domingo, 18 de setembro de 2011

A roda da Fortuna


Estou procurando sem sucesso o livro “A Velhice” de Simone Beauvoir. Muita gente deve estar fazendo o mesmo, já que a obra está esgotada na Editora Nova Fronteira, que tem publicado a obra de Simone, assim como a de Sartre. Na Estante Virtual também não encontrei a edição que busco ler, de 2003. Os poucos exemplares usados à disposição são da década de 70 e estão caros. Meu interesse pela obra vem do fato de que estou no alvorecer dos 58 anos e a hora de confrontar-me com o texto é agora, quando não me encontro com grandes problemas de saúde e tenho um distanciamento do que se coloca no livro, sob o ponto de vista existencialista. Simone de Beauvoir afirma que a sociedade de consumo trata os velhos como párias, condenados à miséria, à solidão e ao desespero. É exigido dos velhos a serenidade, o que evidencia o desinteresse pela infelicidade dos idosos.
Quando procurava “A Velhice” na Estante Virtual, verifiquei obras cujos títulos levam à compreensão da velhice na trilha parecida da auto-ajuda. Uma obra que me chamou a atenção foi “Rejuvenescer a velhice”. Segundo informação da contracapa, a terceira idade é entendida como a etapa mais rica e experiente da vida e, por isso mesmo, a mais propícia a aprofundar-se no autoconhecimento e na percepção da sociedade. Destas reflexões brotam as formas possíveis do idoso atuar e integrar-se no corpo social, debelando com sabedoria os rótulos e preconceitos que ainda atingem esse segmento da população. Acredito que alguns idosos saudáveis consigam essa integração social, mas o comportamento da sociedade com os velhos ainda é preocupante. Parece que se esquecem de que velhice é preocupação com a falta saúde. Outra é a solidão. Os velhos que podem “rejuvenescer” são os mais ricos, que dispõem de meios para embasar o cuidado que lhes é necessário.
Outra obra de título interessante que encontrei foi “Vencendo a velhice”, da Dra. Ana Aslan. Fiquemos na afirmação do título: você acha que é capaz de se vencer a velhice? Como se a velhice fosse uma doença de que se pudesse sarar. Outro é “Pondo Fim à Velhice”. Pronto, você acaba com ela, fica eternamente jovem. Aliás, quando vejo matérias na tevê mostrando idosos fazendo ginástica, teatro, brincadeiras infantilizadas, alguns depoimentos de idosos que se sentem como se tivessem 15 anos fazendo atividades físicas, tudo isso me deixa com a pulga atrás da orelha. Que se façam exercícios, que pratiquem atividades criativas, mas não tornem os velhos imbecis. Já repararam como há terapeutas da terceira idade falando aos velhos no diminutivo, como se fossem crianças?
Velhice pra mim é aceitação da condição humana. É confronto direto com a solidão. É finitude. É preparação para a morte que não consigo ainda aceitar. Velhice é amadurecimento, e eu preciso amadurecer para aceitar as coisas não muito boas que poderão vir por aí, espero que não muito cedo.

Um comentário:

  1. Rosa Ibaños escreveu-me um email, comentando o texto acima, que faço questão de transcrever. Obrigado, Rosa:
    "Paulo, que bela reflexão. E como escreves bem ! Achei interessante mencionares a infantilização dos velhos por parte de seus cuidadores. Essas pessoas estão usando o que se chama formação reativa. É fazer/dizer o oposto do que se está pensando. Sabe quando se diz "que engraçadinho" para uma criança chata? Lidar com a velhice produz ansiedade porque ela é o espelho do que todos seremos um dia. Tratá-los como incapazes é o modo de lidar com essa ansiedade. Triste, não?
    De minha parte, estou gostando muito de envelhecer. Deixa-se para trás inseguranças e preocupações tolas da juventude. Quem valoriza o autoconhecimento, aproveita melhor o passar dos anos. Concordo contigo quando dizes que a velhice é a aceitação da condição humana.

    Perfeito!

    Não vejo a hora de ler novas postagens.

    Abraço,

    Rosa
    "

    ResponderExcluir