domingo, 15 de março de 2015

Confissões de uma máscara

  
Mishima narra em primeira pessoa a história de um jovem narcisista dividido entre a paixão platônica por rapazes e o amor frágil por uma jovem durante a idade adulta, até o final da segunda guerra mundial. Quando criança, o narrador morou com os pais na casa dos avós em condições precárias, pois o avô, comerciante promissor perdera quase tudo indo todos morar em uma casa alugada nos arredores de Tóquio, onde o menino nascera. O avô assume a educação do garoto, mesmo quando seus pais se mudam. Desde pequeno mostrou-se uma criança frágil de saúde. Um dia, quando vinha caminhando para casa de mão dada a alguém, viu um jovem carregando baldes de excrementos . Trazia um pano sujo enrolado em torno da testa. Seu rosto era bonito e corado. Era um limpador de fossas e vestia uma calça justa de algodão azul-marinho. Ainda que não pudesse perceber com clareza à época, pois tinha cinco anos, o menino havia recebido a revelação alegórica de uma força que se manifestava pela primeira vez na figura daquele limpador de fossas. O que lhe chamava, compreendeu mais tarde,  era o amor malevolente dos que se atraem por seus iguais: queria ser ele, queria ser  o outro. A imagem do jovem com sua calça justa azul-marinho movendo com perfeição seu corpo da cintura para baixo levou-o a adorar de forma inexplicável essa vestimenta, embora não entendesse bem por quê.  Mais tarde esses mesmos sentimentos passaram a se manifestar por jovens de outras profissões, onde o corpo do outro formava inconscientemente o desejo pelos iguais.

Na escola, teve alguns namorados platônicos, jovens que fugiam aos padrões normais de jovens estudiosos, mais velhos que ele. Mais tarde, quando jovem, vai  à casa de um desses "namorados" e conhece uma jovem adolescente frágil e delicada, que lhe impulsiona um outro tipo de atração, diferentemente da atração física: Monoko. A história dos dois vai até o final do romance, onde os dois não ficam juntos, pois o jovem não consegue definir claramente o que sente por ela. Paralelamente a isso, a presença da morte sempre lhe fez companhia também desde a infância. Durante a segunda guerra consegue insistentemente ingressar no serviço militar. Quando a guerra acaba o Japão imerge na miséria e a depressão passa a se manifestar nesse jovem sofredor e narcisista.

Conhecendo um pouco da vida de Mishima, percebe-se claramente traços autobiográficos no perfil do personagem atormentado de Confissões de uma máscara. Inconformado com o processo de ocidentalização do Japão após a segunda guerra, onde muitos de seus valores culturais foram subjugados à cultura ocidental, Mishima cria um movimento de contestação buscando preservar valores da cultura ancestral japonesa. Acabou cometendo suicídio durante um ritual previamente traçado como forma de protesto.

Tradução do japonês de Jaqueline Nabeta

               paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Yukio Mishima. Confissões de uma máscara. SP, Cia. das Letras, 2004, 200 pp. De 29 a 37 reais.

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