Giovanni Boccaccio (1313;1375) é um dos grandes expoentes
do Renascimento italiano, com Dante e Petrarca. Decameron, sua obra-prima, tem duas traduções
recentes e de bom nível no mercado editorial, diretamente do italiano:a da LPM
apresenta o texto integral, com tradução de Ivone C. Benedetti. A Cosac
Naify apresenta dez das cem novelas que
Boccaccio escreveu no período em que a Europa havia sido devastada pela peste
negra de 1348. A seleção dos textos foi feita pelo professor e tradutor Maurício Santana Dias, com ilustrações do
artista plástico Alex Cerveny. Esta é que será comentada a seguir.
Sete jovens damas se encontram por acaso na igreja de
Santa Maria Novella em Florença. Estavam ali em busca de abrigo e proteção divina,
até que uma delas propõe às outras uma fuga de Florença para as colinas
próximas, ainda preservadas da peste.
Todas concordam com a ideia, e convidam três jovens cavalheiros para
acompanhá-las. Os dez, então, acompanhados de sete criados, partem para uma villa senhoril afastada da cidade e ali
poderão reconstituir o modo de vida que levavam até o caos instaurado pela
doença.
Em meio ao inferno sombrio de Florença tomada pela peste,
abre-se então uma clareira, o paraíso de prazeres idealizado que tornará
possível o esquecimento da morte por alguns dias. As regras do convívio social que haviam sido
desorganizadas pela epidemia começam a se reorganizar entre os dez jovens, que
de comum acordo estabelecem uma série de rotinas a serem seguidas por todos. Dentre
as normas adotadas, a principal
instituía que todos, após a sesta da tarde, se reuniriam próximos a uma
fonte, sob a sombra das árvores, para contar histórias até a hora da ceia.
Nas dez novelas do Decameron
ficaremos sabendo como um péssimo homem em vida, ao morrer, é tomado por santo;
como um homem, fingindo-se de mudo, consegue empregar-se de jardineiro em um
convento de freiras e todas querem deitar com ele; como Frei Alberto dá a
entender a uma senhora que o anjo Gabriel apaixonou-se por ela e, dessa forma,
deita-se várias vezes com a mulher; como um jovem fidalgo ama sem ser amado,
gastando toda sua fortuna em cortesias, ficando apenas com um falcão. Recebendo
uma visita imprevista da amada e não tendo o que lhe oferecer de almoço,
prepara-lhe a ave. Ao saber disso, a mulher toma-o como marido e o torna rico.
Há outras histórias mais, todas de leitura divertida e deliciosa.
Maurício Santana Dias nos explica que buscou montar, na
seleção das dez novelas do volume, um microcosmo que pudesse em alguma medida
oferecer ao leitor uma visão macroscópica do Decameron. Equilibrou temas e registros que vã dos mais popularesco
ao mais aristocrático, evitando cair no vício de muitas antologias que insistem
em compilar as novelas mais erótica ou escabrosas de Boccaccio, que acabam
alimentando uma percepção redutora do universo boccacciano.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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