Há
críticos respeitados que não consideram Tristam Shandy um romance, já que não há uma trama que se desenvolva na
narrativa do escritor inglês Laurence Sterne (1713/1768), até seu desfecho. Há, sim, uma tentativa do
narrator-personagem, ao contar a história da sua vida, que não chega a se
concretizar. Isso acontece, porque Sterne rompe deliberadamente a continuidade
da narrativa, com assuntos e situações de diversos tipos.
A vida e as opiniões
do cavalheiro Tristam Shandy é um
espelho da sociedade da época, com figuras humanas distorcidas pela sátira:ora
magras, ora gordas; Sterne não poupa os
teólogos, freiras, doutores e magistrados.
Assim, personagens que seriam secundárias na história, protagonizam
passagens hilariantes durante a longa narrativa dessa novela picaresca. Yorick,
pároco, aparece como um bobo da corte, através de seus sermões escandalosos. O
próprio narrador-protagonista é descrito como uma figura esquelética, com
crises pulmonares.
O
tempo presente aparece de forma curta, quando Tristam Shandy busca contar sua
história de vida, interrompida quando ele tem sete anos de idade. O que
predomina, a partir de então, é o tempo passado, cujo acontecimento histórico
importante é a batalha de Namur, por volta de 1695, em que Toby, o tio de Tristam
Shandy, adquire destaque, quando é ferido na virilha e forçado a voltar para
casa, juntamente com o soldado Trim e Walter, pai do protagonista..
1718 é o ano de nascimento de Tristam Shandy.
Este, quando nasce, tem o nariz achatado pelo fórceps do obstetra. Há inúmeras
piadas e situações engraçadas, como a pergunta inoportuna da esposa ao marido,
durante o ato sexual que gerou Tristam Shandy, querendo saber se o marido dera
corda no relógio. A discussão entre católicos e protestantes, querendo saber se
o nariz enorme de um forasteiro é verdadeiro ou falso. Os discursos entre
Walter e o irmão Toby parecem conversa de surdos, em que um fala uma coisa e o
outro responde com outro assunto.
A
obra é uma sátira aos livros de viagens, muito comum naquela época. Apesar de
sua importante contribuição e influência à literatura universal, é um livro
difícil de se ler, justamente por não ter uma estrutura de romance. Suas
digressões e enxertos engraçados podem saturar e cansar o leitor desavisado.
Tradução
e prefácio de José Paulo Paes
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Lawrence
Sterne. A vida e as opiniões do
cavalheiro Tristam Shandy. 2ª ed., SP, Cia. das Letras, 1998, 642 pp.
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