Um dia, o rei da poderosa dinastia persa descobre que a
mulher o trai com um escravo. Em crise, sai pelo mundo, querendo saber se
existe alguém mais infeliz do que ele. Descobre que sim, e mais, ninguém pode
conter as mulheres. Então retorna a seu reino decidido a tomar uma decisão
drástica e violenta: casar-se a cada noite com uma mulher diferente, mandando
matá-la na manhã seguinte. O vizir encarregado de matar as jovens tinha uma
filha chamada Xaharazád (conforme se pronuncia), e outra mais nova chamada
Dinarzad. Xaharazád tinha lido livros de compilações, de sabedoria e de
medicina; decorara poesias e consultara as crônicas históricas; conhecia tanto
os dizeres de toda gente como as palavras dos sábios e dos reis. Era, portanto,
além de bela, inteligente, sábia e cultivada. Ela diz ao pai que estaria
disposta a casar com o rei, para tentar salvar a vida de mais mulheres que se
casassem com ele. O pai acaba concordando. Xaharazád
montou uma estratégia infalível
por meio de histórias que contava sucessivamente, noite após noite, diante de
um rei a princípio assustado, mas depois cada vez mais seduzido e encantado. Toda noite ela o entretinha contando fábulas
de terror e de piedade, de amor e ódio, de medo e de paixões desenfreadas, de
atitudes generosas e de comportamentos cruéis, de delicadeza e brutalidade.
Quando a noite findava, ela interrompia a história, fato que levava o rei a
preservá-la e a indagá-la na noite seguinte sobre a continuação da história,
até se completarem mil noites. O rei, nesse período, dormiu com a jovem,que
então teve um filho dele, mostrou-lhe a criança e o inteirou de sua artimanha;
assim, passou a considerá-la inteligente, tomou-se de simpatia por ela e lhe
preservou a vida. Dinarzad apoiava
Saharazád em suas artimanhas.
Livro
das mil e uma noites foi traduzido diretamente do árabe por Mamede
Mustafa Jarouche, divido em dois volumes
contendo o ramo sírios das fábulas, e dois volumes do ramo egípcio. O quarto
volume do ramo egípcio contém as histórias de Aladim e de Ali Babá, as mais
conhecidas de todas.
Até o momento eu li os dois volumes do ramo sírio. As histórias
são, de certa forma, amarradas através de personagens que se sucedem, formando
um todo coerente. São histórias para adultos, algumas de um amor apaixonado, outras
bem picantes. O volume I apresente uma
série de histórias curtas, como O burro,
o boi, o mercador e sua esposa e O barbeiro de Bagdá e seus irmãos,
subdivida em várias histórias envolvendo os mesmos personagens. O volume II
contém histórias mais longas e igualmente belas, como a do jovem Nurudin
Bakkar, que se paixona pela concubina do califa e as consequências desse amor
profundo e duradouro que leva os dois a consequências trágicas. Há também a
história de Nurudin Haqan, filho de um vizir muito bondoso que ganhara um valor
vultoso em dinheiro para comprar uma concubina formosa e inteligente. O vizir
encontra a jovem, mas seu filho a engana, tirando-lhe a virgindade. O vizir
morre e o jovem Nurudin e a jovem se apaixonam. Nurudin muda radicalmente de
vida, dividindo seus bens materiais e seu dinheiro para fazer o bem. Quando
fica pobre, busca auxilio a quem havia ajudado e é tratado com desprezo. O
final da história é surpreendente.
As mil e
uma noites inspirou a escritora Nélida Piñon em belo romance Vozes do Deserto, já comentado neste
blog.
paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Livro das
mil e uma noites, volume I: ramo sírio. 2ª ed, SP, Globo, 2005, 424
pp., R$ 55,00
Obs.: os preços de livros que divulgo são os de valor
máximo. Mas se você buscar o livro
sugerido no Buscapé, por exemplo, vai encontrar um exemplar novo, às vezes, com
preços bem mais acessíveis.
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