domingo, 5 de abril de 2015

O filho de mil homens

Crisóstomos é um homem solitário de 42 anos, só com metade de tudo. Falhara nos amores, muito complicados. Pensava que havia gente a exercer o amor como um crime. Mas as coisas não precisam ser assim. A solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo.

Sonha em ter um filho, constituir uma família baseada em laços de amor e amizade mais do que em laços consanguíneos. Conhece um adolescente órfão, Camilo, filho de uma anã que morreu afirmando que Camilo era filho de quinze homens da aldeia onde morava. Os dois vão morar juntos. Camilo pede a Crisóstomos que procure uma mulher para casar, pois quer ter uma mãe.

Crisóstomos encontra Isaura, uma mulher desiludida,um traste que a família procurou casar a qualquer custo e acabou casando-a com Antonino, homossexual delicado que a procura para buscar esconder-se das torturas que as pessoas da vila, especialmente os homens, exerciam sobre ele.

As coisas não dão certo. Antonino foge no dia do casamento. Isaura fica desconsolada. Consegue anular o casamento. Mas perde o gosto pela vida. Uma vez, quando vai junto ao porto para chorar seu infortúnio, encontra Crisóstomos. Os laços vão se firmando, forma-se um núcleo familiar que se une inicialmente pelo sofrimento e solidão, mas que se vai constituindo em amor e respeito ao próximo. Antonino é trazido para junto dessa família especial e começa a ter sua identidade respeitada, acabando por encontrar um amigo igual a ele em seu desejo.Afinal, segundo Valter Hugo Mãe, Somos o resultado de muita gente.

Mais um belo romance recheado de delicadezas no trato com o sentimento humano e a dignidade de viver.
                       
                                            paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Valter Hugo Mãe. O filho de mil homens. SP, Cosac Naify, 2012, 256 pp. R$ 39,00