Beleza e tristeza, de Yasunari Kawabata (1899-1972), é um
comovente romance de complexidade e sutileza. Oki Toshio, um escritor de meia-idade, faz uma viagem
nostálgica a Kyoto para ouvir os sinos dos templos soarem na noite do Ano Novo.
É movido também pelo desejo de reencontrar Otoko, que fora sua amante 24
anos antes e que agora é uma pintora de renome. Otoko vive num monastério com
sua pupila Keiko, jovem de temperamento amoral e apaixonado. À medida que a
vida dos três se entrelaçam irremediavelmente, Keiko torna-se a principal
agente de destruição deste vasto e inquietante drama de vingança.
De todos os livros de Oki, aquele que permanecera mais tempo
em voga e que ainda hoje gozava de grande prestígio do público era o romance
onde relatava seu amor por Otoko, quando ela tinha 16 anos. Ao ser publicado,
esse livro certamente prejudicou Otoko, chamando a atenção sobre ela, o que,
sem dúvida, constituiu um obstáculo para um eventual casamento. Ainda assim,
por que, depois de mais de vinte anos, a personagem baseada em Otoko continuava
a seduzir tantos leitores? Sem dúvida seria mais correto dizer que era Okoko,
tal como ela aparecia no romance de Oki, que seduzia os leitores, e não a
adolescente que lhe serviu de modelo. O romance não era a verdadeira história
de Okoko, mas simplesmente alguma coisa que Oki havia escrito. Mas, qual era a verdadeira Otoko, aquela que
Oki havia descrito ou aquela que a própria Otoko poderia ter criado ao narrar
ela mesma sua história? Sem esse caso de amor o
livro não teria existido. E era, sem dúvida, por causa de Otoko que esse
romance continuava a ser lido, vinte anos depois de escrito. Se não tivesse
conhecido Otoko, Oki jamais teria vivido esse amor. Ele não saberia dizer se o
fato de ter encontrado a jovem e tê-la amado, quando tinha 31 anos, fora um
infortúnio ou uma felicidade, mas o certo é que esse encontro lhe
proporcionara, como escritor, um início promissor. Entretanto, qual a relação, por exemplo, entre a Otoko de seu
romance e a verdadeira Otoko? Era difícil dizer.
No romance, observações psicológicas e um questionamento profundo sobre o sentido da arte e da literatura, assim como evocações poéticas surpreendentes dos jardins e monastérios do Japão, fazem de Beleza e Tristeza uma meditação sutil sobre temas caros a Kawabata: solidão e morte, amor e erotismo.
Beleza e Tristeza é o último romance de Yasunari Kawabata, Prêmio Nobel de 1968. Um surto depressivo o levou a tirar a própria vida em 1972. Foi contemporâneo de Mishima.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Yasunari Kawabata. Beleza e tristeza. 3ª ed., SP, Globo, 2008, 292 pp, R$ 36,00
No romance, observações psicológicas e um questionamento profundo sobre o sentido da arte e da literatura, assim como evocações poéticas surpreendentes dos jardins e monastérios do Japão, fazem de Beleza e Tristeza uma meditação sutil sobre temas caros a Kawabata: solidão e morte, amor e erotismo.
Beleza e Tristeza é o último romance de Yasunari Kawabata, Prêmio Nobel de 1968. Um surto depressivo o levou a tirar a própria vida em 1972. Foi contemporâneo de Mishima.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Yasunari Kawabata. Beleza e tristeza. 3ª ed., SP, Globo, 2008, 292 pp, R$ 36,00