Morreu o ex-vice-presidente José de Alencar. O Brasil ficou triste.O político vinha há anos lutando contra um câncer no intestino que o levava frequentemente aos hospitais para tratamento. Muitos admiravam sua capacidade de enfrentar a doença com otimismo e bom humor. Figura simpática, sempre fazendo piadas sobre a vida, conquistou a imprensa e, por tabela, o povo brasileiro. Numa de suas frases inusitadas ele disse pouco antes da morte, mais ou menos assim: "não tenho medo da morte, tenho medo é da desonra, a desonra desmerece o homem". Homem honrado, Alencar não quis passar pela desonra de reconhecer suposta filha, fruto de um relacionamento com uma enfermeira, nos tempos em que ele era pobre, na década de 50 na cidade de Caratinga, interior de Minas Gerais. Desde 2001, ela briga na Justiça pela paternidade do empresário. Em julho de 2010, a Justiça de Caratinga (MG) concedeu a Rosemary o direito de ser reconhecida como filha do empresário. José de Alencar havia admitido que a suposta paternidade poderia ser real. Segundo ele falou num programa do Jô, Rosemary seria fruto de uma noitada dele, na juventude, com uma prostituta.
Geralmente tido como uma figura discreta, Alencar soltou uma de suas piadinhas de ocasião, dizendo que "qualquer um que vá à zona, pode ser pai sem querer". E ele não quis mesmo! Alencar se recusou a fazer o teste de DNA, e sua defesa contestou a decisão. Em setembro do mesmo ano, o então vice-presidente obteve no Tribunal de Justiça de Minas uma liminar para impedir o uso do sobrenome e a mudança do registro de nascimento da professora. O recurso ainda será analisado pela corte. O que me causa espanto é o fato dele ser, além de pai de família exemplar, segundo a imprensa, adepto de uma religiosidade canônica: Alencar era evangélico. Mas esse lado menos limpo do político não arranhou nem um pouquinho sua imagem pública. A imprensa quase não falou disso. E o povo chorou a saudade de um político íntegro e coerente. Veja só!
Outro lance interessante (sob outro ponto de vista)de homem que resiste a assumir a paternidade é o de André, personagem representado por Lázaro Ramos numa das novelas da televisão. A personagem era bastante interessante inicialmente: tratava-se de um jovem ambicioso e valorizado em seu viés de trabalho, que quer a fama e o sucesso acima de tudo. Para tanto, não queria se envolver emocionalmente com nenhuma mulher, muito menos ter um filho. No mundo moderno, especialmente na Europa e EUA é assim, quem ambiciona subir na carreira e angariar a fama, descarta a presença do filho em suas vidas. Aliás, é muito comum por lá o hábito de adotação de filhos, quando a estabilidade financeira e as ambições já se encontram ancoradas. Acontece que, voltando a André, um dia ele transou com uma mulher que engravidou dele (esse é um furo imperdoável a um garanhão que traça todas:não usar preservativo). Ele luta para que ela faça o aborto, ela acaba não fazendo. Ele oferece dinheiro para o custeio do filho, desde que não apareça como pai. Ela acaba aceitando. Só que, como os escritores de novela gostam de criar personagens psicóticos, esse tal André, descobre-se, não é desse jeito por estilo de vida, mas porque psicologicamente é traumatizado pela presença de um pai cruel e ausente. Parece que ele está ficando bonzinho e, ao contrário de José de Alencar, vai querer o filho e se afeiçoar à criança quando ela nascer. Como se vê, dois pesos e duas medidas.
O tema sugere uma leitura interessante sobre a relação pai e filho, num clima denso e profundo, o romance de Mario Sabino: O dia em que matei meu pai. Ed. Record, R$ 30,00. Mesclando suspense, tragédia e uma profunda reflexão sobre a alma humana, o romance parte de uma trama aparentemente simples - a do narrador que conta à sua analista os motivos pelos quais matou o pai. O autor desenvolve uma obra na qual a psicanálise, a filosofia, a religião e a literatura se sobrepõem num discurso marcado pela dissimulação. Uma história de mistério em que o leitor deve descobrir não o crime ou o criminoso - explícitos desde o título - mas as motivações para o ato.
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