limados, cortantes, formando mandíbula fechando a passagem, constituindo a fronteira de outro universo. Aí caminha o homem, em conflito entre um corpo destrutível e uma alma sem governo, em agonia, numa região onde se permite o crime, o calor do ambiente sufocando o coração do homem que já não se considera humano. Carecem, então, de sentimento. A violência substitui o afeto, muitos são tratados como se fossem bichos.
Adonias Filho. Memórias de Lázaro. 3ª ed, Bertrand Brasil, 1978,168 pp. R$ 33,00
Corpo Vivo. 32ª ed, Bertrand Brasil, 2001, 134 pp. R$ 35,00
O Forte. 10ª ed, Bertrand Brasil, 2002, 160 pp. R$ 33,00
Léguas da Promissão. 4ª ed, Civ. Brasileira, 1975, 147 pp.
Esgotado. Preço médio nos sebos de R$ 10,00
As Velhas. Bertrand Brasil, 2004, 160 pp. R$ 37,00
Luanda Beira Bahia, 2ª ed, Civilização Brasileira, 1975, 144 pp.
Esgotado. Preço médio nos sebos R$ 10,00
A obra do baiano Adonias Filho (1915/1990) é carregada de imagens fortes, retratando o sentimento trágico da vida. Suas personagens, por vezes, vivem a dolorosa miragem gerada pela mata. Perto de Itajuípe, vizinha a Ilhéus, onde nasceu o escritor, acontece quase toda sua narrativa. A maior parte de suas personagens são bugres, índios e pequenos agricultores arruinados, ao contrário de Jorge Amado que situou alguns romances no ciclo do cacau, com personagens negros ou mulatos. As personagens de Adonias Filho são seres embrutecidos pela paisagem hostil, em vales secos. As pedras, cobrindo a planície, rasgando o chão, são como dentes afiados, limados, cortantes, formando mandíbula fechando a passagem, constituindo a fronteira de outro universo. Aí caminha o homem, em conflito entre um corpo destrutível e uma alma sem governo, em agonia, numa região onde se permite o crime, o calor do ambiente sufocando o coração do homem que já não se considera humano. Carecem, então, de sentimento. A violência substitui o afeto, muitos são tratados como se fossem bichos.
Memórias de Lázaro,
narra a vida de Alexandre, separado criança dos pais e sendo criado por um
tio. Em sua vida não há lugar para afeto. Quando isso acontece, a
natureza de seu destino muda e elementos trágicos mexem seu destino, que sempre
lhe foi dura, num universo sem lei nem rumo, mantendo-o trancado em si mesmo,
na busca de uma experiência qualquer para os mistérios do mundo e do ser.
Corpo Vivo,
situado ainda nesse universo duro e cruel, narra a vida de Cajango, que teve
toda a família morta por jagunços, quando tinha 11 anos de idade. Auxiliado
pelo padrinho, é levado a viver com um tio, um bugre rude que lhe ensina a
forjar o ódio para vingar a morte da família e restituir as terras que lhes
foram roubadas. Entretanto, quando o afeto se faz presente em sua vida, quando
se apaixona por Malva, seu destino é alterado e o sentimento trágico da vida e
da morte passa a acompanhá-lo.
O Forte
narra uma história de amor mal costurada entre Jairo, um médico, e Tibiti, a
neta do negro Olegário, que matou o genro para salvar a filha e a neta. Olegário
julgado e feito prisioneiro no forte que guarda trezentos anos da história da
Bahia e de como Olegário e Jairo se conheceram. A destruição do forte
representa um recomeço na vida de Jairo e Tibiti. O romance carece da carga
dramática dos romances anteriores. Aqui, a violência humana está mais dosada.
Léguas da Promissão é um livro de novelas. Apresenta o mesmo universo hostil e trágico que
o autor gosta de retratar. Desse universo destaca-se a novela Um anjo mau, narrativa muito bem
construída e que me impressionou muitíssimo. Açucena, que teve sua vida destruída pela
violência física e sexual, é vingada pelo homem de sua vida, para que assim
possa esquecer o passado.
As velhas
deu o Prêmio Jabuti de melhor romance a Adonias Filho em 1975. O romance narra
a história de quatro velhas cujos acontecimentos se entrelaçam. Tari Januária,
índia pataxó, pede ao filho Tonho que lhe traga os ossos do pai, morto em
emboscada, para ser enterrado junto à família. Zefa Cinco, a pistoleira que
matou o pai de Tonho, propõe entregar-lhe os ossos do pai, em troca da neta que
estava longe em péssimas condições de vida. Zonga, a rainha negra, de quase
dois metros de altura, representa a trégua na vida de Tonho em sua trajetória.
E Lina de Todos, a que se recusou a ser mulher de um homem só e teve inúmeros
filhos que desbravam a selva do sul da Bahia para o plantio do cacau; ela ajuda
Tonho a conseguir seu intento. Quatro velhas marcantes em sua autoridade, em
suas lembranças, seus rancores e cegueira vingativa.
Luanda Beira Bahia, três lugares ligados pela etnia negra em contato com o colonizador.
Sardento, marinheiro português, tem caso com uma negra de Ilhéus e nasce-lhe um
filho, Caúla, que cresce sem pai, pois Sardento abandona a família para correr
o mar. Esteve em Angola, onde teve uma filha em Luanda. Caúla cresce e segue os
passos do pai, depois que sua mãe morre. Em Luanda conhece a irmã, mas não sabe
de quem se trata. Depois vai a Moçambique, onde tem um caso com uma adolescente
na Beira. O caso de amor não avança e Caúla retorna a Luanda, onde volta a ter
contato com a irmã. Os dois se apaixonam e decidem voltar à Bahia, onde a casa
em Ilhéus espera pelos dois. Quando chegam à casa, Sardento lá estava, de
volta. Ao descobrir que os dois são seus filhos e estão casados, os mata.
Luanda Beira Bahia não é um bom romance, falta-lhe profundidade, já que nas
narrativas de Adonias Filho costumam ser curtas. Se o autor enveredasse pelo
caminho de uma história de amor, sem supervalorizar o trágico, talvez o
romance ganhasse consistência.
==================Adonias Filho. Memórias de Lázaro. 3ª ed, Bertrand Brasil, 1978,168 pp. R$ 33,00
Corpo Vivo. 32ª ed, Bertrand Brasil, 2001, 134 pp. R$ 35,00
O Forte. 10ª ed, Bertrand Brasil, 2002, 160 pp. R$ 33,00
Léguas da Promissão. 4ª ed, Civ. Brasileira, 1975, 147 pp.
Esgotado. Preço médio nos sebos de R$ 10,00
As Velhas. Bertrand Brasil, 2004, 160 pp. R$ 37,00
Luanda Beira Bahia, 2ª ed, Civilização Brasileira, 1975, 144 pp.
Esgotado. Preço médio nos sebos R$ 10,00
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