No
meio da mata virgem, às margens do Uraricoera, uma índia tupinambá pare um
menino preto retinto e feio, chamado Macunaíma. Passou seis anos sem falar, e
quando o incitavam a fazê-lo, dizia: "Ai, que preguiça!" Sempre foi
muito ativo e a coisa que mais gostava de fazer era "brincar" com as
índias no rio. Tinha dois irmãos mais velhos, Maanape e Jiguê, este tinha uma
mulher, Sofará. Um dia, Macunaíma transforma-se num belo príncipe e brinca com
a cunhada, causando a ira de Jiguê, que a manda embora, casando-se com Iriqui,
que também brinca com Macunaíma. A Jiguê não resta outra alternativa, a não ser
se conformar.
Um
dia, a cutia lhe dá um banho de água de mandioca envenenada e Macunaíma se
transforma em homem, mas a cabeça, que não havia sido molhada, permanece
pequena. Quando sai à caça, certo dia, mata acidentalmente uma veada com a
cria. O animal era a mãe do herói, transformada em veada por Anhangá. Todos
choram a morte da mãe e decidem sair por este mundo afora. No caminho,
Macunaíma possui Ci, a Mãe do Mato, rainha das amazonas. Ci acompanha Macunaíma
na viagem, dá à luz um menino de cor encarnada e cabeça chata. O menino, ao
chupar o seio da mãe, que havia sido mordido por uma cobra preta, morre. O
menino é enterrado, Ci entrega a Macunaíma uma muiraquitã e vai para o céu ,
subindo por um cipó. Quando o herói visita o túmulo do filho, no dia seguinte,
vê que sobre ele nascera uma planta, o guaraná.
Nas
muitas andanças e peripécias de Macunaíma, este acaba perdendo a pedra
muiracitã, que havia sido encontrada por um homem que o vendera a Venceslau Pietro
Pietra, o gigante Piaimã. Macunaíma descobre o paradeiro da pedra e decide, com
os irmãos, ir para São Paulo, onde morava o gigante, para tentar recuperar a
pedra. No final da rapsódia, Pietro Pietra acaba caindo em caldeirão de
macarronada, a pedra é recuperada e Macunaíma volta ao Uraricoera. No final, a
tribo se acabara, a família virara sombras, a maloca ruíra minada pelas saúvas
e Macunaima subira aos céus transformado na estrela Ursa Maior. Só restara o
papagaio no silêncio do Uraricoera, preservando do esquecimento o caso e as
falas desaparecidas sobre o herói de nossa gente. O papagaio foi quem contou
tudo ao homem, Mário de Andrade.
Macunaíma
é a obra síntese do Modernismo brasileiro. Publicada em 1928, seis anos depois
da Semana de Arte Moderno, é representativa da miscigenação das diversas
culturas que formam o Brasil. De posse da muiraquitã, no final da história, os
irmãos retornam ao lugar de origem, carregando na canoa objetos de diversas
procedências, como um casal de galinhas Legorne, um revóver Smith Wesson e um
relógio Pathek Philipe, símbolos da cultura estrangeira, indicadores dos
valores capitalistas transportados ao lugar de origem, compondo o perfil do
herói sem nenhum caráter. O termo sem caráter, aqui, longe de ter o significado
de indivíduo de moral duvidosa, representa a síntese da alma brasileira forjada
através de uma cultura transplantada e adaptada ao mundo moderno, com o advento
do capitalismo que chegou ao Brasil no início do século XX, para o bem ou para
o mal. O antropofagismo cultural surgido com a Semana de Arte Moderna significa
que, para haver avanço cultural, é necessário assimilar tudo de novo que vem de
fora, miscigenando-o à cultura já existente, em vez de negá-lo.
A
edição que eu li é a sétima, da Martins Editora, de 1972. Há edições recentes
da Civilização Brasileira e da Penguin Editora, por preço baixo.
paulinhopoa2003@hotmail.com
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