domingo, 26 de fevereiro de 2012

Sobre herois e tumbas

Sobre heróis e tumbas narra a história trágica de dois jovens, Martín e Alejandra, enquanto retrata um período histórico e social da Argentina da década de 1950. Paralelamente, conta a história da Seita Sagrada dos Cegos, uma seita maléfica espalhada pelo mundo. Esse foco ganha um capítulo que, por sua estrutura independente, já foi lançado como obra autônoma: Informe sobre cegos. Martín, 17 anos, filho de uma mãe que não o ama e de um pai fracassado que odeia, apaixona-se por Alejandra, 18 anos, filha de uma família burguesa decadente. Alejandra era frívola, cruel e alienada do mundo e de si mesma. Quem conta a história de Alejandra para Martín é Bruno, seu amigo conselheiro. O pai de Alejandra, Fernando, era capaz de qualquer coisa para obter o que quisesse, sem medir as consequências de seus atos. O mundo de Fernando era rodeado de certa loucura. Sustentava a teoria de que os cegos tinham uma seita secreta, que era una religião extremista que quería matá-lo.
No decorrer da trama, Alejandra pede a Martín que não a procure mais (foram várias tentativas de separação da parte dela). Durante a noite de 24/06/1955, Alejandra mata o pai e coloca fogo na casa, morrendo os dois queimados. Martín ficou com a alma em pedaços. Decide, então, retomar sua vida na Patagônia, para buscar esquecer seu passado e ter outra oportunidade em um lugar com pessoas desconhecidas.
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Abbadon, el exterminador é o terceiro volume da trilogia. Necessita da leitura dos dois romances anteriores, para ser compreendido. Além do mais, não tem tradução ainda em portugués, o que poderá dificultar sua leitura, posto que a novela não tem enredo linear, misturando ficção e realidade. Os vários assuntos transcorrem durante a década de 1970, quando a Argentina se encontrava em pleno regime militar repressor. Há a descrição de tortura de um preso político de arrepiar os cabelos.
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Ernesto Sabato. Sobre heróis e tumbas. Cia. das Letras, 2002, 624pp
__________ Sobre héroes y tumbas. 2ª ed. Bs. As., Booket, 2008, 552 pp
__________ Abbadon, el exterminador. Bs. As., Seix Barral, 2006, 432 pp

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O túnel

O argentino Ernesto Sabato, antes de ser escritor e artista plástico, envolveu-se com a ciência, a Física, tendo sido doutor em uma de suas áreas. Sua condição humana, entretanto, levou-o a abandonar os estudos científicos e a dedicar-se com firmeza na literatura.
Sabato sempre identificou-se com os fracos e oprimidos da Argentina e do mundo que considerava injusto. El túnel (O túnel), sua primeira novela, escrita em 1948, teve seu reconhecimento merecido pela crítica e público, graças, em parte, ao apoio que recebeu de Camus e intelectuais fora da Argentina, atingindo o sucesso inesperado ao autor que não acreditava muito na qualidade de seu trabalho.
O pintor Juan Pablo Castel está preso, por ter matado Maria Iribarne. Ele a conheceu em um de seus vernissages e percebeu que havia sido a única a compreender sua obra. Apaixonou-se perdidamente, queria manter controle sobre ela. Acontece que Maria é pessoa enigmática, é casada e Juan Pablo suspeita que seja amante de suposto primo. O ciúme dele vira doença.
A história se passa em Buenos Aires. Durante a narrativa são citados lugares como La Recoleta, Posadas e Plaza San Martin.
Ernesto Sábato nasceu em 1911 e morreu em 2011, em Buenos Aires.
El túnel faz da parte da trilogía que inclui as novelas Sobre héroes y tumbas e Abbadon el exterminador, a serem comentadas aquí.
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Ernesto Sabato. O túnel. Cia. das Letras, 2000, 152 pp
__________ El túnel. 9ª ed. Buenos Aires, Booket, 2010 144pp

A edição em português está esgotada, mas se encontra disponível nos sebos virtuais.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Hombres de Maíz

