O
romance de Virgínia Woolf, publicado em 1925, retrata um dia na vida de
Clarissa Dalloway, preparando a festa de seu aniversário. O tempo cronológico
compreende o período em que ela sai de casa para comprar flores para enfeitar a
casa, até o final da festa, no final da noite. O que movimenta o romance,
entretanto, é o tempo interior dela e dos personagens que ela encontra pela rua,
alguns deles participarão da festa, e de personagens que surgem à memória dela
e deles evocados pelas situações cotidianas de cada um.
Clarissa
Dalloway, ao sair de casa, pela manhã, está inebriada pelo gosto da vida, tudo
ao seu redor evocam-lhe sensações doces, desde o movimento dos carros, o aroma
dos parques com o canto dos pássaros, as cores da cidade, o céu incentivador de
coisas boas. Mesmo as situações embaraçosas, como o encontro com Peter Walsh,
que a amou na juventude e foi desprezado de forma deselegante por ela. Isso a
faz pensar sobre a escolha de Richard Dalloway, o marido; depois Septimus, que ela
vê na rua em situação de abandono, perturbado mentalmente em decorrência da
Primeira Guerra; a lembrança de Sally Seton, por quem foi atraída e pensa,
agora, que talvez pudesse ter sido amor; a chegada em casa e a notícia dada
pela criada, de que o marido fora almoçar com uma amiga que não a convidou; o
diálogo com a filha Elizabeth, que esboça o desejo de não querer participar da
festa, nada disso pode querer fazer de Clarissa uma pessoa infeliz. Será?
A
festa de Clarissa nessa noite é um lento sucesso. Nela comparece a maior parte
dos personagens que ela encontrou durante o dia, incluindo pessoas do seu passado.
Ela ouve falar na festa sobre o suicídio de Septimus, que havia sido internado
naquela tarde em um hospital psiquiátrico, e gradualmente passa a admirar esse ato
alheio, que vê como uma tentativa de preservar a pureza da sua felicidade.
O
romance tem dois focos narrativos envolvendo dois personagens diferentes: Clarissa
Dalloway e Septimus Smith. Em cada narrativa há um determinado tempo e lugar do
passado aos quais os personagens principais recorrem com frequência nas suas
mentes. Virgínia Woolf mostra o pensamento de Clarissa, no uso de um tempo
verbal onde aparentemente as coisas que se movem em um mesmo plano,
avance tão lentamente, que provoque no leitor a impressão de estar
sendo absorvido para o interior deste texto. Esse tempo lhe invade a mente durante todo o dia em Londres, apresentando-se
como a ser disputada por vários pretendentes em sua juventude. Para Septimus, esse presente prolongado apresenta-se como o tempo em que era soldado durante a Primeira Guerra
Mundial, principalmente na forma de Evans, seu companheiro falecido.
Há
uma edição recente de Mrs. Dalloway,
com tradução de Mário Quintana, pela Civilização Brasileira. A Cosac Naify tem
uma tradução de Cláudio Marcondes, que você encontra em ebook ou nos sebos, o
livro físico. A Abril Cultural apresenta o romance, junto com Orlando, edição
esgotada encontrável nos sebos. Também há a tradução de Tomaz Tadeu, pela
editora Autêntica.
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