Na
cidade de Verrières há uma fábrica barulhenta que produz por dia milhares de
pregos. Mais adiante, próximo à prefeitura, há uma casa de aspecto muito bonito e, através de uma
grade de ferro contígua à casa, seus jardins magníficos. Ao fundo surgem as
colinas de Borgonha, formando uma linha de horizonte que parece feita
expressamente para o prazer dos olhos. A fábrica e a casa magnífica pertencem
ao sr. de Rênal, um homem que se fez na vida cobrando pontualmente o que lhe devem
e pagando o mais tarde possível o que deve aos outros. Foi com o dinheiro da
fábrica que o sr. de Rênal construiu sua mansão. Envergonhado de ser um
industrial vivendo do comércio de ferro, em 1815 decide ser o prefeito da
cidade.
Essa
cena inicial de O vermelho e o negro
serve como ilustração da classe média francesa enriquecida fora da nobreza,
ilustrando o período liberal da política francesa, após a queda de Napoleão.
Essa evolução dos costumes, entretanto, não excluiu o sistema de castas que
imperava na França desde sempre. É nessa sociedade em transformação, com toda
sua hipocrisia dos costumes que vai atuar o herói do romance de Stendhal
(1783/1842), Julien Sorel.
Julien
era um jovem ambicioso, filho de um serralheiro que havia vendido muitas terras
a preço de banana ao sr. de Rênal. Por ser filho de serralheiro, o caminho que
lhe restava para seguir na vida era o de estudar para padre e ganhar a vida
como preceptor de filhos endinheirados da sociedade local. O pai de Sorel era
um sovina, cobrava do filho o que gastara durante seu sustento e acabou
forçando-o sair de casa para seguir os estudos no seminário.
Pois
bem, Sorel acaba contratado para ensinar aos filhos do prefeito o latim. A sra.
de Rênal, mulher culta e discreta, acaba se envolvendo com o jovem e os dois tornam-se amantes.
Uma
carta anônima ameaça comprometer Julien e a sra. de Rênal. Um cônego seu
protetor o aconselha a ir a Paris, para trabalhar como preceptor da família de
La Mole, gente endinheirada que frequentava a corte parisiense. Sorel acaba
sabendo que não há fortuna para um homem de sua condição, exceto por intermédio
da nobreza. Ajudado pelo sr. de La Mole, que simpatiza com ele, passa a se
vestir como um dândi e a dominar a arte de viver em Paris.
Não
demora muito para Sorel e a srta. de La Mole se apaixonarem. Ter um amante de
classe inferiorizada era coisa corriqueira para as mulheres da corte, desde que
se mantivessem em sigilo aparente. O problema para Julian residiu no fato de
tanto a sra. de Rênal quanto a senhorita de La Mole apaixonaram-se
verdadeiramente por ele, enquanto ele era de caráter delicado, um romântico
inveterado que ama com o coração mas não mede a realidade que cerca essa
paixão.
Um
dia, a senhora de Rênal aparece em Paris e põe a relação de Julien com a
senhorita de La Mole em risco. Julien, num gesto impulsivo, tenta matar a
senhora de Rênal em uma igreja e é preso. O final do romance é patético.
A
Cosac Naify tem uma edição bem cuidada do romance, com tradução de Raquel
Prado. Mas há outras traduções competentes sugeridas pela Cosac, como a de José
Geraldo Vieira, pela Difel, e de Paulo Neves pela LPM (R$ 39,90). A edição nova
da Cosac sai entre 54 e 89 reais.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Stendhal.
O vermelho e o negro. SP, Cosac,
2010, 576 pp.
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