domingo, 20 de novembro de 2011

A morte de Artêmio Cruz



Em A morte de Artêmio Cruz , Carlos Fuentes nos revela os processos mentais de um velho que já não é capaz de valer-se por si mesmo e que se acha prostrado ante a morte iminente e indigna. A técnica narrativa consiste em intercalar o passado, o presente e o futuro da personagem, tendo como pano de fundo a Revoução Mexicana de 1910. O presente narrativo se passa na década de 1950. O mesmo pretexto foi usado pelo autor em sua novela anterior, La región más transparente.Se lá a personagem central é a cidade do México, aqui é o homem que subiu na vida graças às engrenagens do mundo capitalista. Para isso, renunciou a seus preceitos revolucionários do passado.
A história começa quando Artêmio Cruz sofre um ataque.Em seu leito de morte, recusa a extremunção do cura, sabendo que há muito tempo havia deixado de lado a fé. Busca incessantemente prolongar um pouco mais seu martírio. Mãe e filha, à beira do leito do moribundo estão precocupadas com o testamento do velho, que até o momento não lhes havia dito nada sobre isso. Artêmio pensa na mulher a quem nunca amou, na filha que o despreza.
Enquanto essa e outras pessoas se movimentam ao redor de sua cama, seu cerebro se translada em indas e vindas entre o presente e o passado. Recorda dos sucessos que o levaram até onde se encontra nesse momento. Vê-se a si mesmo no ano de 1919, como um joven veterano da Revolução que chegou à fazenda dos Bernal, trazendo noticias à familia de que o filho Gustavo havia sido fuzilado por forças de Pancho Villa. A verdadeira intenção de Artêmio era ganhar a confiança do velho pai de Gonzalo e casar-se com a filha, Catalina, para assim apropriar-se das propriedades da familia. Catalina nunca conseguiu compreender esse amor insosso de Artêmio por ela. Por isso, culpa-se por toda vida pelo fato de não ter sido correspondida. Com a norte do filho, Catalina e Artêmio passam a ter uma vida aborrecida, até que ele se alista novamente para lutar na revolução espanhola e assim escapar de uma relção sem conserto.
Artêmio recorda-se também de outras relações mediocres que teve com outras mulheres, antes de Catalina. Recorda-se, também, dos assentatados da localidade de Perales, seus vizinhos, e de como se apoderou de suas terras. De como foi eleito pela primeira vez deputado, cargo que lhe valeu para todo o tipo de trapaças, subornos e chantagens. Das grandes festas que dava, em que seus convidados riam dele pelas costas.
Pouco antes de sua hora final, revela ao leitor dois epísódios que explicam por que foi o que foi. Num deles, conta como foi capturado pelas tropas de Villa e sentenciado à norte. Foi aí que ele decidiu passar informações ao inimigo e mudar seu objetivo de vida. No capítulo final, entendemos como tudo começou: Artêmio havia nascido num meio rural bem humilde. Durante seus primeiros anos, seu único amigo era o mestiço Lunero, que servia à avó e ao tio alcoólatra de Artêmio. Depois de matar seu tio por tiro acidental, ele foge para Veracruz. Ali, um professor se interessa por ele e o prepara para desempenhar o papel que o levou a lutar na Revolução, antes de perder seus ideais e eleger a traição que o levou a usar o poder, para corromper-se a si mesmo.
La muerte de Artemio Cruz apareceu em 1962. A personagem Artêmio Cruz representa, assim, os paradoxos da história moderna do México, no período da constituição de uma burguesía urbana. Há uma edição em portugués, pela Rocco, esgotada. É possível encontrá-la em sebos virtuais.
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Carlos Fuentes. La muerte de Artemio Cruz. Madrid, Punto de Lectura, 2001

4 comentários:

  1. Excelente romance, estou lendo. A sua resenha clarificou alguns pontos, obrigada.

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    1. Inúmeros pontos, pra um leitor desavisado, há muita dificuldade em entender o transcorrer da obra, principalmente entre os lapsos de passado/futuro.

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  2. ora, ora o Artêmio Cruz é a nossa pobre e infeliz América Latina só isso.

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