Damas e paladins,
armas e amores,
As cortesias e as
façanhas canto
Do tempo em que o mar
d'África os rigores
Dos mouros trouxe, e
França esteve em pranto;
Ira os movia e juvenis
furores
De Agramante seu rei,
disposto a tanto,
Que ousou vingar a
morte de Troiano,
Em Carlos rei e
imperador romano.
De Orlando, ao mesmo
tempo, direi eu
O que nunca se disse,
em prosa ou rima,
Que o amor o pôs em
fúrias de sandeu
E lhe tirou de homem
cordato a estima;
Isto, se a que igual
fim quase me deu
E o pouco engenho me corrói
qual lima,
Assentir em poupar-me
em tal medida,
Que eu possa dar a
obra prometida.
Orlando enlouquece de amor. O poema de Ludovico Ariosto foi
escrito em 1516, na época do Renascimento, mas não é o retrato fiel do mundo
suntuoso da Renascença: sua temática é medieval, seguindo a estética das
histórias de cavalaria. Ariosto seguiu a
obra de Boiardo, Orlando Enamorado,
publicado em 1486.
Orlando Furioso tem
como protagonista o guerreiro cristão e sobrinho de Carlos Magno, Orlando, que
chega à crise de loucura por amor da bela Angélica, princesa oriental. Com
Orlando e Angélica, temos também o paladino Astolfo. Primo e companheiro de
Orlando, Astolfo, depois de transformado em arbusto pela sedutora feiticeira
Alcina, consegue voltar a ser quem era e salva Orlando da loucura, voando à lua
para buscar-lhe o juízo. Num segundo momento surge como protagonista, Rogério. Esse jovem
guerreiro muçulmano fora criado pelo velho mago Atlante em um palácio posto no
cume de montanhas altíssimas, onde o mágico saía voar em seu cavalo alado, Hipogrifo. Rogério se enamora de uma cristã, a guerreira
Bradamente, mas é também seduzido pela perigosa Alcina. Em torno dessas
figuras, Ariosto vai criando muitas outras aventuras amorosas. Um terceiro
núcleo se concentra nas batalhas entre cristão e muçulmanos. Sobressaem aí figuras como a do feroz capitão Rodomonte, que
se voltará contra Rogério, e a dos amigos Cloridano e Medoro, este vencedor de
Orlando na rivalidade amorosa por Angélica. Ariosto vai entretecendo vários
fios, criando expectativas, deixando em suspenso uma aventura para passar a
outra, no melhor estilo dos folhetins.
Orlando Furioso,
assim como outras histórias famosas de cavalaria, serviram de inspiração a
Cervantes, para criar o famoso cavaleiro Dom Quixote, na monumental obra
homônima.
Introdução, tradução e notas de Pedro Garcez Guirardi, melhor
tradução de 2003.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Ludovico Ariosto. Orlando
Furioso. 2ª ed, SP, Ateliê Editorial, 2004, 290 pp.