Você
imagina uma mulher da baixa classe média provinciana da França da metade do
século XIX que faz um casamento errado, leva uma vida aquém de suas pretensões
e não consegue mudar seu destino devido às imposições morais de uma sociedade
marcada por costumes políticos e religiosos hipócritas. Quando essa mulher não
aceita esse destino e entra em desespero, gera uma tragédia. Essa mulher é Ema
Bovary, personagem central de Madame
Bovary, de Gustave Flaubert (1821/1880), o grande estilista da prosa
francesa de todos os tempos.
Carlos
Bovary, marido de Ema, desde a adolescência mostrou-se um sujeito
sem atitude,
sem grande inteligência, sem muita determinação. Venceu os estudos na marra,
formou-se médico com muito esforço por determinação da mãe. Casou-se com uma
viúva mais velha que ele por causa de um dote, que se revelou uma fraude, pois
essa mulher estava arruinada e nada dissera ao marido Carlos. Então ele toma-se
de amores por Ema, uma jovem que se destacava das demais pela beleza e por
certo mistério em seu jeito de ser. O pai de Ema concorda com o casamento pelo
fato de Carlos ser médico. Porém, Ema se decepciona logo pelas atitudes
molengas do marido, por sua falta de ambição, pela mediocridade no exercício da
medicina. Forma-se um abismo na comunicação entre os dois, visto que Carlos não
conseguia percebê-la como mulher. Os dois têm uma filha, mas nem isso ajuda no
encontro dos dois. Aos poucos ela vai se rebelando em suas atitudes, gastando
além de suas possibilidades, com isso adquirindo dívidas. Depois, arranja um
amante. Ema leva essa relação às últimas consequências, até que o jovem
desaparece momentaneamente de sua vida, temendo consequências desastrosas a sua
moral. Ema se desespera de início, mas não se deixa vencer. Vai reformando a
casa, adquirindo mais dívidas sem que o marido o saiba. E arruma um novo amante,
que manipula de forma doentia.
De
repente, bate-lhe à porta o oficial de justiça cobrando a dívida, já vultosa,
comunicando a penhora de seus bens. Para evitar que Carlos saiba do ocorrido,
ela busca ajuda de todas as maneiras possíveis, recorrendo inclusive aos ex amantes,
mas tudo em vão. Vendo-se num beco sem saída, ela suborna o empregado da
farmácia e consegue o veneno para se matar.
O
final é trágico e patético.
Flaubert nos desenha o perfil psicológico de
Ema sem descobrir a personagem. É através de seus atos e atitudes que vamos
conhecendo uma personalidade sedutora e perigosa, angustiada e frustrada em
seus sonhos de felicidade.Trata-se de uma mulher que não se satisfaz com pouco.
A cena em que Flaubert descreve o encontro amoroso de Ema com seu primeiro
amante em uma carruagem que transita pela cidade sem um destino definido é de um
suspense arrepiante.
Não
entendo por que a obra de Flaubert não teve uma acolhida mais calorosa por parte
das editoras e tradutores brasileiros. Tem uma tradução decente de Araújo
Nabuco (a tradução é da década de 1940) pela Martins Editora e relançada pelo
Círculo do Livro, da editora Abril em 1976. A Penguin Companhia lançou Madame
Bovary recentemente, com tradução de Mário Laranjeira, indicado ao Jabuti de
melhor tradução. Cuidado com as edições baratinhas das editoras de bolso
tradicionais, Essa editoras gostam de plagiar traduções já feitas.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Gustave
Flaubert. Madame Bovary. SP, Círculo
do Livro, 1976, 264 pp.
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