domingo, 25 de setembro de 2011

Céu de primavera




Escrevi numa crônica anterior o meu gosto pelos dias de inverno frio e seco de Porto Alegre, quando se busca o calor, o aconchego, o sono aquecedor (os dedos das mãos e os pés gelados a gente esquece, tá?!). Agora, quero dizer do meu gosto particular pela Primavera, minha estação preferida. Quando se tem sol e céu limpo, tudo é mais cor. Um dia luminoso como o deste domingo (25/09) é encantador. Fica-se com o pé que é um leque para sair à rua. O dia como hoje deveria ser o Dia Mundial sem o Carro. Na primavera, as ruas parecem ter alma. Árvores divergem nas cores, flores aparecem em canteiros e jardins, crianças reaparecem a brincar, bermudas e camisetas expõem mais o corpo ao clima fresco que vai esquentando um pouquinho mais, com a presença do sol. O bric da Redenção, a caminhada na orla do Guaíba, é compartilhamento.
A primavera incentiva o senso da coletividade, onde o nós passa a ser importante. O relacionamento é uma de suas tônicas. As pessoas parecem mais bonitas e alegres. Vontade de tomar cerveja e vinho branco. O entardecer primaveril é muito gostoso, quando o anoitecer volta a refrescar e nos traz para casa com a alegria de ter podido reverenciar o spot luminoso do dia.
A primavera de Porto Alegre é a estação da cultura e das artes: mostra de teatro, bienal do Mercosul, Feira do Livro. Já o litoral gaúcho cria vida na primavera. As casas são abertas, o mofo cede lutar aos perfumes de limpeza, as caminhadas à beira do mar são compartilhadas. A primavera é um festival de preparação.
A primavera é especial para mim, porque começa com o signo de Libra, meu signo. Minha natureza se alimenta do tom primaveril. Meio démodê, adoro presentear com flores, curto perfumes e aromas naturais. Sou muito natureza.
Para despedir-me, trago-lhes um pedaço da letra de Ronaldo Bastos para a música Sol de Primavera, de Beto Guedes:
Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
(Juntos outra vez)
Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar

Bons dias a todos!

domingo, 18 de setembro de 2011

A roda da Fortuna


Estou procurando sem sucesso o livro “A Velhice” de Simone Beauvoir. Muita gente deve estar fazendo o mesmo, já que a obra está esgotada na Editora Nova Fronteira, que tem publicado a obra de Simone, assim como a de Sartre. Na Estante Virtual também não encontrei a edição que busco ler, de 2003. Os poucos exemplares usados à disposição são da década de 70 e estão caros. Meu interesse pela obra vem do fato de que estou no alvorecer dos 58 anos e a hora de confrontar-me com o texto é agora, quando não me encontro com grandes problemas de saúde e tenho um distanciamento do que se coloca no livro, sob o ponto de vista existencialista. Simone de Beauvoir afirma que a sociedade de consumo trata os velhos como párias, condenados à miséria, à solidão e ao desespero. É exigido dos velhos a serenidade, o que evidencia o desinteresse pela infelicidade dos idosos.
Quando procurava “A Velhice” na Estante Virtual, verifiquei obras cujos títulos levam à compreensão da velhice na trilha parecida da auto-ajuda. Uma obra que me chamou a atenção foi “Rejuvenescer a velhice”. Segundo informação da contracapa, a terceira idade é entendida como a etapa mais rica e experiente da vida e, por isso mesmo, a mais propícia a aprofundar-se no autoconhecimento e na percepção da sociedade. Destas reflexões brotam as formas possíveis do idoso atuar e integrar-se no corpo social, debelando com sabedoria os rótulos e preconceitos que ainda atingem esse segmento da população. Acredito que alguns idosos saudáveis consigam essa integração social, mas o comportamento da sociedade com os velhos ainda é preocupante. Parece que se esquecem de que velhice é preocupação com a falta saúde. Outra é a solidão. Os velhos que podem “rejuvenescer” são os mais ricos, que dispõem de meios para embasar o cuidado que lhes é necessário.
Outra obra de título interessante que encontrei foi “Vencendo a velhice”, da Dra. Ana Aslan. Fiquemos na afirmação do título: você acha que é capaz de se vencer a velhice? Como se a velhice fosse uma doença de que se pudesse sarar. Outro é “Pondo Fim à Velhice”. Pronto, você acaba com ela, fica eternamente jovem. Aliás, quando vejo matérias na tevê mostrando idosos fazendo ginástica, teatro, brincadeiras infantilizadas, alguns depoimentos de idosos que se sentem como se tivessem 15 anos fazendo atividades físicas, tudo isso me deixa com a pulga atrás da orelha. Que se façam exercícios, que pratiquem atividades criativas, mas não tornem os velhos imbecis. Já repararam como há terapeutas da terceira idade falando aos velhos no diminutivo, como se fossem crianças?
Velhice pra mim é aceitação da condição humana. É confronto direto com a solidão. É finitude. É preparação para a morte que não consigo ainda aceitar. Velhice é amadurecimento, e eu preciso amadurecer para aceitar as coisas não muito boas que poderão vir por aí, espero que não muito cedo.

