Um médico presta serviço humanitário em um dos muitos campos de refugiados africanos, vítimas da violência. Particularmente, está em crise conjugal, tem um filho que pouco vê, devido a seu trabalho no exterior. Esse filho sofre violência física e psicológica intencional de um grupo de colegas mais fortes do que ele, na escola. Um garoto novo, com certa fobia social e bastante agressivo se aproxima do filho desse médico, defendendo-o e envolvendo-o em atos de violência que têm fins trágicos. Esse médico, então, aproxima-se do filho e do amigo, ensinando-lhes que, para não se ter medo da violência, não é necessário revidá-la com atos violentos. Isso parece difícil de aceitar, mas é uma lição de vida. A violência física que oprime as pessoas física e psicológicamente poderia ser enfrentada com palavras e atos consistentes, levando a mudanças de comportamento sem fomentar a violência ainda maior. Não revidar à violência pode ser um ato de honra e de valor. Não significa covardia. Os refugiados do campo de concentração onde o médico atua fugiu da violência, mas tinha medo. Isso é fato positivo. Quando se tem medo do perigo,melhor correr. De outra forma, aprende-se que se pode enfrentar a violência física, enfrentando-a sem realizar atos violentos. Isso envolve o ato de amor ao próximo, sem restrições.
Eu mesmo, em meu universo pessoal, me violentei desde cedo, motivado por uma ansiedade doentia que me provocava raiva e ações indelicadas com as pessoas. Quantas vezes humihei, feri e desrespeitei aos amigos que me rodeavam, por uma violência provocada por sensações de perigo real ou imaginários que me causavam tensões e nervosismo desnecessários, que prejudicavam a mim e ao meu grupo. Essa sensação incômoda que me descrevo não tem a ver diretamente com a violência de causas políticas e econômicas ou de relacionamentos familiares desestruturados. Mas revelava a mesma sensação de enfrentamento e de poder. Essa insatisfação precisou ser trabalhada assim como o médico trabalhou a conscientização do controle do poder para não sufocar o outro.
Descoberta essa insatisfação como ansiedade, fui tratá-la com citalopran e conversar com terapeuta, para me conhecer melhor. Precisei de ajuda e aceitei-a. Assim como somos ajudamos, precisamos de ajuda. Esse trabalho humanitário dos Médicos sem Fronteiras e de outros grupos voluntários que saem à busca dos necessitados, é fantástico. Ajudar o próximo pode significar não apenas dar um pouco do que se tem ao outro, mas ajudar o outro a ter e conquistar o que é seu, sem se deixar espoliar.
O relato inicial desse texto é do filme dinamarquês "Por um mundo melhor". Vejam! Talvez ainda esteja em algum cinema próximo de sua casa.
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