É uma organização
imperfeita, aprendizagem de corrupção, ocasião de contato com indivíduos de
toda origem? O mestre é a tirania, a injustiça, o terror? O merecimento não tem
cotação, (...) aprova-se a espionagem, a adulação, a humilhação, campeia a
intriga, (...) abundam as seduções perversas, triunfam as audácias dos nulos?
Tanto melhor: é a escola da sociedade (...)
Encerro, assim, o ciclo dos clássicos da literatura brasileira.
Raul Pompéia. O Ateneu. SP, Penguin/Companhia, 2013, 312 pp. R$ 22,00
Ensaiados no
microcosmo do internato, não há mais surpresas no grande mundo lá fora, onde se
vão sofrer todas as convivências, respirar todos os ambientes; onde a razão da
maior força é a dialética geral, e nos envolvem as evoluções de tudo o que
rasteja e tudo que morde, porque a perfídia mãe-terra é um dos processos mais
eficazes da vulgaridade vencedora (...)
E não se diga que é um
viveiro de maus germes, seminário nefasto de maus princípios, que hão de
arborescer depois. Não é o internato que faz a sociedade; o internato a
reflete. A corrupção que ali viceja, vem de fora.
O narrador-personagem vive o terror de uma experiência
pedagógica num internato comandado pela figura caricatural de Aristarco. Sua
figura é poderosa. A caracterização satírica e despótica do diretor acompanha a
composição de um ambiente de terror no colégio onde, em vez dos castigos
físicos, infligia um controle exaustivo que marcava com o medo a vivência dos
alunos. O temor insinuava-se não apenas pela tirania de Aristarco, mas por sua
capacidade de incutir nos meninos o horror ao espectro da perversão que os
ameaçaria. As influências perniciosas do ambiente marcam a vida de Sérgio para
sempre.
Não se pode dizer claramente o enredo do livro, são narradas são situações e experiências, reflexos de caracteres e
intenções. A memória de Sérgio revela
impressões da sua infância. O ângulo de visão do mundo ou da
realidade é essencialmente subjetivo. Há quem diga que se trata do primeiro
romance psicológico da literatura brasileira. Surgido dentro do real/naturalismo,
O Ateneu supera as características desse período,
apresentando um narrador cheio de emotividade. São as impressões do menino que
persistem na alma do narrador adulto que nos conta sua história. Aproxima-se,
assim, também, do romance impressionista.
Os os que leram ou tentaram ler O Ateneu por obrigação
durante o período escolar, deveriam reler a obra agora, para verificar como é
forte, como é bem estruturado esteticamente e como é fascinante essa história
de Raul Pompéia. É uma obra-prima.Encerro, assim, o ciclo dos clássicos da literatura brasileira.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
=====================Raul Pompéia. O Ateneu. SP, Penguin/Companhia, 2013, 312 pp. R$ 22,00
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