domingo, 14 de abril de 2013

Juventude


J. M. Coetzee (1940) nasceu na Cidade do Cabo, África do Sul. Ganhou o Nobel em 2003. Mas é bem mais que isso. É um dos pensadores mais ativos da atualidade. Defende em suas palestras e ensaios a ideia de que o escritor contemporâneo precisa lidar com a sensibilidade estética, o pensamento e o sentido ético.  Sua literatura elegante e sóbria nos revela personagens que, apesar das adversidades, são ansiosos por viverem experiências, lidarem com dificuldades da vida e do relacionamento com os outros, inclusive no sexo e no amor. O cenário sul-africano social e político se faz presente em boa parte de sua obra (combateu veementemente o apartheid), mas os problemas que seus personagens carregam, através da fluidez exemplar das narrativas, são universais e nos tocam profundamente.
No romance Juventude, o autor nos apresenta um jovem estudante de matemática sul-africano e candidato a poeta que não acredita em si próprio. Nunca pensou em fazer terapia, pensa que pessoas felizes não são interessantes. Mora em um apartamento alugado de um cômodo. Foi para fugir à opressão da família, que saiu de casa. Arrumando um emprego, quer usar sua independência para afastar os pais de sua vida. Afastado dos pais, está tentando provar que todo homem é uma ilha: ninguém precisa deles. Envolve-se com uma mulher dez anos mais velha, que passa a morar com ele. Logo em seguida, percebe que está sendo sufocado, que precisa de seu tempo de solidão, longe da bagunça que ela realizou em sua vida. A mulher o deixa. Aparecem outras que acabam sumindo de sua vida. O que o atrai na matemática, além dos símbolos arcanos, são seus usos, sua pureza. Se houvesse um Departamento de Pensamento Puro na universidade, ele se matricularia, mas matemática pura lhe parece o que a academia tem de mais próximo ao reino das formas. Seu plano futuro, entretanto, é ir para Londres, depois de formado, para se dedicar à arte. Enquanto estiver aperfeiçoando sua capacidade poética no estrangeiro, ganhará a vida fazendo alguma coisa obscura e respeitável. Esse é o começo de uma trajetória atraente e muito bem amarrada que envolverá o leitor nas páginas de Juventude, romance com traços autobiográficos que faz parte da trilogia Cenas da vida na província, precedido de Infância e seguido de Verão. Juventude pode ser lido de forma independente. 

Coetzee vem sendo traduzido no Brasil, através da Editora Companhia das Letras. Além de Juventude, temos Desonra (livro que me impressionou bastante), Diário de um ano ruim, O homem lento e A infância de Jesus, recém-lançado.

Dia 18 de abril o autor dará uma palestra no Salão de Atos da Ufrgs, a partir das 19h30 com o tema Literatura e Censura. Se o leitor tiver interesse, a inscrição poderá ser feita diretamente no sítio http://www1.ufrgs.br/extensao/inscricoes/ins_inscricao.php. A inscrição custa R$ 50,00 para o público externo à Universidade.
                                               paulinhopoa2003@yahoo.com.br                                                

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J. M. Coetzee. Juventude. SP, Cia. Das Letras, 2005, 190 pp. R$ 22,00 (edição de bolso)

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