sábado, 26 de fevereiro de 2011

De tarde no cinema

Depois de uma longa temporada sem ver filmes em salas de projeção, fiz um passeio a um shopping para assistir a dois filmes de uma tacada só. O primeiro foi Beautiful, película mexicana em coprodução. A história é barra pesada, contando a vida de um homem de meia idade, interpretado por Javier Bardem, um fora da lei que tem câncer de próstata. Por causa da doença e também por amor aos filhos pequenos, decide programar-lhes uma vida menos abjeta, juntando o dinheiro que ganha de atividades ilegais e criminosas. Pensando no futuro dos filhos, conta com a ajuda de uma senegalesa viúva que vive ilegalmente no país. A mãe das meninas é desajustada, um pouco por causa de sua bipolaridade que não é devidamente tratada, até que a personagem de Bardem a interna em uma clínica para tratamento.
Gosto um pouco desse filmes com temática social, especialmente essas que abordam as categorias excluídas da população. Parece que o cinema latinoamericano carrega essa preocupação de abordar as misérias da classe menos favorecida economicamente, em contraponto às historinhas bobas das novelas televisivas que ilustram a alta classe média, deixando para os pobres o papel de coadjuvantes cômicos.
O outro filme que vi na mesma tarde foi o documentário Lixo Extraordinário, que qualifico como excelente. O roteiro acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz junto à comunidade de um lixão do Rio de Janeiro. Muniz decide usar o material reciclável para fazer arte, através da intervenção de fotos de alguns catadores fotografados e trabalhados artísticamente com esse material. O documentário reflete a pobreza e também é rico em soluções de arte e de vida. Gostei demais.
Uma semana depois, voltei ao cinemas para ver Cisne Negro e O discurso do rei. Do cisne negro eu não gostei muito. É um filme de terror. A personagem é paranoica, obsessiva por fazer o melhor, desconfiando de que o melhor não seja o bastante para mantê-la no papel principal do balé que ensaia. As imagens de automutilação, a relação conflituada com a mãe, o final que me fez pensar, "tá, mas e daí?", nada disso me agradou. O aspecto da doença da personagem pode acrescentar nutritivos debates intelectuais, mas achei um filme pra baixo.Será que existe beleza em thrillers? Não sei, mas de qualquer forma foi um filme que não me bateu, queria menos transtorno mental e mais ficção. O discurso do rei também é um filme "problemático": a história de um homem que teve sua vida atormentada por uma educação rígida, que acentuou suas tendências à gagueira. Me agradaram a previsibilidade clássica e o gostoso sotaque e a interpretação britânica dos atores. A mensagem final do filme talvez possa ter parecido babaca, mas ver o filme não me frustrou como foi no cisne negro.
Cinema para mim é antes de tudo ficção. Pode ter um pé na realidade, apresentar denúncia social, ter verossimilhança, mas tem de apresentar uma realidade fantasiosa, inteligente e sensível. Gostei de ter voltado às telas do cinema depois de tanto tempo.