terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quincas Berro d'Água: o livro carrega o filme

Vocês conhecem alguém que tenha visto uma obra cinematográfica baseada em livro, melhor que o livro? Eu, não. Mas, devem existir, sim. Eu, particularmente, gosto muito de assistir a filmes adaptados de obras literárias, especialmente depois de lê-las. Gosto das películas que fazem uma leitura competente do livro, respeitando a obra, criando cenas muito próximas do que havia imaginado quando lia um livro.
Mas, há filmes que deixam muito a desejar em relação às obras ecritas em que foram baseadas. Quincas Berro D'Água é um deles. As coisas começam pelo fato de o filme ser da rede Globo. Explico: os cineastas enviam seus projetos para arrecadar fundos para a filmagem se utilizando, entre outras coisas, de atores globais, não sei se para puxar público para o cinema ou se para ganhar algum, divulgando o filme na própria Globo. É aquela história, o governo dá dinheiro para a Globo ( que direta ou indiretamente acaba usando o produto como se fosse dela mesma, já que o elenco é todo ele global).
Bem, voltemos ao livro versus filme.
A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água é uma novela de Jorge Amado, escrita em 1958, uma das melhores obras do autor. Joaquim Soares da Cunha, o Quincas, foi funcionário público, pai e marido exemplar até o dia em que jogou tudo para o alto, trocando família, respeitabilidade, conhecidos, amigos, tradição, pela convivência com as prostitutas, os bêbados, os marinheiros, os jogadores e pequenos meliantes e contraventores da ralé de Salvador. Sua sede era saciada com cachaça e seu descanso pelo corpo acolhedor da prostituta. Fez-se respeitado e admirado entre seus novos companheiros de infortúnio, sempre disposto a mais uma farra ou bebedeira. Sua opção pela bandalha representa o grito do homem dominado e cerceado por preconceitos, que um dia rompe as amarras e grita por liberdade. Morreu solitariamente sobre uma cama imunda e sua morte detonou todo o processo de reconhecimento e desconhecimento por parte da família real e da família adotada.
Os amigos durante o velório se embriagam e resolvem, bêbados, levar o defunto para um último "giro" pelo baixo-mundo que habitavam. O passeio passa pelos bordéis e botecos, terminando em um saveiro, onde há comida e mulheres. Vem uma tempestade e o corpo de Quincas cai ao mar.
É Esse o plot do filme. A ação centra-se nessa via crucis de Quincas, já morto, querendo a voz de sua alma que os amigos lhe façam o desejo de morrer em paz, do jeito "proletário" de viver. Os quatro atores que carregam a ação dramática são o melhor do filme e os que o salvam de um desastre. Com atuações cômicas, "clownescas", convincentes, esses quatro bêbados dão credibilidade à história, prendendo a atenção do espectador até o seu final. Os atores globais de maior nome como Paulo José, Mariana Ximenes e Marieta Severo têm atuações discretas. Marieta Severo encarna uma prostituta amante do Quincas, falando um castelhano muito mal estruturado. A sensação que tive de Marieta Severo, é que ela tirou a personagem da epiderme do braço esquerdo e ficou com preguiça de investir melhor seu talento, que é bom quando ela quer. Mariana Ximenes ensaia uma tentativa minúscula de sotaque baiano, que abandona na segunda fala e o que vemos é mais uma Clara da novela das nove, pasteurizada e sem gosto.
O problema do cinema brasileiro dessa safra atual, é que os filmes passam a sensação de serem feitos nas coxas, baseados em uma idéia interessante até, mas sem criativade e fôlego para uma produção decente. Quem vai a cinema seria para ver cinema e não seriado de televisão. O jeito em que as coisas andam na produção cinematográfica, fazem pensar num certo amadorismo descosturado na sétima arte nacional.
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A morte e a morte de Quincas Berro d'Água. Jorge Amado, Cia das Letras, 2008, R$ 25,00
Quincas Berro d'Água. Direção de Sérgio Machado. Elenco: Paulo José, Marieta Severo, Mariana Ximenes, Vladimir Brichta. R$ 29,90

domingo, 17 de outubro de 2010

O último pingo vai sempre pra calça?

Já comentei uma vez aqui, acho uma pena que, pelo menos em minha geração (1953), os homens tenham sido educados diferentemente das mulheres. Digo-lhes isso para questionar por que os banheiros masculinos são nojentos e sujos. Será por que a mulher não ensinava o filho homem a sacudir o piupiu depois de urinar? Minha mãe nunca me ensinou. O que ela me ensinava era que eu devia entrar no banheiro, levantar a tábua do assento, urinar e puxar a descarga. Essa história de que tinha de sacudir, limpar com papel higiênico a cabeça do guri e guardá-lo com cuidado para que o último pingo não perpassasse a calça eu aprendi por conta própria, depois de alguns vexames.
Hoje já se percebem mudanças, pelo menos na classe média em que marido e mulher trabalham fora e parte da educação de seus filhos fica a cargo das creches. Sei de homens que trocam fraldas, buscam os filhos na escola, quando se separam lutam para ficar com a guarda dos filhos. Isso ainda não é comum, mas se encontram com frequencia homens que amam seus filhos de igual para igual. Mas, a situação da sujeira dos banheiros masculinos não mudou nada.
Em minhas andanças frequentes pelo Brasil de avião, tenho de fazer uso dos banheiros de aeroportos. São nojentos. Mesmo levando-se em conta que a limpeza deles sejam feitas algumas vezes por dia, mesmo assim, permanecem sujos: muitos pingos no chão ao redor dos mictórios. Pedaços de papeis entupindo a saída da água de muitos deles. Quanto aos vasos sanitários desses banheiros nada poderei argumentar, pois tenho toc (nojo de banheiros públicos) e jamais me vi na possibilidade de evacuar, sentando em um desses aparelhos.
Confesso que um pouco dessa sujeira no local dos mictórios deve-se ao fato da mira não muito segura da genitália masculina: às vezes a gente mira no lugar correto, mas o jato desvia para o lugar errado. Paciência. Mas esse erro estratégico não é o maior responsável pela nojeira dos banheiros públicos. Muito disso é falta de educação, mesmo! Mesmo que eu tenha criticado no início deste texto que a mulher não educava o menino igualmente à menina, depois de adultos devemos ter a consciência de que nos educamos através da vida e somos reponsáveis por essa educação e mudança de hábitos, quando se trata de cuidar da estética dos banheiros masculinos.