Crisóstomos
é um homem solitário de 42 anos, só com metade de tudo. Falhara nos amores,
muito complicados. Pensava que havia gente a exercer o amor como um crime. Mas
as coisas não precisam ser assim. A
solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo,
para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo.
Sonha
em ter um filho, constituir uma família baseada em laços de amor e amizade mais
do que em laços consanguíneos. Conhece um adolescente órfão, Camilo, filho de
uma anã que morreu afirmando que Camilo era filho de quinze homens da aldeia
onde morava. Os dois vão morar juntos. Camilo pede a Crisóstomos que procure
uma mulher para casar, pois quer ter uma mãe.
Crisóstomos
encontra Isaura, uma mulher desiludida,um traste que a família procurou casar a
qualquer custo e acabou casando-a com Antonino, homossexual delicado que a
procura para buscar esconder-se das torturas que as pessoas da vila,
especialmente os homens, exerciam sobre ele.
As
coisas não dão certo. Antonino foge no dia do casamento. Isaura fica
desconsolada. Consegue anular o casamento. Mas perde o gosto pela vida. Uma vez, quando vai junto ao porto para chorar seu infortúnio, encontra Crisóstomos.
Os laços vão se firmando, forma-se um núcleo familiar que se une inicialmente
pelo sofrimento e solidão, mas que se vai constituindo em amor e respeito ao
próximo. Antonino é trazido para junto dessa família especial e começa a ter
sua identidade respeitada, acabando por encontrar um amigo igual a ele em seu
desejo.Afinal,
segundo Valter Hugo Mãe, Somos o
resultado de muita gente.
Mais
um belo romance recheado de delicadezas no trato com o sentimento humano e a
dignidade de viver.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Valter
Hugo Mãe. O filho de mil homens. SP,
Cosac Naify, 2012, 256 pp. R$ 39,00