Domingo... O seu
jornal predileto continuava, aberta ou indiretamente, metendo o malho na
situação - o preço dos transportes ameaçavam vertical subida, o preço dos
gêneros de primeira necessidade não se estabilizavam ao menos, a carne
desaparecia dos açougues, o pão das padarias e os remédios das farmácias,
organizações estudantis eram fechadas e universidades interditadas, presos
políticos eram seviciados, numerosos asilados permaneciam em embaixadas com
dificuldades nos passaportes e nos inquéritos instalados cometiam-se os mais
criminosos abusos.
O fato é que Madureira, que adorava tomar seu chimarrão
todas as manhãs antes de cuidar de seu jardim e de passear com a mulher,
recebera o convite do Alto Comando Revolucionário do Exército, para ocupar um
cargo importante no Serviço Geral de Abastecimento de Lubrificantes. Com isso,
Marques Rebelo nos revela uma deliciosa novela curta de 126 páginas que lemos
com prazer. O que mais queria o coronel Madureira, que se aposentara do
exército com uma vida boa, mas simples, era gozar a vida. Mas seu trabalho
burocrático no tal órgão do exército expõe a ele um trabalho monótono, uma
burocracia recheada de cargos nomeados por interesse, até que um dia ele recebe
um ofício do Alto Comando, instruindo-o a denunciar todos os funcionários que
manifestassem opiniões contrárias ao regime de governo imposto pelos militares.
Não deixa de causar surpresa o fato de O simples coronel Madureira ter sido publicado sem sofrer
censura. A obra foi lançada em 1967, quando Costa e Silva assumira o governo,
sucedendo Castelo Branco, a poucos dias do Ato Institucional, que restringiu os
direitos civis e promoveu o golpe dentro do golpe.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Marques Rebelo. O
simples coronel Madureira. Rio, José Olympio, 2013, 126 pp R$ 24,00
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