Um homem separado vive em um apartamento alugado, onde
recebe nos finais se semana a filha pequena.
Esse homem é daqueles sujeitos chatos, que acha tudo errado com ele, é
indeciso, inseguro e, por consequência disso, deprimido. A ex-mulher continua a
intrometer-se em sua vida. A filha parece não gostar dele, quase não conversam
e ele não busca uma aproximação afetiva maior com a menina. De repente, esse
homem começa a receber cartas escritas a caneta tinteiro, dentro de um envelope
azul, cuja única informação da remetente (trata-se de uma mulher) é a letra
k. Nos dias de hoje, em que o email e as redes sociais e os
sms dominam as relações sociais, alguém ainda escreve cartas de amor a caneta
tinteiro. Cada dia uma carta. Esse homem decide violar as cartas e passa a
acompanhar a escrita dessa mulher, relatando uma separação por motivos que se
confundem, às vezes, com os do homem em relação a seu relacionamento desfeito.
As cartas são enviadas diariamente, por um período definido pela autora. No
final, ela propõe a esse amante, que não sabemos aparentemente quem seja,
embora possa ser o antigo morador, perdoá-lo e aceitá-lo de volta caso ele
assim o quisesse.
A partir daí, ele busca obsessivamente encontrar esse homem
para entregar-lhe as cartas, com a intenção, quem sabe, de ajudar a recompor a
relação partida. Depois de uma série de tentativas, onde se vê obrigado a
contatar a dona do apartamento, consegue localizar o antigo locatário, que
desconhece quem possa ser essa mulher.
Carola Saavedra intercala as cartas com a crônica de vida
desse homem solitário e mal amado e incompreendido de si mesmo. Algumas
situações soam pouco verossímeis, como alguém escrever cartas a caneta tinteiro
em pleno século XXI, assim como a mulher forjar o funcionário do correio a
postar as cartas sem mencionar o remetente. Mas isso não pesa dentro da
narrativa e nem na intenção da romancista,
de relacionar o drama de uma mulher abandonada que escreve cartas buscando a
reconciliação e de um homem abandonado que lê essas cartas como se fossem suas
e quer encontrar um amor para acabar com sua solidão.
O livro encontra-se esgotado, mas há livrarias que vendem o
exemplar novo a preço médio de 32 reais.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Carola Saavedra. Flores
azuis. SP, Cia. das Letras, 2008, 166 pp
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