Basil Hallward, pintor de quadros,
apaixona-se pela beleza do jovem Dorian Gray, um dândi da sociedade londrina,
vivendo das rendas de sua família rica. Quis, então, compor um quadro do jovem
que representasse o máximo às suas pretensões de artista. A beleza
de Dorian Gray era tanta que talvez a arte não fosse capaz de
expressá-la. O artista, assim, pensou uma
forma completamente diferente de arte, um estilo inteiramente novo. O quadro a ser pintado teria de harmonizar a
alma e o corpo, inaugurando, quem sabe, uma nova escola contendo toda a paixão
do espírito romântico e toda a perfeição do espírito grego. Entretanto, Basil
sentia uma insegurança no comportamento de Dorian Gray, como alguém que só
existia para agradar a sua vaidade. Mesmo assim, fez o retrato.
Dorian, entretanto, tinha ciúmes do retrato
que Basil pintara dele, porque tinha ciúmes de qualquer coisa cuja beleza não
morre. Na vida, o tempo tira a todo o
instante algo dele e dá ao quadro. Se o
quadro pudesse mudar, se a pessoa de Dorian pudesse ser belo e jovem pela vida
toda e o quadro mostrasse seus sinais de decadência, seria a perfeição.
O jovem era apaixonado por uma atriz de
teatro, filha de outra atriz. Portanto, oriunda de uma família pobre. Henry,
seu amigo e mentor, incentiva-o a largar
a atriz, que não estaria à altura de sua beleza. Dorian, entretanto, busca
provar que essa atriz era a mais maravilhosa das criaturas, convidando Henry e Basil
para assistir ao espetáculo Romeu e
Julieta, protagonizado por ela. O que se vê no palco, entretanto, é um
desastre. Ela representa quase tudo de forma desastrada, para frustração de
Dorian. Ao visitá-la no camarim, após o fim do espetáculo, ela lhe diz que sabe
que representou mal, porque a arte não a satisfaz mais do que o amor que ela
sente por Dorian. Ela se dispõe a abandonar a arte da representação em prol do
amor por ele. Isso marca o fim da relação dos dois. Dorian a rejeita. A paixão
dele não era pela pessoa da atriz, mas pela função que ela teria, de
representar a arte.
Dorian era imaturo. Acreditava que somente
pessoas superficiais precisam de anos para se livrar de uma emoção. Um homem
que é senhor de si mesmo pode fazer cessar uma tristeza com a mesma facilidade
com que inventa um prazer. Não quer estar à mercê das emoções, mas usá-las,
aproveitá-las e dominá-las.
Após abandonar a atriz, passa a ter uma
vida desregrada e imoral. Para ele, os modos passam a ser mais importante que a
moral. Muitos da sociedade fugiam dele. Só o toleravam nas rodas sociais por
causa do seu dinheiro. Assim, começa a haver a decadência de uma beleza que
fora, um dia, aparentemente tão notável. Passou a sentir-se entristecido pelo
reflexo que a ruína causava nas coisas belas e maravilhosas.
Dorian passou a odiar Basil, acusando-o de
incentivá-lo a se gabar de sua boa aparência. Apresentou-o a Henry que lhe
explicou as maravilhas da juventude, e finalizara um quadro que lhe revelava a
maravilha da beleza.
Agora, o quadro, completamente transformado pela passagem
do tempo, representava um sátiro. O quadro, a feiura de uma imagem que tornava
as coisas reais. Em O retrato de Dorian
Gray, Oscar Wilde levanta o tapete que cobre a superfície da beleza,
revelando a sujeira das conveniências
Oscar Wilde (1854/1900) nasceu em Dublin,
passando a residir em Londres, era cultor da Arte pela Arte. O escritor
posicionava-se contra a mentira na arte, afetando a criatividade do artista.
Para que o artista pudesse atingir a máxima liberdade na criação artística, era
preciso que essa criação não fosse imitativa, buscando um distanciamento da realidade como meio de atingir a
verdadeira arte e a beleza poética.
Wilde teve uma vida irreverente, recheada
de escândalos, devido a sua fama de escritor e dramaturgo. Era homossexual,
apesar de casado e pai de dois filhos. Envolveu-se numa relação tempestuosa com
Afred Douglas. Apesar da homossexualidade ser crime na Inglaterra, a
importância do escritor nos meios burgueses e sua privilegiada condição social
o livravam de problemas com a polícia. Quando move uma ação contra o pai de
Douglas, o marquês de Queensberry, por difamação e calúnia, perde a ação e é
condenado e preso por dois anos. Ao sair
da prisão conta com a ajuda da pensão da esposa para viver, mas isso lhe é
cortado, quando Wilde continua vivendo uma vida promíscua, bebendo em demasia.
Morre em estado de mendigo.
Tradução de Paulo Schiller
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Oscar Wilde. O retrato de Dorian Gray. SP, Penguin/Companhia, 2012, 164 pp.
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