domingo, 20 de outubro de 2013

O escorpião da sexta-feira

Antônio, ex-seminarista, saiu de Pau d’Arco (a Macondo de Charles Kiefer) para trabalhar na Cúria metropolitada de Porto Alegre. Uma tarde, sob a luz filtrada dos vitrais, viu a mulher que transformaria sua vida, que o arrastaria num turbilhão de desejo e paixão, e o desviaria definitivamente do destino que tentava traçar até então, com a fé inabalada em Deus. Luísa, ardilosa e irônica, inflexível e fria. Luísa o abandona e o trai. A partir daí, sente perder o controle sobre si mesmo, abandonado numa solidão doída. Volta a lembrar-se da paixão antiga por escorpiões. Encontra Luísa pela última vez e a mata. A partir de então, adquire um escorpião venenoso que usará toda a sexta-feira à noite para matar prostitutas e, com isso, vingar-se da mulher que amou. Para ele, a vida é um conjunto muito reduzido dos mesmos temas, das mesmas situações inúteis.

Fiquei com a impressão, ao ler O escorpião na sexta-feira, de que Charles Kiefer, intimidou-se diante do psicopata Antônio, tratando-o na superficialidade de suas ações, sem aprofundar suas contradições como indivíduo, reduzindo-o a um traço característico básico que o acompanha durante toda a história: a obsessão por Luísa. O romance ganharia muito, se apresentasse contradições, comportamentos imprevisíveis, enigmáticos, que vão sendo definidos no decorrer da narrativa, evoluindo e surpreendendo o leitor. Assim como está, fica tudo previsível.

Charles Kiefer não é um escritor qualquer. Tem três Prêmios Jabuti em seu currículo, além de outros prêmios. É professor universitário de Literatura e administra oficinas literárias. Tem mais de 30 livros publicados, entre romances e contos. Ganhou notoriedade nacional ao publicar sua primeira novela infanto-juvenil, Caminhando na Chuva, em 1984. Atualmente publica seus livros pela editora Record.

                                 paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Charles Kiefer. O escorpião da sexta-feira. Rio, Record, 2006, 112 pp R$ 27,90

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