Gregor Samsa era caixeiro viajante. Escolhera uma
profissão cansativa, devido às viagens frequentes que fazia, com a troca de
trens, as refeições irregulares e ruins, um convívio social sem calor humano.
Acordar sempre cedo, sem ter o justo sono. O chefe sempre tratando-o de cima
para baixo, que além do mais tinha de se aproximar para responder-lhe, pois seu
chefe era surdo. Mas Gregor Samsa tinha a esperança de juntar o dinheiro para pagar
a dívida de seus pais e fazer a ruptura com aquele tipo de trabalho que o
aborrecia em demasia. A preocupação dele era fazer tudo para a família esquecer
o mais rapidamente possível a desgraça comercial que havia levado todos a um
estado de completa desesperança. Assim, começara a trabalhar com um fogo muito
especial e, quase da noite para o dia, passara de pequeno caixeiro a caixeiro
viajante, que naturalmente tinha possibilidades bem diversas de ganhar
dinheiro. Passou a ganhar tanto dinheiro que passou a assumir as despesas dos
pais e da irmã.
A narrativa inicia-se com a transformação:“Quando
certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua
cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas
duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado,
marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a
deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente
finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas
diante dos seus olhos.”
A partir desse acontecimento insólito, a vida de
Gregor sofre uma reviravolta. A metamorfose sofrida altera sua relação com o
chefe e com cada membro da família.
A metamorfose, escrita em
1912, é a mais célebre novela de Kafka (1883/1924), escritor
tcheco que escrevia em alemão. Já foi dito antes que a metamorfose de Gegor
Samsa é um evento inverossímil. Para o leitor, pode ser que sim. No entanto, para a família, o evento não é inverossímil,
não é um elemento que provoque pavor, a não ser a surpresa inicial ao vê-lo
pela primeira vez. É uma presença que perturba, uma presença incômoda, mas é
algo assim como se de repente alguém encontrasse um animal feroz em sua
residência. Não vai além disso. Não ameaça a ordenação do mundo no qual surge.
Tradução direta do alemão de Modesto Carone,
especialista em Kafka.
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Franz Kafka. A
metamorfose. SP, Cia. das Letras, 1997. 102 pp.
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