domingo, 8 de fevereiro de 2015

Livro das mil e uma noites


Um dia, o rei da poderosa dinastia persa descobre que a mulher o trai com um escravo. Em crise, sai pelo mundo, querendo saber se existe alguém mais infeliz do que ele. Descobre que sim, e mais, ninguém pode conter as mulheres. Então retorna a seu reino decidido a tomar uma decisão drástica e violenta: casar-se a cada noite com uma mulher diferente, mandando matá-la na manhã seguinte. O vizir encarregado de matar as jovens tinha uma filha chamada Xaharazád (conforme se pronuncia), e outra mais nova chamada Dinarzad. Xaharazád tinha lido livros de compilações, de sabedoria e de medicina; decorara poesias e consultara as crônicas históricas; conhecia tanto os dizeres de toda gente como as palavras dos sábios e dos reis. Era, portanto, além de bela, inteligente, sábia e cultivada. Ela diz ao pai que estaria disposta a casar com o rei, para tentar salvar a vida de mais mulheres que se casassem com ele. O pai acaba concordando.  Xaharazád  montou  uma estratégia infalível por meio de histórias que contava sucessivamente, noite após noite, diante de um rei a princípio assustado, mas depois cada vez mais seduzido e encantado.  Toda noite ela o entretinha contando fábulas de terror e de piedade, de amor e ódio, de medo e de paixões desenfreadas, de atitudes generosas e de comportamentos cruéis, de delicadeza e brutalidade. Quando a noite findava, ela interrompia a história, fato que levava o rei a preservá-la e a indagá-la na noite seguinte sobre a continuação da história, até se completarem mil noites. O rei, nesse período, dormiu com a jovem,que então teve um filho dele, mostrou-lhe a criança e o inteirou de sua artimanha; assim, passou a considerá-la inteligente, tomou-se de simpatia por ela e lhe preservou a vida. Dinarzad  apoiava Saharazád em suas artimanhas.

Livro das mil e uma noites foi traduzido diretamente do árabe por Mamede Mustafa Jarouche, divido  em dois volumes contendo o ramo sírios das fábulas, e dois volumes do ramo egípcio. O quarto volume do ramo egípcio contém as histórias de Aladim e de Ali Babá, as mais conhecidas de todas.

Até o momento eu li os dois volumes do ramo sírio. As histórias são, de certa forma, amarradas através de personagens que se sucedem, formando um todo coerente. São histórias para adultos, algumas de um amor apaixonado, outras bem picantes.  O volume I apresente uma série de histórias curtas, como O burro, o boi, o mercador e sua esposa  e O barbeiro de Bagdá e seus irmãos, subdivida em várias histórias envolvendo os mesmos personagens. O volume II contém histórias mais longas e igualmente belas, como a do jovem Nurudin Bakkar, que se paixona pela concubina do califa e as consequências desse amor profundo e duradouro que leva os dois a consequências trágicas. Há também a história de Nurudin Haqan, filho de um vizir muito bondoso que ganhara um valor vultoso em dinheiro para comprar uma concubina formosa e inteligente. O vizir encontra a jovem, mas seu filho a engana, tirando-lhe a virgindade. O vizir morre e o jovem Nurudin e a jovem se apaixonam. Nurudin muda radicalmente de vida, dividindo seus bens materiais e seu dinheiro para fazer o bem. Quando fica pobre, busca auxilio a quem havia ajudado e é tratado com desprezo. O final da história é surpreendente.
As mil e uma noites inspirou a escritora Nélida Piñon em belo romance Vozes do Deserto, já comentado neste blog.
    
              paulinhopoa2003@yahoo.com.br

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Livro das mil e uma noites, volume I: ramo sírio. 2ª ed, SP, Globo, 2005, 424 pp., R$ 55,00

Obs.: os preços de livros que divulgo são os de valor máximo.  Mas se você buscar o livro sugerido no Buscapé, por exemplo, vai encontrar um exemplar novo, às vezes, com preços bem mais acessíveis. 

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