O sul-africano J. M. Coetzee (1940) nos apresenta, em Diário de um ano ruim, um velho escritor
solitário que se encontra com uma jovem na lavanderia do condomínio, onde
moram. Fica Interessado. Busca informações da moça com o porteiro do prédio. No
segundo encontro, em um parque, leva adiante seu plano de se aproximar. Descobre
que trabalha como secretária para seu companheiro. Como já está seduzido, arma uma estratégia para trazê-la para si. Conta-lhe que está produzindo material para
contribuir para um livro, ideia de um editor da Alemanha, cujo projeto
é reunir seis colaboradores de seis países, dizendo o que quiserem sobre
qualquer assunto que escolherem, pronunciando-se sobre o que está errado no
mundo de hoje. Esse fato é verídico na ficção (na vida de Coetzee também). Faz o convite: como está com prazo apertado,
precisando urgentemente de uma secretária que o ajude a organizar o
material, precisa dela para trabalhar com ele, oferece-lhe pagar muito
bem. Ela aceita. Porém, o companheiro da jovem instala um spyware no computador
do escritor e passa a monitorar os dois.
A história é contada em três planos: o diário que vai
constituindo um ensaio sobre temas relevantes da atualidade. Esse plano
aproxima o narrador do próprio Coetzee, que costuma dar palestras ao redor do
mundo sobre esses temas (recentemente esteve em Porto Alegre, para falar sobre a censura na África do Sul). O segundo e o terceiro planos são contados como
notas de rodapé: num, é o escritor narrando sua atração e relacionamento com a
secretária; noutro, é a secretária que revela seu ponto de vista sobre o escritor.
O livro pode ser lido de várias formas. O leitor vai
escolher a que lhe for mais cômoda. Coetzee, como sempre, se reinventa a cada
romance. A tradução é de José Rubens Siqueira
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J. M. Coetzee. Diário de um ano ruim. SP, Cia. das Letras,
2008, 248 pp. R$ 39,50
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