O romance do guatemalteco Miguel Ángel Astúrias, prêmio Nobel em 1967, não tem tradução em português. Essa pode ser uma das dificuldades para o leitor. A outra é a linguagem. O romance pertence ao realismo mágico, que teve forte repercussão nas letras internacionais há décadas atrás. Escrito em 1949, documenta a oralidade do povo indígena (no final do romance há um glossário, traduzindo inúmeras palavras da fala popular), seus costumes e crenças fantásticas. Miguel Ángel Astúrias aborda a mitologia indígena maia, tomando como tema a lenda de Popol Vuh, um dos poucos livros que sobraram da cultura maia. A lenda aborda, pelo aspecto religioso, a criação do mundo. Os deuses criaram a terra, os animais e os homens, estes feitos inicialmente de barro. Como não resistiam por muito tempo, acabaram criando quatro homens, a partir de grãos de milho moídos e a partir de seus corpos criaram quatro mulheres que se multiplicaram e constituíram várias outras famílias. O milho, para o índio agricultor, mais que alimento, é a origem da raça. Paralelamente à lenda, há o aspecto político, também presente no realismo mágico. Os indígenas são submetidos ao jugo colonialista, destruindo a natureza. O milho fonte de sua essência de vida, passa a ter valor meramente comercial, com a destruição de suas terras para plantio em massa. A ação da novela Hombres de Maíz concentra a luta do cacique índio Gaspar Ilom, que se revolta contra a imposição dos que pretendem destruir os bosques e a terra destinada à plantação do milho, para fins comerciais. Gaspar é assassinado e o filho de seu algoz, Machojón, é queimado vivo, como castigo. Ha o venado de siete cabezas, curandeiro que revela a farmácia onde foi conseguido o veneno que matou Gaspar, para que seus proprietários sejam castigados, também. Outro personagem, Goyo tic quien, é um cego que foi abandonado por María Tecún, sua mulher, que fugira dele para não ter mais filhos para presentear-lhes sua miseria. Há também o Correo Coyote, que percorre toda a região para entrega e recolhimento de cartas.
Miguel Ángel Astúrias nasceu na cidade de Guatemala em 1899 e faleceu em Madri em 1974. Além de escritor, foi diplomata. O livro mais conhecido dele, El Señor Presidente, tem tradução em português, que não posso avaliar se é adequada ou não.
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Miguel Ángel Astúrias. Hombres de maíz. 12ª ed., Buenos Aires, Losada, 2004, 440 pp

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Os anos com Laura Diáz

Os anos com Laura Díaz leva o leitor a uma reflexão sobre aspectos da história cultural e política do México na arte, na sociedade e no temperamento particular do povo mexicano. Simultaneamente, relata a trajetória de uma mulher, desde a tenra idade até sua velhice. Nessa trajetória, cruzam-se em sua vida individual e coletiva, figuras como Diego Rivera e Frida Khalo, que convivem e interagem com ela, durante parte da narrativa.
Laura Díaz é uma mulher que consegue romper esquemas e padrões sociais e culturais, que lhe permitem construir sua vida e suas convicções, valorizar as pessoas que a rodeiam, obter vantagens em determinadas situações e construir uma vida afetiva muito peculiar.
A história inicia-se com seus avós (sua vó era alemã), em 1905, até o ano de 1972, retratando um painel político e social do México, tão a gosto de Carlos Fuentes. Laura Diaz surge na narrativa desde muito pequena. O autor descreve em cada capítulo (em progressão temporal) os acontecimentos de sua vida. Relaciona-se com alguns homens, até que conhece e casa-se com Juan Francisco Lopez Greene, mestiço, sindicalista, com quem tem dois filhos. Nesse periodo mantém contato com a classe operária mexicana. Experimenta amores clandestinos, alguns intensos, com um diplomata espanhol republicano e um norte-americano, bem mais velho que ela.
Carlos Fuentes, escritor mexicano, apresenta como característica, situar o enredo de suas histórias dentro da história mexicana, caracterizando uma literatura de cunho social. Publicou vários livros. Alguns deles: A região mais transparente, Cristóbal Nonato, A morte de Artémio Cruz e Terra Nostra (com exceção de Cristóbal Nonato, todos já resenhados neste blog). Os anos com Laura Díaz tem tradução em português pela ed. Rocco, esgotada. Você poderá encontrá-la nos sebos da Estante Virtual.
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Carlos Fuentes. Los años con Laura Díaz.Madrid Punto de Lectura, 2006, 622 pp
____________Os anos com Laura Díaz. Ed.Rocco,2000,470 pp (esgotado)