O
polonês Joseph Conrad (1857/1924) nasceu numa região que, na época, era
disputada pela Polônia, Rússia e o Império Austro-Húngaro. Em casa, falava
polonês, na escola, o russo. Em sua juventude, talvez para fugir do serviço
militar russo, foge e começa a trabalhar em navios mercantes, vivendo um bom
tempo em Marselha, aprendendo o francês, passando a ler a literatura francesa,
especialmente Flaubert, de quem era admirador. Entra em contato com a língua
inglesa, através de sua literatura, e passa a viver em Londres, onde é recebido
de braços abertos. Começa, assim, a
escrever suas estórias em inglês, sendo considerado um dos escritores mais
significativos da literatura inglesa. Conrad, que escreveu a maior parte de
seus livros, tendo o mar como cenário, não é apenas um escritor de aventuras
marítimas para o entretenimento, suas personagens têm a alma em profundidade. Seus
melhores livros são: Coração das trevas
(já comentado aqui), Lorde Jim e Nostromo.
Lorde
Jim
é narrado por Marlow, personagem recorrente na obra de
Conrad, contando a
história de Jim, um vendedor marítimo. Sua característica essencial era a
esperteza. Seu trabalho consistia em abordar os capitães dos navios que
ancoravam no porto e levá-los para um armazém cheio de coisas boas de comer e
beber a bordo, além de todos os acessórios necessários à embarcação. Jim tinha
para com seus clientes um devotamento sublime. Tinha a vantagem de ser
possuidor de uma educação de marinheiro. No porto, todos os conheciam por Jim,
e nada mais. Tinha outro nome, mas procurava ocultá-lo, para esconder um fato
que teve grande repercussão em sua vida. Quando acontecia de alguém descobrir
seu passado, buscava fugir o mais rapidamente dali e procurar outros portos
para trabalhar. Era um marinheiro
exilado do mar. Como esse fato o perseguia, havia sido visto nos lugares mais
distantes e exóticos do mundo. Mais tarde, quando se viu escorraçado para
sempre dos portos e da sociedade dos brancos, passou a viver entre os malaios
da aldeia que escolhera na selva para aí esconder sua deplorável sensibilidade.
Entre os nativos, ganhou uma palavra a seu nome: chamavam-lhe Lorde Jim.
Quem
nos conta boa parte da história é Marlow, que encontra Jim no tribunal, julgado
por abandonar o navio em que trabalhava, quando afundava com grande número de
muçulmanos, fugindo num bote com o capitão e mais dois marujos. Aconteceu que o
navio não afundara e dos quatro que abandonaram a tripulação à deriva, apenas
Jim permaneceu para ser julgado. Condenado, é proibido de exercer o serviço de
marinheiro no mar. Com a ajuda de Marlow, consegue uma série de empregos que
acaba abandonando, quando é descoberto pelo que fez. O problema de Jim, é que ele
acredita que é possível começar do zero e refazer sua vida, mas não consegue
agir diante de seu passado, que acaba aniquilando-o aos poucos. As aventuras de
Jim, fugindo de seu passado,impõem-lhe, com crueldade, quebrar, destruir, aniquilar tudo o que vê,
conhece, ama ou odeia, no afã de querer varrer para sempre de sua vida, a tragédia
moral que vivera. O desconforto causado pela indefinição, pelo autoboicote e
pela dificuldade de assumir um erro, provoca- lhe apreensão, medo e angústia.
A
tradução que li é de Mário Quintana. Há uma tradução de Julieta Cupertino, que
vem se dedicando a traduzir as obras de Conrad para o português, pela Editora
Revan.
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CONRAD,
Joseph. Lorde Jim. Tradução
QUINTANA, Mário. São Paulo: Abril Cultural, 1982. Esta edição você encontra nos
sebos virtuais, valendo de 3 a 30 reais.
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