domingo, 21 de julho de 2013

Pedras de Calcutá


Caio Fernando Abreu nasceu em Santiago do Boqueirão (RS) em 1948 e faleceu em Porto Alegre em 1996. Estudou Letras e Artes Cênicas, mas não teria concluído nenhum dos dois cursos, preferindo transferir-se para São Paulo, onde atuou como jornalista em diversos jornais e revistas de grande circulação nacional. Notabilizou-se no conto, apesar de exercitar a crônica jornalística e ter escrito dois romances em sua curta vida: Limite branco e Onde andará Dulce Veiga?. Também foi dramaturgo. Se você era ativo culturalmente na década de oitenta em Porto Alegre, certamente curtia o teatro gaúcho e provavelmente assistiu a duas peças suas de sucesso: Pode ser que seja só o leiteiro lá fora e A maldição do vale negro, ambas montadas no Teatro do Clube de Cultura, na rua Ramiro Barcelos. Caio também fez traduções.
A geração de que Caio fez parte sofreu com a censura da ditadura militar. Geração que viveu uma espécie de apoteose criadora. Caracterizava-se pela ruptura da estrutura tradicional, especialmente do conto, apresentando uma narrativa preocupada em fotografar instantes, episódios ricos em sugestões e flashes reveladores de angústia, medo, solidão, através de uma prosa carregada de informalidade, muito mais chegada a Rita Lee e Cazuza do que ao estilo formal da Academia.
Leitor assíduo de Clarice Lispector, apresenta em sua escritura influências da escritora genial. Na década de 70, publicou dois livros de contos, O ovo apunhalado (1975) e Pedras de Calcutá (1977). Mas a fama  veio com os contos de Morangos Mofados, editado pela Brasiliense,   em 1982. A Brasiliense lançava no início dos anos 80 a coleção de bolso “Cantadas Literárias”, revelando autores que despontavam no cenário nacional como Caio Fernando Abreu, a poeta Ana Cristina César, Paulo Leminsky, Marcelo Rubens Paiva e Francisco Alvim, citando apenas alguns dos brasileiros da coleção.
Pedras de Calcutá é um livro formado por contos distribuídos em duas partes: Mergulho I (a vivência alucinatória da própria experiência física de forma atormentada, como se o corpo dos personagens suportassem a própria vida) e Mergulho II (indivíduos em busca de fatos capazes de oferecer soluções quase improváveis, resultando em ansiedade, tensão e expectativa quase desesperadora). Os contos exprimem o horror que pode existir entre pessoas que se descobrem perseguidas não tanto por uma ditadura, mas por si mesmas.
O gosto por ambientes urbanos, a escrita angustiada e a temática da solidão compõem o quadro das características literárias de Caio. Sua narrativa é uma sondagem da angústia e da solidão daqueles que vivem perdidos entre arranha-céus. Sua prosa introspectiva revela a pressão de se sentir sozinho, esmagado por uma realidade opressiva que não faz a menor questão de estimular alguém a permanecer vivo. Em seus textos, há também a presença de uma radiografia dos sentimentos e das relações amorosas, com especial apego aos deslizes e incertezas.
É bastante comum a literatura de qualidade produzida no Brasil encontrar-se esgotada. É o caso de Pedras de Calcutá. Você acha um exemplar seminovo nos sebos virtuais por um preço médio de 30 reais.

                                                                       paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Caio Fernando Abreu. Pedras de Calcutá. SP, Cia. Das Letras, 1996, 132 pp. 

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