O
mesmo mar. Podemos concluir tudo assim: um homem no quarto. O filho não está
aqui. Sua nora está com ele por enquanto. Vai. Vem. Enquanto isso tem um caso
com um rapaz irrequieto, deita com ela quando os negócios permitem, rapaz
esperto, vai e vem. À noite, um homem à mesa. Tudo é silêncio. O filho não
está. Sobre o aparador guardanapos, toalhinhas rendadas, entre elas duas fotos.
Pela janela o mar. Móveis escuros. Esta noite ele deve checar um balanço, o que
fecha, o que não fecha. Uma viúva com penteado à la garconne esteve aqui esta
noite, por puro acaso, Às vezes ela dá uma passada, tomar um chá. O inverno
passa, o mar permanece. E a luz, ela vai e vem. Uma vez de um jeito e outra vez
de outro. Esta noite ele deve calcular no monitor quais foram seus lucros e
quais suas perdas, o que conseguiu juntar. Coluna a coluna. Não é assim com a
angústia: ela é incalculável.
Esta passagem de O mesmo mar, de Amós Óz, ilustra uma visão parcial desse romance, cujo enredo se revela numa sequência de seções curtas, num tom casual e ameno das conversas do dia-a-dia, às vezes como parábola bíblica, fábula, sonho ou poema.
O viúvo sexagenário Albert Danon vive só. Seu filho,
Rico, após a morte da mãe, partiu para o Tibet em busca de paz interior,
deixando a relação comTida, a namorada, em aberto. O tempo passa, Dita aparece na
casa de Albert pedindo abrigo, seu projeto de cinema não deu certo, o produtor
fugira com o dinheiro para o projeto. Está sem apartamento e sem dinheiro.
Albert lhe oferece o quarto do filho como abrigo. A presença da jovem no quarto
ao lado passa a atormentá-lo. Fantasia e realidade se confundem nesse romance
de solidão e reencontro consigo mesmo.
Amós Óz nasceu em 1939 em Jerusalém. Autor de inúmeros romances e ensaios, tem se dedicado, ultimamente, à militância em favor da paz entre árabes e israelenses.
Tradução do hebraico por Milton Lando
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Amós Óz. O mesmo
mar. SP, Companhia de Bolso, 2014, 272pp, R$ 24,50
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