domingo, 2 de janeiro de 2011

Boa leitura em 2011!

O Albatroz Azul. João Ubaldo Ribeiro. Nova Fronteira, 2009

O albatroz azul é a história de um homem muito velho que, apesar de detentor da sabedoria trazida por todos os seus anos de existência, ainda busca apreender algum sentido na vida, ainda se defronta com os mesmos enigmas silenciosos cuja decifração sempre nos escapou. Tertuliano, o protagonista, sabe que sua morte está próxima e a encara com a mesma serenidade com que vê qualquer outro acontecimento natural. Chega mesmo a ansiar por ela, como um momento de justiça, recompensa pelos males sofridos e, de certa forma, renascimento. O que lhe acontece é revelado no final, mas talvez nem mesmo essa revelação dissipe os mistérios e talvez seja isto que o final queira dizer: nem a vida nem a morte têm explicação ou, se têm, jamais estará a nosso alcance conhecê-la.


Desonra. J. M. Coetzee. Cia. Das Letras, 2000

Lurie é um professor de literatura que não sabe como conciliar sua formação humanista, seu desejo amoroso e as normas politicamente corretas da universidade onde dá aula. Mesmo sabendo do perigo, ele tem um caso com uma aluna. Acusado de abuso, é expulso da universidade e viaja para passar uns dias na propriedade rural da filha, Lucy. No campo, esse homem atormentado toma contato com a brutalidade e o ressentimento da África do Sul pós-apartheid. 'Desonra' investiga as relações entre as classes, os sexos, as raças, tratando dos choques entre um passado de exploração e um presente de acerto de contas, entre uma cultura humanista e uma situação social explosiva.

Memórias de mis putas tristes. Gabriel Garcia Márquez, Record, 2005

O que significa a velhice? É um simples fato numérico, contado aos cinqüenta, relembrado aos sessenta e temido aos setenta, ou algo que implica naquilo que somos, em nossas atitudes e perspectivas sobre o mundo?É esta a indagação que Gabriel Garcia Márquez faz nesta obra que contribuiu para reafirmar seu prêmio Nobel de Literatura. Um ancião, na véspera de seu aniversário de noventa anos, sente um desejo louco de viver uma noite de amor com uma virgem. Não apenas mais uma das centenas de mulheres promíscuas que passaram por sua vida, mas aquela que exalasse a pureza de nunca ter sido tocada. Ao narrar sua história, ele mostra como seu velho coração é invadido por aquele sentimento que até então somente tinha ouvido falar, sem conhecer realmente seu significado: o amor. Uma menina de 14 anos que precisa criar or irmãos e terminar de criar-se, desperta uma chama oculta na vida do nobre jornalista, que passa a transbordar esse sentimento nas suas crônicas, agora apaixonadas, no jornal de domingo. Uma história que realmente nos faz pensar no quanto inusitada é a vida e no valor que devemos dar a cada segundo, pois ele é único e depois dele pode haver mais um, ou não.

Razão e sensibilidade. Jane Austen, tradução de Ivo Barroso, Nova Fronteira, 2006

Na Inglaterra de 1700, duas jovens desafiam preconceitos sociais com a força da paixão. Bonitas, inteligentes e sensíveis, as irmãs Elinor e Marianne só contam com o amor para resgatar sua dignidade de moças pobres. Mas a grandeza de seus sentimentos revela-se impotente contra a hipocrisia de uma sociedade preocupada apenas com os bens materiais. Diante dessa realidade, as jovens deparam-se com uma árdua escolha - conformar-se e sufocar os anseios do coração ou lutar até as últimas consequências para conquistar o amor de seus sonhos.

Mrs. Dalloway. Virginia Woolf, tradução de Mário Quintana, Nova Fronteira, 2005

'Mrs. Dalloway', considerado a obra-prima de Virginia Woolf, é um romance comovente e transformador. Publicado em 1925, a história de um dia na vida de Clarissa Dalloway revolucionou a literatura. Compondo um retrato perspicaz e original de paisagens e sentimentos, Virginia Woolf simultaneamente observa a burguesia na Londres do começo da década de 1920 - seus costumes, regras e influências - e conduz sua personagem a uma pungente viagem interior.

Budapeste. Chico Buarque. Companhia das Letras, 2003

Ao concluir a autobiografia romanceada 'O ginógrafo', a pedido de um bizarro executivo alemão que fez carreira no Rio de Janeiro, José Costa, um ghost-writer de talento fora do comum, se vê diante de um impasse criativo e existencial. Escriba exímio, 'gênio', nas palavras do sócio, que o explora na 'agência cultural' que dividem em Copacabana, Costa, meio sem querer, de mera escrita sob encomenda passa a praticar 'alta literatura'. Também meio sem querer, vai parar em Budapeste, onde buscará a redenção no idioma húngaro, 'segundo as más línguas, a única língua que o diabo respeita'. Narrado em primeira pessoa, combinando alta densidade narrativa com um senso de humor muito particular, 'Budapeste' é a história de um homem exaurido por seu próprio talento, que se vê emparedado entre duas cidades, duas mulheres, dois livros, duas línguas e uma série de outros pares simétricos que conferem ao texto o caráter de espelhamento que permeia todo o romance.


