A
Sicília é o pano de fundo para o grande romance O Gattopardo, obra póstuma
de um escritor desconhecido dos grandes meios literário, Tomaso di Lampedusa
(1896/1957), que morreu antes da obra ser publicada. Oriundo da classe aristocrática,
Lampedusa narra o declínio e a decadência de uma família nobre e do feudalismo
siciliano, numa atmosfera pitoresca e grandiosa.
A
história começa em 1860, na guerra em que Garibaldi une as duas Sicílias,
propiciando o surgimento e enriquecimento da classe burguesa, formando uma nova
Itália. Em seu palacete na vila de Salina, em Palermo, acompanha os fatos com certa apreensão, por
estar totalmente envolto nas tradições e hierarquias. Por isso, vivia
eternamente descontente, contemplando o ruir de sua casta e do seu patrimônio
sem nada fazer e sem nenhum desejo de remediar o desastre que se vislumbrava no
ambiente político da Itália. Em vez disso, pensava na linda família que tivera.
Tinha sete filhos, um deles, o mais amado, estava ausente há dois anos. Um dia
sumira de casa e nada se soube dele durante dois meses. Até que chegara uma
carta de Londres, em que se desculpava pelos transtornos causados, afirmando
preferir a vida modesta de funcionário de uma empresa de carvão à existência
excessivamente protegida nos confortos de Palermo. O príncipe tinha a esposa
com crises de histerismo, excessivamente pudica - nunca lhe vira o corpo
desnudo
Próximo
à propriedade dos Salina, havia uma vila semidestruída, pertencente a Tancredi,
seu sobrinho e pupilo. Seu pai perdulário dilapidara toda a fortuna, morrendo
em seguida, quando Tancredi tinha 14 anos. O rapaz, inicialmente quase um
desconhecido, tornara-se muito querido do Príncipe, que percebia nele um
entusiasmo briguento. Agora, aos vinte anos, Tancredi entregava-se ao ócio e
aos prazeres com o dinheiro que o tutor não lhe negava, mesmo tendo de tirá-lo
do próprio bolso. O sobrinho acaba
simpatizando com a causa de Garibaldi, lutando a seu lado. Isso desagradou o
príncipe, que no entanto não deixou de amá-lo.
A
situação política na região estava muito tensa, temia-se a invasão de
piemonteses próximo a vila Salina e as autoridades haviam detectado na
população uma efervescência silenciosa, a escória da cidade esperava o primeiro
sinal de enfraquecimento do poder para lançar-se ao saque e ao estupro. Mas o
príncipe preferia não pensar nesses acontecimentos. Mantendo a calma, pediu
permissão a Giuseppe Garibaldi para viajar à região de Ragusa, na vila de
Donnafugata, onde tinha outro palácio, igualmente suntuoso.
Lá
chegando, trata de dar uma festa solene para saudar a nobreza do lugar.
Lampedusa descreve em detalhes primorosos a preparação do banquete, desde a
arrumação da mesa, o lustro das louças e a decoração da sala, deixando no
leitor imagens completas do ambiente. O momento da entrada de Angélica, filha
de Don Calógero, um aristocrata arruinado, é outro momento brilhante da
narrativa.
Tancredi
toma-se de amores por Angélica e os dois acabam casando, para desgosto de Concetta,
filha do Príncipe, apaixonada pelo jovem. Há uma série de acontecimentos
importantes, até o príncipe voltar a
Palermo, quando a cidade vivia de relativa calma e os bailes pela cidade se
multipicavam. O Príncipe comparece a um desses bailes, na companhia de Tancredi.
Em certo momento, sofre um mal súbito e é retirado do baile pelo sobrinho que
busca levá-lo a um hospital, mas param num hotel decadente para que Don
Fabrício pudesse descansar um pouco. O príncipe piora e acaba morrendo pouco
depois.
Nos
sete primeiro capítulos, os acontecimentos se dão em curto espaço de tempo, no
mesmo ano, 1860. No oitavo e último capítulo, há um salto de 50 anos após a
morte do Príncipe. Estamos em 1910 na residência da família, onde as três
filhas remanescentes e solteiras, Concetta, Catarina e Caterina, recebe a
visita de Angélica, já viúva, para confortar as três irmãs profundamente
ofendidas pela inspeção da sua capela
por um membro da Igreja, que considerou relíquias que elas tanto amavam,
como objetos descartáveis para ornamentar o local. Quando ficam a sós, Concetta
retira-se para seu quarto, amargurada pelo amor não correspondido de Tancredi.
Tradução
de Marina Colasanti
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Giuseppe
Tomasi di Lampedusa. O Gattopoardo.
2ª ed., Rio, Record, 2006, 306 pp.
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