sábado, 12 de março de 2011

As rugas que me vejo

Acompanhei um capítulo de Insensato Coração em que Glória Pires aparecia em close, mostrando as rugas da mulher simples, tipo anti-heroína. Puxa, uma personagem verossimilhante, que bacana! Comentei com uma de minhas irmãs noveleiras, estava gostando da Glória Pires mostrar-se ao natural, sem a pele esticada. Minha irmã jogou água fria, afirmando que as rugas da personagem não seriam rugas de Glória Pires, aquilo era maquilagem. Atrizes sem a pele plastificada seriam raras na televisão. Não fui a fundo na questão, mas devo confessar que admiro artistas e personalidades que aceitam envelhecer com naturalidade, sem buscar esconder a idade. É como estivessem ampliando o leque social de suas atuações. Gostei quando ouvi certa vez Fernanda Montenegro dizer que não fazia plástica no rosto porque, daí, "como ficariam suas velhas?". Depois Fernanda fez uns retoques e algumas de suas velhas não ficaram mais. Notem que ultimamente só a vemos fazendo papeis de mulheres da alta sociedade, elas podem pagar suas plásticas. Outra vez li um depoimento de Marina Lima, quando lançou seu belo cd Marina Lima, de 1991 (lembram da música Grávida: eu tô grávida/grávida de um beija-flor/grávida de terra/de um liquidificador/e vou parir/um terremoto, uma bomba, uma cor). Pois ela dizia que estava com 34 anos e as pessoas diziam - não parece! Marina queria que parecesse sim! Ter respeito à idade que se tem era forma de valorizar sua história de vida.
Os que assumem sua idade aceitando as rugas como passaporte de vida, é coisa de que gosto. Tenho 57 anos e aceito minhas rugas como um trofeu(rugas masculinas parecem ser mais aceitas em nossa cultura?) e admiro os da minha troupe que respeitam os sinais da idade no rosto. Tá, tudo bem, tem quem goste de não "se sentir velho", são narcisistas, sentem-se aos 60 como se tivessem 15 anos, mas é bacana estar de cara limpa, sem se achar outra pessoa. Eu não consigo imaginar Maitê Proença, por exemplo, fazendo o papel de empregada doméstica em filme ou novela. Torço para que haja alguém que possa fazê-lo, empregando seu rosto com as marcas do tempo.
A verdade, contudo, é que vivemos o culto do corpo, da moda do corpo meio embrutecido para homens e mulheres. No caso das mulheres, especialmente as artistas, o culto da performance passa pelo desnudamento do corpo, então, dá-lhe repuxo!
Aos que curtiram a crônica, recomendo o cd de Marina Lima e o livro de Lya Luft: Secreta Mirada. A edição que tenho é da Mandarim. Muito provavelmente deva existir uma edição atualizada pela Record, sua editora atual.

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