Nagib Mahfuz situa o segundo volume da trilogia do Cairo no
período pós-independência do Egito, na terceira década do século XX. Em O Palácio do Desejo, Kamal, o filho
mais do patriarca Ahmed Abd el-Gawwad, que no volume anterior (Entre dois
palácios) tinha 10 anos, agora é um jovem belo, sensível e idealista, que busca
seguir seu coração, optando por fazer a Escola Normal para ser professor,
contrariando, assim, a vontade do pai, que o queria advogado ou médico. O pai lhe diz com desprezo que o trabalho de professor é um trabalho de miséria que
não tem o respeito de ninguém. Diz que o filho é um fedelho, não sabe de nada .
Ensinar é um ofício em que o pequeno burguês vestido à moda europeia se mistura sem
distinção ao estudante piolhento dos subúrbio. Um ofício desprovido de qualquer
grandeza, de qualquer glória. Entretanto, Kamal mantém-se irredutível: o papel do
professor é difundir o saber. Discordava do preconceito de que a riqueza ou a
pobreza pudessem constituir critérios de apreciação do saber ou que este
pudesse ter um valor extrínseco. Queria também ser professor para atingir uma
meta maior, ser filósofo. A filosofia, para ele, é a disciplina que funde todas
as questões relativas ao que seja Deus, ao que seja o homem, a alma, a matéria. Na faculdade,
torna-se amigo de dois jovens da aristocracia egípcia que estudam direito, para
satisfazer o desejo das famílias. Inicialmente a amizade ocorre tranquila, até
Kamal se apaixonar por Aída, que participava de vez em quando das discussões
do grupo. Antes de declarar seu amor a ela, um dos amigos atrapalha suas
intenções. É quando Kamal passa a sofrer o preconceito relativo a sua classe
social. Aída casa-se com o amigo de Kamal. Mas
o amor do rapaz pela moça permanece até o final da narrativa, transformando-o
em um jovem sombrio e solitário.
As ruelas, as casas, os palácios, as mesquitas, as pessoas e o cotidiano da família Gawwad
continuam sendo retratadas de forma brilhante por Nagib Mahfuz neste segundo
volume. O estilo severo e contraditório do pai dessa família fica abalado por
diversos acontecimentos além dos ideais de Kamal. Yasine, o filho mais velho,
divorcia-se, casa com a moça que havia sido a grande paixão de, o segundo filho,
proibido de desposá-la. Depois volta a casar, dessa vez com a concubina que era uma das amantes de seu
pai. Amina, a mãe submissa, continua a desenvolver o afeto pelos filhos e o
respeito ao pai.
O palácio do desejo
vale muito a leitura! A bela tradução do francês foi feita por José Augusto de
Carvalho
paulinhopoa2003@yahoo.com.br===============================
Nagib Mahfuz. O palácio do desejo. Rio, Bestbolso (Record), 2008, 644 pp, R$ 25,00
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