domingo, 22 de janeiro de 2012

Duas vezes João Gilberto Noll

Harmada

Um homem com uma ferida na perna abandonado próximo a um matagal. Sabe-se que é ator de teatro. Está num momento conversando com um menino, depois aparece numa casa para tomar banho. Lá conhece um rapaz e já estão num bar. No bar conhece um sujeito manco que o leva a tomar banho no rio. De repente está sozinho no rio. Depois consegue um emprego, casa e não tem filhos: descobre que é estéril. De repente, perde a mulher e o emprego, indo parar num asilo de mendicância onde exerce a função de contador de estórias. Lá aparece uma adolescente, Cris, filha de Amanda, mulher com quem havia transado há 14 anos, quando Cris tinha meses de vida. Um suceder de acontecimentos e lugares surge ao longo da trama.
Críticos afirmam que Harmada apresenta uma escrita esquizofrênica. De fato, nele as palavras apresentam vários sentidos. Os relatos do personagem-narrador são delírios no contato com a realidade. É um ser não incluído no contexto social, um ser desqualificado à procura de algo indefinido, mas dotado da capacidade de transformação, em busca de uma provável identidade, que busca encontrar no país de Harmada.
Harmada é considerado um dos cem romances imprescindíveis da literatura brasileira. Se ainda não o leu, leia que é bem bom.

Afagos e acenos

O narrador-protagonista apresenta seu delírio existencial numa busca erótica compulsiva. Desde garoto já tinha se excitado com um garoto, mais adiante apaixona-se por um seminarista que larga a batina para se tornar engenheiro. É uma paixão louca e platônica. Depois está casado, com um filho adolescente. Em suas fantasias é sempre a presença masculina que movimenta seu desejo erótico. O personagem-narrador sacia seu desejo homoerótico fantasiando amores intensos, com juras de amor que se esmorecem assim que finda o encontro, que quase nunca se repete com a mesma pessoa. É um afago. E um aceno de adeus. O amor é anônimo, alguém surge e desaparece sem deixar lembranças. Após um programa com um massagista de boate guei, lembra-se do amante platônico, o tal engenheiro, que não consegue alcançar. Daí ele morre, e é ressuscitado pelo engenheiro, com um beijo na boca. Daí a história toma um rumo inusitado.
De leitura menos fácil que Harmada, Acenos e Agagos está envolto em humor refinado. Será uma bela experiência de leitura.
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João Gilberto noll. Harmada, SP, Francis, 2003, 104pp
__________ Acenos e afagos, 2ª ed, Rio, Record, 2008, 208pp

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