domingo, 11 de setembro de 2011

Relato de viagem



A viagem a Rússia e Escandinávia estava sendo planejada desde que me aposentei em 2007. Como na ocasião eu adquiri uma polineuropatia inflamatória crônica desmilienizante, que comprometeu um pouquinho o movimento dos pés, fui deixando a coisa passar, até que agora o projeto aconteceu. A ida até Moscou foi muito demorada, oito horas de espera no aeroporto de Amsterdam para conexão a Moscou. Estando lá, dois dias cheios e não consegui ter uma visão mais abrangente da cidade. Será que Moscou seria somente o Kremlin e a Praça Vermelha? O passeio interessante que fizemos à noite pelos pontos turísticos da cidade, se oferecido durante o dia, daria uma visão mais diversificada da capital russa. Um dia a mais em Moscou teria sido perfeito, pois gosto muito de frequentar museus e não pude ver o de Gorki, grande escritor russo que tanto admiro. Como a fala e a escrita são enigmas, consegui decifrar muita coisa usando meu inglês que julgara enferrujado. Especialmente em restaurantes, a coisa foi meio complicada. Mas deu tudo certo.
São Petersburgo é uma cidade charmosa. Cortada pelo rio Neva, possui uma arquitetura meio barroca, em que o estilo austero dos soviéticos não pôde alterar. O palácio de verão de Catarina II, a Grande, é sensacional. Quase todo ele em estilo rococó, começou a ser construído em 1717. O salão de baile, todo decorado em ouro, bem como o Salão Âmbar, são deslumbrantes. A Rússia foi assim um pouco intenso de história. Muito dessa riqueza vem da aristocracia que os bolchevique tentaram apagar.
Da Rússia a Finlandia, a história cede lugar às belezas naturais. Helsinque, uma graça. Poderia ter ficado mais um dia. A cidade é pequena e agradável. Ao contrário do que eu sabia, a Finlândia não faz parte da Escandinávia, tem uma língua diversa das demais, uma das mais antigas do mundo, que se aproxima do tronco da língua romena. De lá, viagem de navio a Estocolmo. A travessia do Mar Báltico só fez sentido, porque o ônibus precisou ir junto. Foi um tempo precioso que se desperdiçou. Estocolmo, entretanto compensou o esforço. Cheia de canais, tem uma rua de pedestres imensa e colorida que leva aos pontos turísticos importantes da cidade. A visita aos salões da prefeitura, onde acontecem as cerimônias de entrega do Nobel foi muito bacana.


De Estocolmo a Oslo, o cansaço. Três dias cheios dentro do ônibus, paisagens belíssimas vistas da janela, pois as estradas estreitas não permitiam parar para sacar fotos. O que se via o tempo todo era uma paisagem rural com suas casinhas com telhado de grama (eles dizem que isso protege do frio) próximas a lagos e fiordes. O passeios pelos fiordes, que era o que mais me interessava, ficou com menos brilho por causa dessa trajetória cansativa. Oslo agradou não tanto quanto as demais visitadas. O passeio fechou com uma Copenhagen linda e sedutora. Lá, um dia a mais não faria nada mal a ninguém. Aproveitei a noite no “canal”, um local perto do porto, repleto de restaurantes, onde tomei vodca e cerveja “strong”. Kopenhagen prioriza a bicicleta ao pedestre. Há muita, mas muita bicicleta circulando em ciclovias que existem em todas as ruas que vi.
Quase não troquei dinheiro. Usei o cartão para tudo. Apesar dos 6,5%, achei que valeu a pena, porque não me enchi de moedinhas indesejáveis depois que se vai embora, e porque a conversão ao dólar comercial valeu a pena. Agora, em casa, estou curtindo a música erudita do músico norueguês Eduard Grieg e estou começando a leitura de “Noites Brancas”, de Dostoievski, cujo cenário é São Petersburgo. Para finalizar, quero dizer-lhes que é muito bom estar de volta ao lar.