domingo, 20 de janeiro de 2013

Coração das Trevas


O navegador Marlow alimentava o desejo de um dia conhecer um lugar escondido no continente africano. Esse sonho alimentado desde a infância era dominado por um mistério fascinante, às vezes transformado em um lugar escuro, tomado pelas trevas. É que naquele lugar havia um rio, grande e caudaloso, que se podia ver no mapa, lembrando uma imensa serpente desenrolada, com a cabeça no mar, o corpo estendido descrevendo curvas que se prolongavam por uma vasta extensão de terras e a cauda perdida nas profundezas do continente. Um dia apareceu a oportunidade de visitar esse lugar. Uma companhia, dessas que exploravam o marfim no Congo precisavam de um navegador experiente para buscar um de seus funcionários que havia desaparecido, talvez prisioneiro ou doente. Marlow aceitou imediatamente e foi com a tarefa de encontrar e trazer o misterioso senhor Kurtz. A presença ainda desconhecida de Kurtz, assim, passou a ser-lhe uma obsessão.  O que sabia dele, até então, era que tinha o dom da expressão. Era uma voz. Queria encontrá-lo vivo. Quando o encontrou, finalmente,  percebeu que era, realmente, um homem notável.  Nesse primeiro encontro, Kurtz, com o olhar fixo que não conseguia ver a chama da vela, mas abrangia todo o universo, capaz de penetrar nos corações que pulsam nas trevas, resumiu e julgou “O horror”. O romance de Joseph Conrad (1857-1924) aborda, por um lado, a desumanização e a violência do colonialismo europeu no continente africano, notadamente durante o período de comercialização do marfim. Kurtz representaria a racionalização da violência colonial, o perigo do desaparecimento das sociedades não-ocidentais diante da expansão europeia. Por outro, desvela a inquietação existencial e o desregramento do indivíduo, confrontado com a ruptura de laços sociais. Movido pelo comércio e pela ideia de progresso, Kurtz (representante do colonizador) assume o direito de subjugar e matar.

Joseph Conrad, nascido na Polônia, exilou-se com a família na Rússia, onde teve seu primeiro contato com a língua inglesa através do pai, que era tradutor de Shakespeare. Órfão aos 11 anos, retornou à Polônia, para viver com um tio. Quando jovem, ingressou na Escola de Marinha, tomando-se, assim, de amores pelo mar, que lhe havia de marcar toda a vida. Em 1878 passa a residir na Inglaterra, adquirindo mais tarde a cidadania britânica.  Quando se aposentou da marinha, por motivos de doença, dedicou-se a escrever romances, tornando-se um dos mais notáveis escritores da língua inglesa, apesar de sua prosa peculiar. Suas obras-primas são Lorde Jim e Coração das trevas, que inspirou fortemente Francis Ford Coppola no filme Apocalypse Now, retratando a guerra do Vietnã, em que Marlon Brandon interpretou a personagem inspirada em Kurtz.
Conrad, de fato, viveu na África Central por seis meses, capitaneando gaiolas no rio Congo, conhecendo, portanto, muito bem o ambiente que retratou em seu livro. A edição da Companhia das Letras tem tradução de Sergio Flaksman e posfácio de Luiz Felipe Alencastro.

                                                                                                 Paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Joseph Conrad. Coração das trevas. SP, Companhia de Bolso, 2008, 184 pp, R$ 21,00

2 comentários:

  1. Olá, Paulinho, bom voltar a te ler.
    Sinto tua falta no facebook, mas vejo que é por uma boa razão: a leitura de bons livros e não das bobagens postadas no Face. Abraço. Rosa

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  2. Salve, Rosa! Tuas postagens no face nada tinham de bobo. Eram imagens delicadas que sugeriam textos poéticos. Beijo

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