Londres, início do século XX. A senhora Assingham, casada com um militar
aposentado, recebe em sua casa a visita do príncipe italiano Amerigo, vindo
a Londres para casar-se com Maggie, jovem aristocrata e rica. Durante o
encontro, a senhora Assingham recebe também a visita inesperada da srta. Charlotte, que
voltava de Nova Iorque. O
que a jovem estaria fazendo ali, a poucos dias do casamento do príncipe com Maggie,
amiga de Charlotte? Naquele momento, o príncipe, que se preparava para partir, decide ficar. Para a senhora Assingham, ele não estaria ficando para fazer
uma pergunta grosseira (quanto tempo ela pretendia ficar hospedada na casa da
senhora Assingham?). Havia um ar de suspense no semblante do príncipe,
reflexo do medo que tinha da jovem. Será que ela se jogaria em seus braços ou, pelo
contrário, seria maravilhosa? Ela veria o que ele iria fazer - foi o que o estranho minuto de silêncio disse a ela. Mas o que ele poderia fazer, além de deixar claro que faria
qualquer coisa, tudo, por ela, do mais honradamente possível? Mesmo que ela se
jogasse em seus braços, ele tornaria isso fácil, isto é,
desconsiderar, ignorar, não lembrar, e também lamentar. Na verdade não foi isso o que aconteceu, apesar de não ter sido com
um simples toque, mas através das gradações mais delicadas, que a tensão dele
diminuiu. Charlotte era um produto raro, especial. Sua especificidade, sua
solidão, sua carência de posses, isso é, sua carência de ramificações e outras
vantagens, contribuíam para enriquecê-la de algum modo com uma neutralidade
estranha, preciosa, para constituir para ela, tão distanciada e ao mesmo tempo
tão consciente, uma espécie de pequeno capital social.
O príncipe acaba indo embora e a senhora Assingham providencia as acomodações para Charlotte em sua casa. Mas uma dúvida lhe persiste, por que a jovem viera antes e não depois do casamento de Maggie? Tarde da noite, expondo ao marido o incômodo que a perturbava, ficamos sabendo que Charlotte e Amerigo haviam sido amantes na Itália, mas o relacionamento não fora adiante, talvez porque a Charlotte interessasse um homem de posses e o príncipe estava praticamente falido. Temendo que alguma coisa pudesse comprometer o casamento de Maggie, a senhora Assingham arma uma estratégia para casar Charlotte com um nobre inglês, bastante amigo do príncipe Amerigo.
A taça de ouro, obra-prima de Henry James, um dos principais introdutores do fluxo de consciência na narrativa, é marcado pela dúvida, pelas impressões, pelas ações decorrentes disso por parte de quem imagina a partir daquilo que vê. Num primeiro momento é o olhar da senhora Assingham sobre Maggie, o príncipe e Charlotte. No segundo momento é o olhar de Maggie sobre o marido e Charlotte. História longa e envolvente, é indicado para quem gosta de literatura acima dos joelhos. Vale a pena!
Tradução de Alves Calado
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Henry James. A taça de ouro. Rio, Record/Best Bolso, 2009, 574 pp, R$ 25,00
O príncipe acaba indo embora e a senhora Assingham providencia as acomodações para Charlotte em sua casa. Mas uma dúvida lhe persiste, por que a jovem viera antes e não depois do casamento de Maggie? Tarde da noite, expondo ao marido o incômodo que a perturbava, ficamos sabendo que Charlotte e Amerigo haviam sido amantes na Itália, mas o relacionamento não fora adiante, talvez porque a Charlotte interessasse um homem de posses e o príncipe estava praticamente falido. Temendo que alguma coisa pudesse comprometer o casamento de Maggie, a senhora Assingham arma uma estratégia para casar Charlotte com um nobre inglês, bastante amigo do príncipe Amerigo.
A taça de ouro, obra-prima de Henry James, um dos principais introdutores do fluxo de consciência na narrativa, é marcado pela dúvida, pelas impressões, pelas ações decorrentes disso por parte de quem imagina a partir daquilo que vê. Num primeiro momento é o olhar da senhora Assingham sobre Maggie, o príncipe e Charlotte. No segundo momento é o olhar de Maggie sobre o marido e Charlotte. História longa e envolvente, é indicado para quem gosta de literatura acima dos joelhos. Vale a pena!
Tradução de Alves Calado
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Henry James. A taça de ouro. Rio, Record/Best Bolso, 2009, 574 pp, R$ 25,00
Continuo sempre atendo a tuas dicas, Paulinho. Parabéns.
ResponderExcluirObrigado, João!
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