Um quarto com vista. E. M. Forster. Ed. Globo, 2006

Em 'Um quarto com vista', a insuficiente vida inglesa é confrontada com a Itália, real e mítica. O livro divide-se em duas partes. A primeira passa-se em Florença; a segunda, na Inglaterra, sendo que o último capítulo retorna a Florença e arremata o livro. Dominando técnicas narrativas tradicionais, se comparado às vanguardas da prosa de sua época, Forster, no entanto, inova em outra direção, quando se considera suas posições morais e ideológicas, opostas ao puritanismo inglês. A história é simples, mas as conseqüências, imprevisíveis. Lucy Honeychurch, moça ingênua e recatada, representante de uma aristocracia rural 'impura', pois filha de um advogado que construiu uma casa no campo, irá realizar um casamento de interesse com Cecyl Vyse, membro da aristocracia urbana londrina, que conheceu na Itália. Mas sua viagem acabará mudando de modo radical sua concepção de mundo e de si mesma. Em Florença, conhecerá diversos ingleses numa hospedaria, que depois se reencontrarão na Inglaterra, principalmente em Tumbridge Wells, onde se passa a maior parte da história. Aos poucos Lucy vê seus valores se dissolverem e se envolve numa relação confusa com George Emerson, vindo de outro extrato social e filho de um socialista. De volta a Tunbridge Wells, onde mora sua família, Lucy aceita o pedido de casamento de Cecil, mas logo suas diferenças se tornam nítidas. Por uma série de acasos, George, que ameaça a relação de Lucy e Cecyl, passa a freqüentar a casa de Lucy, tornando-se amigo do irmão dela. Pressionada, Lucy se vê traída por todos e resolve agir. Mas George se recusa a pedir-lhe desculpas pelas ousadias que cometera com ela, beijando-a mais de uma vez, como condena seu casamento com Cecyl, que o socialista toma como a própria representação do atraso histórico. No último capítulo, novamente em Florença, reencontramos Lucy. Mas agora ela é uma nova mulher, longe da rigidez de sua classe e das convenções inglesas, e o texto adquire toda a sua extensão libertária. O título, assim, é uma feliz metáfora; um quarto, mesmo cinzento, possui uma janela com uma vista e por onde pode entrar a luz.

Divórcio em Buda. Sándor Marai. Companhia das Letras, 2003

Na véspera de oficializar a separação de um casal, o juiz Kristóf Kömives se surpreende ao receber a visita do marido e ouve um relato capaz de reabrir feridas há muito cicatrizadas. 'Divórcio em Buda' faz uma rica descrição da burguesia decadente na Hungria dos anos 30, numa narrativa de grande densidade psicológica. Do mesmo autor - 'As brasas', 'O legado de Eszter' e 'Veredicto em Canudos'.

Dois Irmãos. Milton Hatoum. Companhia das Letras, 2000

Prêmio Jabuti 1990 pelo romance 'Relato de um certo Oriente', publicado nos Estados Unidos e em vários países da Europa, Milton Hatoum volta à literatura com este livro que traz um drama familiar de notável densidade, também ambientado em Manaus. O enredo desta vez tem como centro a história de dois irmãos gêmeos - Yaqub e Omar, filhos de imigrantes libaneses que chegaram ao Brasil no início do século - e suas relações com a mãe, o pai e a irmã. Na mesma casa moram Domingas, a empregada da família, e seu filho, um menino cuja infância é moldada justamente por esta condição: ser filho da empregada. É este menino que, trinta anos depois dos acontecimentos, vai contar o que testemunhou calado - histórias de personagens que se entregaram ao incesto, à vingança e à paixão desmesurada.

Os espiões. Luís Fernando Veríssimo. Alfaguara Brasil, 2009

Luis Fernando Verissimo procura construir, neste livro, uma alegoria híbrida de mitologia, humor e mistério. Ainda se curando da ressaca do final de semana, na manhã de uma terça-feira, o funcionário de uma pequena editora recebe um envelope branco, endereçado com letras de mãos trêmulas. Dentro, as primeiras páginas de um livro de confissões escrito por uma certa Ariadne, que promete contar sua história com um amante secreto e depois se suicidar. Atormentado por sonhos românticos, esse boêmio frustrado com seu casamento, e infeliz no trabalho, decide tomar uma atitude - descobrir quem é Ariadne e, se possível, salvá-la da morte anunciada. Na mitologia grega, ela ajuda Teseu a sair do labirinto. No entanto, o autor cria uma Ariadne ao contrário, que vai enfeitiçando o protagonista e seus amigos de bar, os espiões deste livro.

Nove noites. Bernardo carvalho. Companhia das Letras, 2002

Um romance de Bernardo Carvalho, que narra a história do antropólogo americano Buell Quain, que se matou aos 27 anos, em 1939, no coração do Brasil. Levado por razões pessoais que vão sendo reveladas ao longo do livro, o narrador começa uma investigação obsessiva para tentar elucidar o suicídio e acertar contas com a própria história e com a figura do pai.

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