Don Segundo Sombra, obra do escritor argentino Ricardo Güiraldes, trata da vida de um guri de nome Fabio, que sai da casa dos tios depois de ser abandonado pelo pai e conhece Don Segundo Sombra, pampeiro experiente que o ajuda e o ensina a trabalhar no campo, domando cavalos e trabalhando em todo o pampa argentino. Assim, Fabio vai criando uma identidade de “gaucho”, a figura solitária e campeira do pampa.
Don
Segundo Sombra é um homem solitário, com muita experiência e sabedoria popular,
além de exímio domador de cavalos. Com ele, o guri leva uma existência
nômade, aprendendo a viver e a trabalhar no campo, guiado por esse gaúcho que se
transforma em seu padrinho e mestre. Em cada povoado que passam, entre bailes,
brigas de galo, organizando a boiada, mais as histórias que Don Segundo lhe
conta, fazem dessa etapa a fase mais feliz da vida do piá.
Um
certo dia, o jovem recebe uma carta que lhe revela, agora, ser um homem rico,
pois fora reconhecido pelo pai, que lhe deixara toda sua fortuna. Esse
acontecimento marca profundamente a vida de Fabio, que não gostaria de aceitar
a mudança de vida. Incentivado por Don Segundo, assume suas terras,
tornando-se estancieiro. Na estância, trava amizade com o filho do
administrador, que lhe aponta os caminhos da cultura intelectual, infundindo-lhe
o amor pelos livros e pela cultura.
Esta novela de Güiralde é a primeira
obra de caráter universal da literatura gauchesca argentina. A obra transpõe as
fronteiras do pampa para mostrar os valores do “gaucho”, que nós, gaúchos, herdamos
a tradição. A literatura sul-rio-grandense possui bons romances que evidenciam
a figura de nosso gaúcho pêlo duro, que identifica nossa identidade com o
pampa. Contos gauchescos e Lendas do Sul, de Simões Lopes Neto, o
mais fiel e o mais popular dos regionalistas gaúchos, são obras-primas da
literatura brasileira. Grande escritor, Lopes Neto revive a vida dos campos, o
linguajar e os costumes gauchescos, as lendas regionais, sem se restringir ao
mero pitoresco, mas vertendo em suas criaturas toda a força das paixões e caos
humanos, dando a sua obra interesse permanente. O autor pelotense transpõe suas
histórias na voz inconfundível do pampeiro Blau Nunes, índio velho e contador
de causos na hora de folga dos
galpões. Outros escritores de temática gauchesca imergiram a figura do gaúcho
no panorama social e político do século XX, a partir de Borges de Medeiros e
Getúlio Vargas. Memórias do Coronel
Falcão, de Aureliano de Figueiredo Pinto, é um romance de fronteira gaúcha
escrito por um médico estancieiro, onde o mundo do campo, sua gente e suas transformações
aparecem vistos de dentro para fora, numa época conturbada pelo borgismo. Cyro
Martins nos coloca a figura do gaúcho a pé, o que perdeu sua pequena
propriedade, o gado e o cavalo para os grandes pecuaristas com suas máquinas
agrícolas, vindo a formar os bolsões de miséria das cidades grandes. Os livros Sem rumo, Porteira fechada e Estrada
nova, compõem a chamada Trilogia do Gaúcho a pé.
Voltemos a Ricardo Güiraldes, para acrescentar que o
escritor nasceu em Buenos Aires, em 1886, e morreu em Paris, em 1927. De origem
aristocrática, cuja família tinha inúmeras propriedades rurais, com um ano de
idade foi morar na Europa, retornando quatro anos depois à Argentina, vivendo
sua infância e juventude nas estâncias de seu pai.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Ricardo Güiraldes. Dom Segundo Sombra. Porto Alegre,
Ardotempo, 2011, 334 pp., R$ 40,00
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