Virginia Woolf tem duas
obras-primas da literatura universal: Orlando
e Mrs. Dalloway, o que torna quase
impossível sobrepor uma em relação a outra, por critérios de valores. Clarissa
Dalloway mergulha num fluxo de consciência durante o dia em que prepara a festa
de seu aniversário. Orlando, que não se utiliza da mesma técnica narrativa,
narra a história do jovem inglês, nascido na Idade Moderna e que, durante a
mudança que fez à Turquia, acorda mulher. Dotada da imortalidade, a vida de
Orlando é narrada durante 350 anos, até 1928, ano da publicação do romance.
Orlando era desajeitado e um
pouco distraído. Uma vez, apaixonou-se por uma princesa moscovita e sua vida
tornou-se mais dinâmica. Tinha cada vez menos cuidado de ocultar seus
sentimentos. Mas um dia a princesa embarca, de volta à Rússia, e Orlando cai em
profunda melancolia.
Aos trinta anos, já tinha passado por todas as experiências que a vida
oferece e verificado a inutilidade de todas elas. Amor e ambição, mulheres e
poetas eram igualmente vãos. A literatura, uma farsa. Numa noite, queimou quase
todas as suas obras poéticas, guardando apenas O Carvalho, que era seu sonho de
adolescente. O mundo com toda a sua variedade, a vida, com toda a sua
complexidade, se reduziram a duas coisas só: os cães e a natureza.
Assim, persuadido de que sua casa e sua vida não lhe diziam mais nada,
pediu ao Rei que o enviasse como embaixador extraordinário para Constantinopla.
Assim, os dias de Orlando na Turquia passava-se de forma rotineira,
levantava-se cedo, envolvia-se num longo casaco turco, acendia um charuto e
fincava os cotovelos no parapeito, mirando a cidade a seus pés, num aparente
êxtase.
Sabe-se muito pouca coisa de Orlando em Constantinopla. Um acontecimento
inesperado, entretanto, ocorreu em uma noite em que se despiu para dormir, ao
som das trombetas, e quando acordou, transformara-se em mulher. A mudança de
sexo, entretanto, não alterara sua identidade. Seu rosto permanecia
praticamente o mesmo. Sua memória podia remontar através de todos os
acontecimentos da vida passada, sem encontrar nenhum obstáculo. A mudança
parecia ter-se produzido sem sofrimento, e completa, e de tal modo que o
próprio Orlando parecia não estranhar. Muita gente, à vista disso, e
sustentando que a mudança de sexo é contra a natureza, esforçou-se em provar,
primeiro: que Orlando sempre tinha sido mulher; segundo: que Orlando foi homem
até os trinta anos; nessa ocasião, tornou-se mulher, e assim ficou daí por
diante.
Tornando-se mulher, Orlando adquire a imortalidade, atravessando 350
anos de vida, até o dia 28/03/1928, quando se encerra sua biografia.
Há uma tradução de Orlando
pela Penguin?Companhia, com tradução de Jorio Dauster. Há outra edição pela
Autêntica, com tradução de Tomaz Tadeu. A edição que eu li teve tradução de
Cecília Meireles, pela Editora Abril/Civilização Brasileira, de 1972. Junto com
o volume vem Mrs. Dalloway, com
tradução de Mário Quintana.
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