O Som e a Fúria (1929) conta
a história da decadente família Compson no cenário quase sempre presente nas
obras do autor, o Condado de Yoknapatawpha, a partir de quatro narradores
diferentes, três deles irmãos: Benjy, um idiota que não fala e cujo pensamento
é expresso pelos sentidos, especialmente o olfato; Quentin, o irmão estudado,
frequenta a Harvard e nutre um amor incestuoso pela irmã Caddy; Jason, o irmão
ressentido que luta contra o tempo e a falência da família; e um narrador
onisciente, presente na última parte do livro. “O Som e a Fúria” aborda temas
como incesto, suicídio, doença metal, família, conflitos raciais, situação
histórica do sul dos Estados Unidos.
Caddy é a menina dos olhos de cada narrador, relacionando-se com os três irmãos por diferentes graus: Benjy, o
idiota, chora quando Caddy usa perfume, deturpando seu cheiro natural, ao mesmo
tempo em que ela é a única a lhe dedicar atenção; já o amor incestuoso de Quentin
pela irmã pode representar um amor eterno, imperecível, e acima da carne, mas
deturpado pelo desejo físico; o desagradável irmão Jason tem uma inescrupulosa
busca por dinheiro, extorquindo dinheiro de Caddy. Jason buscava sempre uma oportunidade de enriquecer
sem precisar trabalhar.
O leitor talvez vá precisar de um
pouco de calma para ler “O Som e a Fúria”, pois a narrativa, fazendo usa da
técnica do fluxo de consciência, pode
levá-lo a nem sempre saber o que aconteceu. Mas nem por isso sua leitura será
desagradável. O esforço de seguir adiante é extremamente recompensador. E
também convidativo para uma segunda leitura, talvez até mais prazerosa. Isso
não é pedir muito, já que essa pode ser a “história contada por um idiota” mais
surpreendente que você tenha a oportunidade de ler.
Há
um apêndice sobre a linhagem da família Compson até o seu final.
Tradução
de Paulo Henriques Britto
==========================
William
Faulkner. O som e a fúria. SP, Cosac
Naify, 2004. 336 pp.
Luz
em agosto (1932) se passa no condado imaginário de Yoknapatawpha, no sul dos Estados Unidos.
A narrativa começa numa estrada do Alabama, onde uma jovem grávida, Lena Grove,
busca carona para chegar a Jefferson, à procura de Lucas Burch, o pai de seu
filho. Contando com a generosidade de agricultores da região, Lena consegue
chegar a Jefferson, e acaba sabendo que no moinho da cidade trabalha um homem
que talvez possa ser Burch. Esse homem, na verdade, é Byron Bunch, que se
propõe a ajudá-la a encontrar esse rapaz, que ele julga ser Joe Brown. Brown
vive em uma cabana na propriedade de Joanna Burden, sobrevivente de uma família
de abolicionistas, em companhia de Joe Christmas, que mantém um relacionamento
com a tal mulher. Christmas, apesar de ter pele clara, ser órfão e desconhecer
qualquer fato de sua descendência, acredita que tenha sangue de negro. Por isso
viveu, até o momento da trama, fugindo de seu passado.
A época da narrativa ocorre no calor intenso de
agosto, no final do século XX, época da
Lei Seca. Brown e Christmas aproveitam-se disso para contrabandear whisky para
ganhar mais dinheiro. Numa noite, há um incêndio na propriedade de
Joanna Burden (Luz em agosto), na cabana onde viviam Brown e Christmas.
Descobrem, então, que a dona da casa havia sido assassinada e a culpa recai
sobre Christmas que foge dali e é caçado impiedosamente até ser executado por
um soldado do exército. Brown, preso na ocasião do incêndio, responsabiliza
Christmas pelo assassinato e é mantido preso. A partir de então, Byron Bunch,
que já estava apaixonado por Lena, arranja um encontro entre o preso e a jovem.
Brown acaba desaparecendo de forma obscura.
Há outro personagem interessante na narrativa,
Gail Hightower, ex ministro metodista, forçado a se demitir depois que
descobriram que sua esposa mantinha um caso extraconjugal numa cidade vizinha,
e cometera suicídio após o escândalo. Gail recusa-se a sair de Jefferson, vive
uma vida miserável e mantém longos diálogos com Byron sobre a miséria da existência
humana.
Faulkner mantém um suspense narrativo de
primeira, prendendo a atenção durante todo o livro.
Tradução de Celso Mauro Paciornik
===================
William Faulkner. Luz em agosto. 2ª ed., SP, Cosac Naify, 2007, 448pp
Nenhum comentário:
Postar um comentário