domingo, 6 de maio de 2012

Por que você lê best-sellers?

( ) porque você abre o sítio de qualquer livraria na internet e os
best- sellers estão anunciados em destaque na página inicial.

( ) porque quando entra em uma livraria fabulosa, como a Cultura, o que
está exposto em suas gôndolas são esses livros comerciais com forte apelo promocional. Você lê a contracapa, a resenha é convincente. Policial. Você volta para a capa e há uma foto com um ou mais artistas que encenaram o filme baseado no livro. Você viu o filme, gostou,comprou o livro.

( ) porque esses livros já foram testados em seus países de origem,
tiveram grande sucesso comercial. As editoras nacionais gostam de investir nesse tipo de obra, pelo alto recurso financeiro.

( ) porque você folheou uma Veja ou Isto É no consultório de seu médico e
na seção de cultura esses livros estavam mencionados e resenhados.Você foi incentivado à leitura.

( ) São best-sellers "O poderoso Chefão", "Harry Potter", "O melhor de
mim", "A menina que roubava livros", "O caçador de pipas", as sagas de
bruxas da Idade Média, toda a obra de Samanta Schweblin, toda a saga do Ripley, "O código Da Vinci", a obra de Paulo Coelho (por que ele você não lê?).

( ) por nenhuma das assertivas acima. Suas razões são outras. É válido.

Os livros que se tornam best-sellers são previamente planejados para venderem muito no mercado editorial. Não vejo problema nisso. É uma literatura que não apresenta grandes voos existenciais, é uma literatura prazerosa, de passatempo. Bate no joelho de sua perna. Não vai além disso. O best-seller pode servir de porta de entrada para se aprofundar o gosto por uma literatura sofisticada. Mas esse leitor, por si só, talvez não consiga chegar lá. Seria preciso que houvesse uma divulgação mais exposta dessa literatura melhor elaborada, melhor traduzida, mais densa. Mas, quem edita livros precisa ganhar dinheiro. Literatura sofisticada não vende. Então, o leitor mais atento precisa do auxílio para buscar na internet um livro que lhe interesse e o encomende, provavelmente na loja você não o encontrará.
A Folha de São Paulo está buscando fazer autores de literatura ibero-americana best-sellers, com uma diferença: vendendo livros bons e baratos, em bancas de jornais. Acho louvável a iniciativa. Boa literatura. À venda ali, na sua mão. Adquiri o livro do português António Lobo Antunes (1942), contemporâneo de José Saramago, com quem, em vida, teve suas rusgas. Antunes disse que Saramago havia jogado um livro seu no chão. Depois, um disse que nunca havia lido um livro sequer do outro. Frescuras... Assim como Saramago, exige que suas obras sejam editadas no Brasil no original. Como sabemos, Portugal escreve diferente do Brasil (mesmo com o novo acordo de unificação dos dois idiomas).
Memória de elefante mostra as divagações “paranoicas” de um psiquiatra profundamente deprimido, recém-separado da mulher e das duas filhas, numa Lisboa pós-Revolução do Cravos (1974) e pós-independência de Angola (1975). O livro foi escrito em 1979. O relato se passa em um dia e uma noite, mostrando um homem mergulhado em dúvidas existenciais. Esse homem consegue se lembrar de tudo relacionado à sua vida pessoal e coletiva. Daí a memória de elefante do título. O autor, Lobo Antunes, é psiquiatra na vida real, trabalhou em um hospital angolano durante a guerra naquele país. Por isso, e por outras, a obra é considerada autobiográfica. Apesar de suas poucas páginas, o livro é denso, exige atenção na leitura, pelo grande número de informações e pela forma rebuscada que o autor utiliza para desenvolver sua narrativa. Nada impossível, entretanto, a um leitor inteligente e antenado ao mundo globalizado que o rodeia. Vale a pena a leitura.

António Lobo Antunes. Memória de elefante. SP, Folha de São Paulo, 2012, 162 pp. R$ 16,80

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